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segunda-feira, 21 de maio de 2012

JESUS, MARIA E O VINHO NOVO DO CASAMENTO DE CANÁ


CANÁ E O VINHO NOVO

 (Homilia do Pe. Antenor de Andrade na festa de N. Sra. Auxiliadora. S. Nicolau, SP, 25/05/2012).

O Evangelho nos diz que Jesus começou seus milagres em Caná da Galiléia, manifestou sua glória e seus discípulos creram n`Ele
Em Caná temos uma nova Epifania de Jesus: Ele já havia se manifestado aos Magos e a João Batista no Jordão. Entre uma e outra dessas manifestações, passaram-se trinta anos. Muitos o viram durante esse tempo, mas Ele não se manifestou a todos,  não se mostrou quem era realmente.
Nesta noite, gostaria de refletir sobre o matrimônio de Cana sem abordar seus aspectos espirituais ou místicos, com sejam o eucarístico e o batismal.
Jesus e sua Mãe deviam ser parentes ou amigos íntimos da família. Não parece que Nsa. Senhora fosse uma simples convidada, mas alguém que tinha ido para dar uma mãozinha, para que as coisas saíssem bem. Fazia pouco tempo que Jesus tinha sido batizado por João e como estivesse pregando naqueles entornos foi também  convidado com os seus poucos discípulos.
A festa normalmente durava oito dias. Durante as comemorações faltou vinho. Seria um problema humilhante para os esposos e grande decepção para os convidados. Os dias mais felizes do jovem casal estavam perigando a se tornarem os momentos mais  decepcionantes.
Maria, a Mãe que tudo vê, percebeu o problema e logo se dirige ao Filho dizendo: não tem mais vinho. Jesus resistiu um pouco, mas  operou o milagre, transformando a água em vinho. Diz um poeta que a água, ao ver o seu Deus, mudou de cor, ficou vermelha. A presença de Maria e de seu Filho fez com que a alegria dos esposos e convidados pudesse continuar.
O acontecimento de Cana  tem sentido  emblemático, simbólico. O vinho representa o amor entre o esposo e a esposa. A falta de vinho seria decepcionante. Poderia ser interpretada como falta de amor entre os dois jovens.

Que lição podemos tirar desse episódio?

-                     O ocorrido em Cana, o imprevisto, pode acontecer em qualquer  matrimônio;
-                     O casal começa sua vida matrimonial entusiasmado, feliz. Nada mais existe no mundo a não ser os dois;
-                     De repente, algo de errado começa a pintar;
-                     O vinho, o símbolo da alegria e do amor recíproco começa a faltar;
-                     O clima de felicidade,  o  céu, com o passar dos dias e dos anos vão desaparecendo, em meio a nuvens sombrias e angustiantes.
Todo sentimento humano, justamente porque ser humano, tende a exaurir-se, a desaparecer com o tempo. A repetição, o hábito, a falta de novidade podem trazer a frieza, o tédio e acabarem com o amor conjugal. “ O hábito  é um monstro que desce sobre a família como uma nuvem  de tristeza e angustia” (Shakespeare).
Nestas condições, acabou-se o vinho e o casal não tem mais nada a oferecer àqueles que foram convidados para as bodas: os filhos. Eles só observam em seus genitores a canseira, a frieza recíproca e até mesmo uma amarga desilusão.

Como esta situação poderia ser consertada?

Este sofrimento, este calvário desapareceriam se o casal convidasse os personagens presentes nas bodas de Caná: Jesus e sua Mãe. Eles poderiam trazer um novo vinho,  quando o entusiasmo, a atração física, as novidades, o amor dos primeiros meses ou anos de noivado começassem a desaquecer. Ofereceriam um vinho melhor que o primeiro. Um novo amor conjugal menos efervescente e fogoso que o juvenil, por vezes quase irracional. Porém um amor mais profundo e duradouro, mais compreensivo,  solidário e capaz do perdão mútuo e constante. Um amor que permanecendo conjugal torna-se tb evangélico, mais cristão, voltado para o próximo.
Que significa convidar Jesus para o matrimônio?

A primeira coisa é reconhecer que o casamento não é simplesmente um acontecimento privado entre um homem e uma mulher.
Em segundo lugar deve-se aceitar o casamento como uma vocação, um chamado divino para realizar na terra o próprio  destino.
Finalmente reconhecer que esta vocação, este chamado vem de Deus que dá ao casal as forças necessárias para realizar sua missão.

Matrimônio: Sacramento e Carisma

O matrimônio é um Sacramento, mas é tb um Carisma, isto é: um dom, um talento para desempenho de uma missão. Neste sentido o matrimônio deve ser vivido em   ótica escatológica, isto é, com um olhar voltado para o futuro.
São Paulo nos lembra que o tempo é breve. Ele se refere ao tempo concedido por Deus aos homens para que eles trabalhem, preparem sua salvação, através da fé.
Uma dimensão essencial do viver humano e cristão é por conseguinte a transitoriedade, o caráter provisório de nossa existência terena. Somos peregrinos, romeiros, forasteiros nesta terra. Cidadãos caminhando para um outro mundo, aspirantes de uma nova pátria.
A palavra paróquia originalmente significa peregrinação. Vivemos como os hebreus quando deixaram o Egito. A Carta aos Hebreus nos lembra que não temos aqui embaixo uma cidade estável, mas procuramos aquela futura (Heb. 13,14). É portando nesta perspectiva carismática, escatológica, nesta ótica de futuro, que o matrimônio deve ser vivido. Deste modo, o sacramento terá outro significado, sua existência será uma doação de um para com o outro.
Diariamente o esposo perguntará a si mesmo: será que há alguma coisa que deveria ter feito por minha esposa e não o fiz. Enquanto que ela fará para si, idêntica interrogação. Neste clima, não obstante as dificuldades, viverão na alegria, seguindo o preceito evangélico do é melhor dar que receber.
Não se pode esquecer que na vivência matrimonial a força para cumpri-la vem do mesmo Doador do carisma que é o E. Santo. Ele é a Luz, a Força, o Vinho Novo dos esposos cristãos. Ele é o Amor Eterno que sabe ensinar a amar e a doar-se no amor.
É ele que une os casais desanimados, decepcionados com o próprio matrimônio, desapaixonados e aborrecidos que vivem por anos o terrível divórcio do coração. Lembremos que Deus é amor e é fiel. Ele pode fazer voltar o clima, o encanto dos primeiros tempos, aquela graça que fazia dos dois uma só carne, um só espírito.
A Eucaristia é o Sacramento do Amor, da União, da eterna Aliança. Que  a  sua força ajude a todos os esposos cristãos a renovarem aquela aliança de amor que um dia selaram diante do altar. E assim, possam caminhar inseparáveis, na alegria e na felicidade dos primeiros tempos ajudando-se e amando-se mutuamente até alcançarem a Fonte do Amor Eterno.

ASSIM SEJA.


2 comentários:

  1. Nunca tinha analisado a passagem bíblica na perspectiva apresentada. Gostei demais do texto. Tenho certeza que muitos casais que vivem divorciados do coração, serão tocados com a mensagem. Parabéns!!! Quisera está na assembléia e assistir a pregação ao vivo!

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  2. Esse comentário está muito bacana. Também, nunca tinha escutado uma homilia com essa interpretação do texto bíblico que trata do casamento de Caná. Hoje precisa mesmo que seja tocado o coração dos casais, pois o divorcio de coração (esse termo é muito apropriado a atualidade)está aumentando muito. Necessário que se faça uma reflexão urgente e os façam pensar no compromisso da família que assumiram perante Deus.

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