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sexta-feira, 29 de julho de 2011

DOM BOSCO:UM MENINO DIFERENTE

UM PROFETA E SEU PROJETO

Antenor de  Andrade Silva
Joãozinho Bosco (1815-1888), desde cedo, foi um menino diferente, não só entre os irmãos, mas no meio dos colegas. Inteligente, estudioso e temente a Deus, sua maneira de ser e agir se impunha naturalmente sobre os demais colegas que o respeitavam e tinham como líder. A mãe logo que soube das intenções do filho quanto ao futuro, tentou incentivá-lo. Seu caçula desejava ser padre, um
sacerdote que não conhecesse apenas o prédio de sua igreja e o sacristão, nem andasse de olhos sisudos, sempre dirigidos para o chão, como quem tinha medo do mundo e dos homens. Não lhe interessava ser um homem hermeticamente fechado em seu hábito de monge. Queria ser alguém que não impusesse medo aos meninos e jovens, se aproximasse deles como amigo para ajudá-los em suas dificuldades materiais e espirituais.
 medida que conhecia melhor a situação em que se encontrava a juventude aumentava a angústia do jovem Bosco começou. Novel sacerdote, quanta tristeza não sentia ao observar
P. Antenor de Andrade Silva, sdb.
1tantos jovens destruídos física e moralmente, ainda nos primeiros anos de idade. Aquela situação degradante e aviltante atingia profundamente os sentimentos e o coração do padre Bosco. Tornou-se de tal modo impressionado pelas cenas que via todos os dias, que resolveu dedicar toda sua vida à causa da juventude pobre e abandonada. O relacionamento que tentaria construir com os moços basear-se-ia na aproximação, no diálogo, na preocupação constantes, tentando compreendê-los em seus problemas.
Perambulavam ou se acotovelavam nas imediações de Porta Palazzo, um dos bairros de Turim camelôs ambulantes, vendedores de fósforos, engraxates, limpa-chaminés, moços encarregados de cocheiras, distribuidores de volantes, carregadores, todos pobres meninos que sobreviviam daqueles magros negócios.
O ajuntamento de rapazes e trabalhadores adultos, gerava nas cidades o problema demográfico das massas humanas, impulsionadas pelo início da industrialização, o novo motor da história que viria transformar com sua tecnologia revolucionária o ritmo da sociedade universal.
Pouco a pouco o filho de Margarida Occhiena conscientizava-se que tinha sido chamado por Deus para cumprir uma missão especial no meio da juventude. Sua vida passou a ser dominada pela incessante presença do divino. «Nele era profunda e constante a consciência de ser instrumento do Senhor para uma missão singularíssima».
A existência do futuro santo de Turim foi realmente uma total doação àqueles que ele chamava a parte mais frágil da humanidade. Até ao final de seus dias, cumpriu inexoravelmente o propósito de se consumir por eles. Nos últimos anos tornara-se muito difícil confessar, dado o cansaço que o acometia, a falta de forças que toda uma vida de esforços constantes lhe consumira. Uma ocasião em 1886, seu médico sugeriu ao secretário particular, Pe. Carlos Viglietti (1864-1915) que lhe dissesse que parasse um pouco. Ele, rindo responde: «Êh, meu caro, se ao menos não confesso os jovens, que farei então? Prometi a Deus que até o meu último respiro seria para meus pobres jovens».

domingo, 24 de julho de 2011

ÁRVORE DA FAMÍLIA SALESIANA

D. Bosco inspirou um vasto movimento de pessoas que de diversas maneiras trabalham favor da juventude.
Fundou não só a Sociedade de S. Francisco de Sales (Salesianos de D. Bosco, SDB), como também o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora e a Associação dos Salesianos Cooperadores.
Incluindo estes e outros que apareceram em outras partes do mundo, a Família Salesiana tem hoje 23 grupos oficialmente reconhecidos com um total de 402.500 membros.
Estes grupos vivem em comunhão recíproca, partilham o mesmo espírito e com vocações especificamente diversas continuam a missão que ele iniciou. 
O carisma de D. Bosco continua a inspirar pessoas de boa vontade. Existem atualmente outros 27 grupos, que procuram ingressarem como membros da Família Salesiana. Home > Famiglia Salesiana

FATOS QUE MARCARAM A VIDA DE DOM BOSCO

AS FONTES DA HISTÓRIA PRIMITIVA DA CONGREGAÇÃO DE D. BOSCO

Pe. Antenor de Andrade, sdb.


Entre as fontes diversas e multiformes que nos oferecem abundantes e ricos conhecimentos sobre a história primitiva ou atual da Congregação dos Salesianos estão sem dúvida os fatos ocorridos com D. Bosco, durante seus setenta e três anos de existência. Por serem um marco importante na sua vida e obra indicaremos desde logo três episódios muito conhecidos. Estes fatos ajudam a entender melhor a vida espiritual e apostólica do santo. São eles:
• O sonho dos “nove anos”.
• O encontro com Bartolomeu Garelli.
• A Carta de Roma (10/05/1884).
Na biografia de João Melchior Bosco narram-se uma série de sonhos. O primeiro destes fenômenos aconteceu quando ele era ainda uma criança. Tinha nove anos e se encontra em meio a diversos meninos que faziam algazarra e blasfemavam. Ouvindo as blasfêmias o pequeno João parte para a luta corporal com aqueles pobre moleques, tentando fazer com que se calassem. Naquele momento aparece um homem bem vestido e de rosto resplandecente, que ao observar a pancadaria, aproxima-se de Bosco e lhe diz que não era com pancadas, mas com mansidão e carinho que ele conseguiria fazer daqueles jovens seus amigos.
Há discussões se estes acontecimentos seriam realmente sonhos ou visões. D. Bosco mesmo não nos deixou muito clara a idéia de ter compreendido plenamente o valor daqueles eventos. Não obstante, aquele fato permaneceu profundamente gravado em sua mente, durante toda a vida. Jamais os esqueceu e deixou de dar-lhes atenção, sobretudo porque em certas ocasiões funcionaram como premonição, informando sobre a morte próxima de algum aluno ou mesmo salesiano. 
O carinho, a caridade e a mansidão apresentados pelo homem venerando e de aspecto varonil, personagem do sonho dos nove anos foi aceito por D. Bosco como um dos tripés da práxis pedagógica, de seu Sistema Preventivo, ou pedagogia do ambiente.
A Senhora majestosa e resplandecente que juntamente com a figura masculina esteve presente durante aquele sonho-visão tornou-se a conselheira diuturna, a Mãe e Mestra da obra salesiana em favor dos jovens. Ela “indicou a D. Bosco seu campo de ação entre os jovens e constantemente o guiou e sustentou , na fundação da nossa Sociedade. 
• Bartolomeu Garelli, o Oratório e a Congregação Salesiana

Outro marco indelével de sua vida apostólica está no encontro com o jovem camponês analfabeto, Bartolomeu Garelli. O diálogo aconteceu na sacristia da Igreja de São Francisco de Sales, em Turim, aos oito de dezembro de 1841. Celebrava-se então a festa da Imaculada Conceição. Naquela data e naquela sacristia nascia o primeiro Oratório Salesiano, hoje difundido por todo o mundo pelos filhos do amigo dos jovens. Após a Missa, D. Bosco realizou a primeira reunião de sua futura Sociedade religiosa. Começou com uma Ave Maria e um adolescente que aos 16 anos não sabia fazer o sinal da Cruz. 
Os salesianos consideram o encontro com Garelli como o início da Sociedade. Plantava-se ali a pedra fundamental da Congregação dos jovens. Com uma Ave Maria o santo piemontês dava início ao «movimento de pessoas que de vários modos trabalhariam para a salvação da juventude». 
Uma sacristia tornava-se o símbolo da pesca milagrosa das águas da Galiléia. Dois Mestres: Jesus, o de Simão Pedro e Bosco, o de Bartolomeu Garelli. Tanto o Pastor da Galiléia, como o das colinas dos Becchi precisariam de colaboradores. Assim o foi no episódio das águas do Tiberíades, assim seria na sacristia turinesa, imagem e início do mar bosquiano. 
O Oratório, casa, pátio, Igreja e escola, lugares catequéticos para D. Bosco, tornou-se seara e instrumento de salvação da juventude. Hoje continua sendo um abrigo para todos os Garelli, que perambulam tristes nas ruas, praças, botecos, pontes, canteiros de obras ou em cárceres . É o lar que acolhe, o refúgio dos que precisam de uma «sacristia», onde deverão encontrar um padre amigo e não um sacristão violento e mal humorado.
O Oratório salesiano consolida-se em 1842, acolhendo inicialmente só os jovens mais perigosos, especialmente os saídos das prisões. Posteriormente vamos encontrar entre eles rapazes de boa conduta e instruídos. Ajudavam na disciplina e na moralidade, nas leituras e cânticos das funções litúrgicas. Chamavam-se os “maestrini”, pequenos mestres e deveriam mais tarde, integrar o «grupo de estudantes» de onde surgiriam colaboradores mais preparados e até salesianos. 
Os primeiros oratorianos eram em geral escultores, pedreiros, assentadores de ladrilhos, estucadores. Trabalhavam nas obras de Turim. A partir de 1842, o setor construção começou a apresentar grande surto na cidade. À medida que o grupo dos moços aumentava, fazia-se necessário estabelecer um corpo de normas administrativas e disciplinares, a fim de que não se tornasse um aglomerado desordenado e indisciplinado. D. Bosco começou assim a preparar um Regulamento para aqueles jovens. Consultou diversos outros Regulamentos de Oratórios como As Regras do Oratório de S. Luís, de Milão e As Regras para os Filhos do Oratório.
Um dos cuidados principais era deixar claro o objetivo de seu trabalho educativo com a juventude , a salvação de suas almas o da mihi animas. Tratava-se do início da sistematização do organismo que iria ser a sua Congregação, uma “Sociedade que não nasceu de simples projeto humano, mas por iniciativa de Deus”. 

• A Carta de Roma

Estamos na Primavera de 1884. D. Bosco está em Roma, preocupado com diversos problemas:
a) A construção da Igreja do Sagrado Coração (próxima da enorme Estação Termini) exige grandes somas que ele tem que conseguir através de pedidos e doações;
b) O pensamento de conseguir um Estatuto jurídico para sua Congregação não lhe sai da mente.
c) Uma de suas constantes preocupações era o desejo de estabilizar e dar unidade às suas obras e concretizar o estilo de educação, próprio de seu sistema preventivo.
d) Todas estas dificuldade tiram-lhe o sono e robustez e ele o sabe e sente, face ao crescente estado de debilidade de sua saúde.

É nesta atmosfera que vem a lume a Carta de Roma escrita aos jovens e educadores de Valdocco, a quem ele chama de Caríssimos filhos em Jesus Cristo.
Figuras de proa da Congregação, como Pe., Álbera, sdb (1845-1921) e Pietro Stella referiram-se a este documento afirmando que é “o comentário mais autêntico do Sistema Preventivo” (Dom Álbera). P. Stella escreveu que “o seu conteúdo é de se considerar como um dos mais ricos documentos pedagógicos de D. Bosco”.
Ao refletirmos sobre o hino da caridade, composto por S. Paulo e a Carta de Roma, creio que não estaremos equivocados se dissermos como Gianni Ghiglione que D. Bosco fez quase um comentário perfeitamente educativo ao hino de S. Paulo. Para Joseph Aubry a Carta é como um testamento. Deve ser encarado com seriedade, pois o que um testamento pede deve ser cumprido.
Pe. Bartolomeu Fascie, sdb (1861-1937) quando Conselheiro escolástico, em uma apresentação sobre o texto escrevia:
«O senhor nos dê a graça de lê-la com filial e devota atenção para extrair dela aquele fruto de verdadeira caridade que é alma e vida do Sistema preventivo». 

• O sentimento de paternidade na Carta de Roma

Amar e ser amado são dos sentimentos mais nobres do coração do homem, materializados na paternidade e na filiação. Não faz muito houve quem tentasse eliminar as características existentes entre filiação e paternidade. Freud anunciou “a morte do pai”, procurando anular desautorizar a autoridade.

Algumas denominações ou características de pais:
a) O pai cultural> os professores.
b) O pai político> a coronelança, triste fenômeno ainda hoje encontradiço no Brasil.
c) O pai capitalista> os patrões.
d) O pai biológico> os genitores.
e) O pai religioso> os padres.
f) O Pai de todos os pais> Deus.

A missiva de D. Bosco trata de um tema que hoje se tenta renovar, reconquistar. E também neste ponto está sua atualidade. Os nossos tempos procuram redescobrir a figura paterna, sente-se a necessidade de sua presença. Muito embora tantos genitores vivam separados, ou por motivos vários (emprego, viagens de negócio etc.) se encontrem com os filhos apenas nos finais de semana; não obstante, o pai de nossos dias não é mais visto como alguém a ser removido do caminho dos filhos e sim uma figura necessária para a formação e educação da prole. Alguém vizinho ao filho em quem ele confie, imite e tenha como ídolo.
Não se pode negar que uma das características da personalidade de D. Bosco era até que a perda do pai aos dois anos veio reforçar este sentimento, tão explícito e notório que a Igreja o chama de Pai e Mestre dos jovens. Sua bondade paterna não pode ser separada de seu estilo educativo.
O educador dos jovens de Turim soube ser para eles um pai bondoso, terno e ao mesmo tempo firme. Corrigia-os, amando-os com um ilimitado sentido de responsabilidade e dedicação. Não se cansava de estar com eles, não reclamava. Estava sempre alegre mesmo quando sua enorme resistência ao trabalho encontrava-se combalida pela enfermidade. Somente se ausentou fisicamente dos seus jovens quando por eles deu seu último suspiro. Amou-os até o fim, seguindo o exemplo do mártir do Gólgota de quem foi perfeito imitador. Basta que sejais jovens para que eu vos ame e pense sempre em vós.