NATAL - 73
Industrializaram a criança
que nasceu para salvar o mundo.
Dela fizeram mercadoria sagrada
anunciada pelos profetas
das novidades artificiais.
Prometida ao povo
manipulada pela propaganda.
Vendida pelos sacerdotes
do poder econômico.
Consumida religiosamente
por algumas bocas de nome,
sem fome,
à vista de milhões de bocas de fome,
sem nome.
A esperança dos Povos
passa pelos computadores,
é racionada por eia dúzia de "grandes"
habita nas missões espaciais,
na ciência da guerra,
na tecnologia da dominação,
na sociedade do consumo,
nos mitos da era eletrônica
no petróleo do Oriente Médio
e na exploração teleguiada
do subsolo da América Latina.
A Paz é monopólio
dos Senhores da guerra
que partem e repartem a terra,
como se corta um bolo de aniversário,
e fazem dos destino dos homens
experiência de laboratório
nos campos de batalha do Oriente
- mercado de indústria armamentista
e na dominação multiforme
dos campos de fome do Terceiro Mundo.
Mas as rádios
estão repletas de canção de amor
em todos os idiomas,
inclusive o português.
E o noticiário enfatiza
que o (p.n.b. em ascensão
é o milagre do século.
(só não dizem em benefício de quem).
Industrializaram a criança
que nasceu para salvar o mundo.
Natal é tempo de comer bem
é noite de Reveillon
é hora de vender mais
é chance de exploração
ao som da "Noite Feliz".
Passou a ser folclore
a história da Salvação.
Será Natal uma só noite?
Será Natal aquela festa
que olha só o passado
de uma criança que nasceu
entre animais, num estábulo?
Será Natal o inventado
pela imaginação econômica
que "enlatou"Jesus Cristo
prá vender à prestação?
Ninguém aceita a criança
prá chegar.
E Maria deu à luz
a salvação.
Só aceita pelo abandono
e pelo silêncio dos pobres.
Jesus Cristo
é um Redentor diferente
dos que têm aparecido.
Nasce fora dos palácios
dos poderosos do mundo.
Longe das armas
que matam prá dominar.
Longe da exploração
que domina prá reinar.
Longe da religião
que anestesia prá converter.
Irmão de todos os marginalizados do mundo.
O Natal não é só Cristo.
O Natal não é só Belém.
O Natal não é a comercialização de Deus.
O Natal sou eu, você, todos nós,
um povo andando
sem armas
mas com a idéia.
Sem poder,
mas com coragem.
Sem caminho,
mas com um rumo certo.
Sem passado, mas com um futuro.
Sem voz, mas crendo em sua vez.
Sem nome,
mas com a história.
......................................................
Nos olhos de quem penetra
o fundo das coisas opacas
provocando o impossível horizonte,
tu vês...
Nos lábios de quem beija
a boca insaciável
à procura
de ternura e comunhão
tu amas...
Nas mãos de quem trabalha
e tenta reinventar
a criação que irrompe
e desafia a coragem
do homem e da mulher
para repartir a vida,
tu crias...
Na voz de quem anuncia
o grito sufocado
dos pobres e oprimidos,
em ritmo de esperança
tu cantas...
Na luta dos que se unem
prá defender sem medo,
o direito de viver
e de conviver no amor
tu salvas...
No caminhar da gente
que busca terra e pão
e não perdeu a fé
de cultivar a paz,
nos roçados de justiça,
tu vais...
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