PENTECOSTES
[Uma reflexão catequética
sobre o Espírito Santo]. P. Antenor de Andrade. Tomei como base um estudo do Frei Raniero
Cantalamessa.
Pentecostes é uma festa da
Igreja Católica Apostólica Romana que acontece 50 dias após a Ressurreição do
Senhor Jesus. Para nós significa também entre outras coisas a descida do
Espírito Santo sobre os Apóstolos e nossa Senhora, reunidos no Cenáculo.
Sabemos que existe o
Espírito Santo, mas conhecemos realmente quem Ele é?
História humana e história da salvação
Há quem tenha dito que a
história humana tem sido conduzida pela violência. Uma visão histórica através
dos séculos mostra que as mudanças realmente significativas foram realizadas
através das guerras, revoluções, rios de sangue e morte.
No princípio Deus criou o céu e a terra (Gen 1, 1ss).
Antes de tudo ser criado
existia o Caos.
Eis que o “Espírito de Deus”
aparece e com seu Sopro Criador fez surgir do Caos a luz, separou-a das trevas,
criou os mundos, o universo. Tudo ordenado, sincronizado, harmônico. O que
começou a existir através do Sopro divino sem discussão nem brigas procurou seu
devido lugar: as águas e os peixes; as plantas e a terra, os astros e o
universo. Deus amou sua obra, a mais inteligente, grandiosa e bela até hoje
existente.
Deus disse: “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”.
Chegou um momento em que o
Deus achou que seu mundo estava preparado para receber o Rei do Universo: o
homem, um ser feito à sua imagem e semelhança. Uma criatura diferente de todas.
Uma espécie realmente especial. (Gen 1, 26).
Inicialmente o homem foi
moldado sujeito às leis da evolução encerradas na matéria. O novo ser, diferente,
impar estava era guiado pelo
instinto, isto é, ainda não possuía a luz da razão.
Novamente aparece o Espírito de Deus
A misteriosa realidade que
pousava inicialmente sobre as águas primitivas, o espírito de Deus sopra sobre
o hominídeo e ele se torna homem. A criatura animal se torna também um ser espiritual,
livre e racional. E aqui apareceu também o perigo. A nova espécie capaz de
conversar e dialogar com seu Criador, de ser seu amigo, ganhou uma prerrogativa,
uma característica formidável e altamente explosiva: a capacidade de rebelar-se
contra seuDeus.
O homem volta-se contra seu Criador, mudando seu plano inicial
Entre ser amigo e tornar-se inimigo
de Deus, o homem escolheu a segunda opção, revoltou-se e pecou. A ruptura
profunda e geral criou um abismo intransponível, uma dissonância
interminável entre Criador e
Criatura. Caminhando com seus passos e de costas para seu benfeitor o homem
produziu tal poluição no mundo que ao longo do caminhar da história mudou a
fisionomia da humanidade e da terra. Deus que havia amado sua obra arrependeu-se
de tê-la criado (cf Gen. 6,7).
O Espírito Santo e a Nova Criação
Deus reforma o homem, como
um artista reforma sua estátua corroída, modificada pelo tempo. Um Novo Adão
substitui o Velho Adão, apagando o mal feito do primeiro. Surge uma nova
criação e uma nova humanidade embasada em Jesus Cristo. Assim Deus-Amor não
abandona o homem e conserta sua criação.
Fundamental foi papel do Espírito Santo nesta mudança, nesta metánoia. O
Novo Adão foi plasmado por Deus, através de seu Espírito ( cf Mt 1, 18), no
seio de uma Virgem, chamada Maria de Nazaré. É o início de uma nova etapa e uma
nova criação na história da humanidade (cf Lc 1, 35).
Jesus Cristo e o Espírito Santo
Além de nascer por obra e
graça do E. Santo toda a vida de Jesus Cristo se desenrolou sob a égide da
Terceira Pessoa da
Santíssima Trindade. No batismo do Jordão, Cristo
foi ungido em Espírito e poder (At 10, 38). Essa unção era necessária para que
Ele pudesse levar a Boa Nova aos pobres, realizar todas os seus prodígios entre
os doentes, perseguidos, pobres,
viúvas.
Jesus é conduzido pelo
Espírito, mas ao mesmo tempo é seu revelador. Através d`Ele passamos a
compreender melhor o papel e a posição da Terceira Pessoa Trinitária. Ela não
é só uma força divina, mas faz
parte da Santíssima Trindade, uma
Pessoa em Deus. São João nos fala
de várias outras tarefas do E. Santo: será enviado aos discípulos, levá-los-á à
verdade total, condenará o mundo...(cf Jo 14-16).
Uma Igreja entocada, desnorteada e medrosa
Jesus ao deixar a terra é
glorificado à direita do Pai. A Igreja formada por onze Apóstolos e algumas
dezenas de discípulos refugiava-se temerosa sem saber o que fazer, pois ainda
não tinha compreendido a ordem do Mestre: “ ide e ensinai a todos os povos”. Ela
era um espécie de corpo inanimado e sem ação, lembrando a figura do primeiro
homem, quando o Criador ainda não havia insuflado nele o Sopro do Espírito.
Pentecostes, um novo mundo, um novo homem
O dia de Pentecostes
assinala o nascimento deste novo mundo e deste novo homem. Na ocasião aconteceu
um daqueles fenômenos que transformam a história sem violência, sem sangue nem
mortes.
A descida do Espírito Santo
sobre os Apóstolos produz uma nova Epifania (manifestação) de Deus e oferece
mais uma prova de seu Amor para com as criaturas sua imagem e semelhança.
Trata-se de um daqueles acontecimentos extraordinários e pacíficos presentes em
todos os grandes inícios da história.
“Recebei o Espírito Santo”,
disse Jesus (Jo 20, 22) aos Apóstolos, discípulos e a Maria que rezava juntos
com eles. Aqueles homens tímidos como coelhos ou camundongo transformaram-se
então, em intrépidos missionários, divulgadores da Mensagem de seu Mestre. Um
novo mundo de esperança, dedicação e amizade se iniciava e invadiria todos os Paralelos
e Meridianos da terra. A força e a coragem do Espírito de Deus tomara conta
daquela pequena grei que logo escancarou as portas e partiu para realizar o
mandato do ensinai a todas as nações. A Igreja de Jesus Cristo invadiu o mundo
impulsionada pelo seu Espírito.
Pentecostes é o Natal da
Igreja. A presença de Maria no Cenáculo, onde nasceu a Igreja combativa e
intemerata nos leva a uma ligação entre seu nascimento e o de Jesus. Maria, a
Mãe de Jesus torna-se também a Mãe da Igreja.
O E. Santo ensina aos homens a linguagem do amor e da união
Pentecostes é o antídoto do
que aconteceu na Torre de Babel. Os
homens se rebelaram contra Deus e terminaram não se entendendo entre si.
Separaram-se uns dos outros. O episódio das línguas (At 2, 4) indica que algo
de novo havia acontecido. Após a descida do E. Santo os Apóstolos começaram a
pregar em uma misteriosa nova língua. Falam o próprio idioma, mas eram
compreendidos pelas diferentes raças que se encontravam em Jerusalém naqueles
dias: partos, helamitas, gregos, romanos. Todos aqueles povos entendiam a
língua dos Apóstolos como se fosse a própria.
Fenômenos do Espírito Santo,
Fenômenos de Deus. A união, a compreensão, o amor foram um dos primeiros frutos
do episódio do dia Pentecostes. A amizade entre os primeiros cristãos chamou
logo a atenção dos pagãos e muitos se converteram com o exemplo que observavam.
Era a nova linguagem aprendida em Pentecostes: a língua do Amor, da união e da
paz ensinada pelo Espírito, impressa por Ele nos corações ( Rom 5,5). “O
Espírito do Senhor encheu o universo, Ele que tudo une conhece todas as
línguas”.
O Espírito Santo faz com que a Igreja compreenda todos os povos
Ainda hoje a Igreja é capaz
de entender todas as gentes. Ela compreende e valoriza a cultura e o patrimônio
de todas as raças e todos os povos, procurando renovar a face da terra. Na
Missa de Pentecostes rezamos com o salmo responsorial: “Enviai o vosso
Espírito, Senhor e renovai toda a face da terra...Se retiras teu Espírito tuas
obras perecem e voltam para o pó de onde vieram”.
Invoquemos hoje e sempre o
Espírito de reconciliação, de unidade e de paz sobre nós e sobre todo o mundo.
No batismo Ele começa nossa historia pessoal de salvação. Se quisermos poderemos
viver a nova vida que o Espírito de Deus nos oferece em Cristo e na Igreja.
Todos os dias devemos
invocá-Lo: Vinde Espírito Santo enchei os
corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo de vosso Amor.
Que mensagem linda. Gostei muito do texto, muito esclarecedor sobre o Espirito Santo. Todos os seus textos são ótimos!!!
ResponderExcluirOntem fui a Missa, dia de Pentecostes. Gostei da homilia do padre, porém a sua explicação sobre o Espírito Santo está bem melhor. A síntese feita no momento da homilia, muitas vezes não esclarece bem o que se pretende passar da mensagem. As reflexões feitas e postadas em Salesianidade são muito boas.
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