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terça-feira, 20 de março de 2012

Seminário americano sobre História Salesiana em Minas Gerais (texto em português)


“O estado da historiografia salesiana na região.
Conservação e valorização do patrimônio cultural”.

                                           ACSSA                                      texto 2
SEMINÁRIO CONTINENTAL SOBRE
A CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
DOCUMENTAL

HISTORIOGRAFIA SALESIANA NA AMÉRICA

R.P.Dr. Thelian Argeo Corona Cortés sdb
Reitor da Universidade Salesiana da Bolívia
La Paz, Bolívia, Março de 2012

O presente ano 2012 dedicado ao “ Dom Bosco História”, à reconstrução e releitura de sua vida, de suas realizações, de seu pensamento, de sua mentalidade e de sua cultura, abre-nos porta para contemplar a Historiografia Salesiana em  nosso Continente AMÉRICA, descobrindo o valor, o significado, a transcendência de sua figura, continuada nos salesianos, em suas obras, na encarnação concreta de seu carisma neste continente. É neste contexto, onde adquirem um importante significado o estudo referente as PESSOAS e ás OBRAS contidas nas fontes historiográficas, os documentos, cartas, escritos, publicações, crônicas das coisas que manifestam a ressonância de Dom Bosco, enquanto vivo até 1888, e posteriormente a rica documentação que se gerou ao redor da realidade salesiana.Todos estes documentos gradualmente expressam reação da sociedade ante a inserção e penetração dos salesianos em cada ambiente, assim como a identificação com as causas populares e as circunstâncias históricas que vieram vivendo aos longo dos anos, em cada trecho da história local, nacional, continental e mundial. É aqui onde adquirem um relevo muito importante as reações e comentários da opinião pública, em muitas ocasiões expressado em artigos de jornais, em pronunciamentos oficiais, em reações de aceitação ou crítica que tem caracterizado as diversas situações em  que Dom Bosco e seu carisma têm se implantado e desenvolvido.
A convocação ao presente Seminário Continental sobre “historiografia salesiana” é a ocasião para nos adentrarmos em uma reflexão motivadora para conhecer e valorizar as experiências, os esforços e compromissos que com diferente intensidade e eficácia se realizaram e se realizam em todas as nações onde se encontra implantado o carisma salesiano na América. É a hora de constatar as investigações documentadas, com critérios históricos, fruto de uma busca de documentos, submetidos a rigorosa análise histórica, com uma hermenêutica interpretativa objetiva e fundamentada.
Nosso Seminário Americano ACSSA se pergunta:
Qual é a panorâmica atual da história salesiana na América? Como se registrou, conversou, publicou, como se fez a recopilação da documentação respectiva e como foi posta À disposição de investigadores? Qual foi a incidência no âmbito civil, religioso, cultural? Quais são os projetos para suscitar novos historiadores interessados em preservar e enriquecer a história salesiana no continente?
O interesse de todos os participantes do Seminário requer uma maior visualização que nos permita ver, em seu conjunto, o trajeto evolutivo ao longo do tempo e no contexto em que criou raízes o carisma salesiano e o que fazer relativamente à História do Carisma Salesiano na América.
Estamos conscientes de que os participantes deste Seminário somos Salesianos. Filhas de Maria Auxiliadora, assim como leigos e membros da Família Salesiana que representamos toda a América. Cada um de nós interessados em constatar e verificar o tratamento histórico que foi dado ao acervo enorme da documentação historiográfica sobre Dom Bosco e sobre o carisma salesiano em nosso continente. Queremos aproveitar para por em comum e intercambiar a diversa experiência de quem dedicou longos anos à investigação histórica para incentivar aqueles que se iniciam neste  promissório campo de investigação histórica salesiana. Todos  queremos contemplar o quadro da História Salesiana na América, e oportunamente produzir o compromisso para preservar,  copiar novamente  e valorizar toda a documentação historiográfica que fundamente a futura redação da história salesiana do tempo que agora nos toca a viver e que reflete a encarnação e a transcendência do carisma de Dom Bosco em nosso Continente.

1.     A HISTORIOGRAFIA SALESIANA DESDE SUAS ORIGENS

 A historiografia salesiana remonta ao ano 1860 quando os jovens salesianos que viviam com Dom Bosco começaram a recolher informações  do que viam e ouviam com a convicção de que estava acontecendo algo totalmente extraordinário entre eles. Seus escritos são de diferentes naturezas: crônicas e memórias escritas quando sucediam os feitos e quando com testemunhos os reconstruíam. Estavam convencidos, os primeiros salesianos, que constituindo um comitê se dedicariam a escrever e guardar as primeiras memórias de Dom Bosco e sua obra, entendendo que colaboravam a transmitir a realização dos sinais claros de assistência sobrenatural que envolviam  o Oratório no que viam um futuro glorioso de expansão.

Temos a obrigação de não deixar no esquecimento nada que se refere a Dom Bosco. Devemos, portanto, fazer todo o possível para guardar estes feitos para a posteridade, de modo que, algum dia, como muitas lanternas reluzentes, possam  iluminar o mundo todo para a salvação dos jovens1.

Existe uma ampla documentação com a qual se inicia a história da Congregação Salesiana vinculada indiscutivelmente com a mesma vida de Dom Bosco2. Constam os nomes dos cronistas e o ASC guarda todos os cadernos de natureza diversa que foram aproveitados intensamente por Don Juan Bautista Lemoyne quem, desde 1864, realiza a meritória e extraordinária tarefa de recolher, classificar e, a seu tempo, utilizar como base de sua monumental obra:  as Memórias Biográficas de Don Bosco, das quais escreve os primeiros 9 volumes entre 1898 e 19173. Tenhamos presente que todo o material historiográfico o recolheu em 45 volumes, impressos em uma só cópia para uso privado, compreendendo todo o extenso material que o conduziu a sua classificação e se converteu no valioso tesouro para redação das Memórias de Dom Bosco4.
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  1. Croniche II, Ruffino,1, em ASC A008s: Cronichette, Ruffino, FDB 1, 211 A10. Cf. Bem VI, 651.
  2. LENTI J. Arthur, Don Bosco, Historia y Carisma 1, Origen: de I Becchi a Valdocco ( 1815 – 1849) Editorial CCS, Madrid 2010. Juan José Bartolomé y Jesús Graciliano Gonzáles ( editores). Cfr. Visión global de lãs fuentes sobre Don Bosco, PP.17-34.
  3. Documentos para escrever a história de Dom Bosco, do Oratório de São Francisco de Sales e da Congregação Salesiana 45 volumes impressos em uma só cópia em Sam Benigno Canaverse e Turim, Valdocco, desde 1885.
  4.  Memória Biográfica de Dom Bosco, San Benigno Canaverse e Turim;  I-IX (1898-1917) por GB LEMOYNE; X(1939), por Angel AMEDEI; XI-XIX (1930 -1939), por Eugenio CERIA, Edición espanhola:: Memórias Bibliográficas de São João Bosco – Volumes I-XX, Madrid, Editorial.



2.     A HISTORIOGRAFIA SALESIANA DESDE 1875, ANO DA PRIMEIRA EXPEDIÇÃO MISSIONÁRIA À ARGENTINA

A história do Carisma salesiano na América se inicia com a experiência motivadora e animadora que significou para a nascente Congregação Salesiana sua expansão às Américas, como motivo da Primeira expedição Missionária de 1875. É o momento em que se entrelaçam acontecimentos da história da Argentina, à  qual haviam emigrado milhares de famílias italianas em busca de melhores condições de vida, com o ideal missionário de Dom Bosco, que requeria uma plataforma inicial, onde se encarnasse. Situação que conjuga sua preocupação pela salvação dos nativos indígenas que habitam a extensão interminável e inexplorada do Pampa Argentino, com a necessidade de acompanhar os inumeráveis emigrantes italianos chegados à Argentina. Consta toda a documentação historiográfica que permitiu reconstruir a História desta verdadeira epopéia de encarnação do carisma salesiano na América.
A expressão salesiana se encontra amplamente evidenciada em toda a documentação prévia à primeira expedição missionária. Conta-se que a riqueza do amplo Episcopado de Dom Bosco onde foram cuidadosamente recolhidas e editadas criticamente as cartas, com o estudo de seus destinatários, circunstâncias, ambiente e enquadramento histórico5. Inumeráveis documentos permitiram a reconstrução das complicadas tramitações que fez Dom Bosco com os patrocinadores da expedição missionária, com as autoridades eclesiásticas em Buenos Aires, com a Santa Sé e as autoridades civis que favoreceram a instalação dos salesianos na Argentina. Das crônicas de Valdocco, dos relatos dos participantes da primeira expedição e das subseqüentes se deduz o ambiente de Turim e da Argentina. Estão nos Epistolários e cartas a Dom Bosco e cartas de Dom Bosco o impacto vocacional e a fortaleza que o Padre lhes infunde para viver plenamente a nova experiência que abrirá horizontes à Congregação Salesiana na Argentina e em toda a América, já que rapidamente a obra salesiana se implantaria no Uruguai, no Chile, no Brasil, no Equador e sucessivamente nos demais países.
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5. MOTTO F. EPISTOLARIO

3.     A HISTORIOGRAFIA SALESIANA EM UMA DE SUAS FONTES: O BOLETIM SALESIANO.

É oportuno considerar a importância que Dom Bosco deu em 1877 ao fundar em Turim o Boletim Salesiano como um meio de comunicação mensal dirigido as obras salesianas, a seus destinatários, benfeitores, amigos, cooperadores e a tantos destinatários aos quais lhe interessava oferecer informação sobre os acontecimentos mais significativos e também cotidianos de suas obras. Os salesianos se encontravam já na Argentina e a Dom Bosco lhe preocupava preparar as novas expedições missionárias motivando a seus benfeitores com relatos que se foram publicando no Boletim Salesiano6. Em  vida Dom Bosco, quis dar ao Boletim Salesiano uma relevância primordial , ao grau de identificar sua própria vida com a de sua Obra: O Oratório de Valdocco, que se tornou o paradigma de toda a obra salesiana. Dom Bosco mesmo expressou seus propósitos no primeiro número do Boletim Salesiano de 1877:

“ este se publica para se tornar uma informação das coisas feitas ou por se fazer segundo o propósito da missão salesiana que é o cuidado das almas e o bem da sociedade civil.”7







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6. Boletim Salesiano com a expansão das obras de Dom Bosco no mundo, especialmente depois de sua morte em 1888, o aumento das inspetorias e a criação de regiões com notáveis diferenças culturais e lingüísticas se diversificou e na atualidade existem boletins inspetoriais ou regionais. Na atualidade, o Boletim Salesiano se publica em 56 edições em diferentes regiões do mundo em 29 idiomas, cujos destinatários se encontram em 135 países.
7. Boletim Salesiano, Torino, Agosto de 1877.

 
Nos primeiros anos das fundações na América o Boletim Salesiano refletiu, em pequenas crônicas, as viagens, as fundações, os acontecimentos, os eventos religiosos e civis nos quais participavam os salesianos e que, se tornaram conhecidos evidenciavam sua inserção na sociedade, o apreço por seu trabalho, assim como as perspectivas de seu compromisso missionário. Depois da morte de Dom Bosco, seu sucessor Dom Rúa, a cada início de ano no Boletim Salesiano, oferecia uma carta que resumia o ano terminado e projetava o novo ano fazendo um pormenorizado resumo das funções realizadas e as que estavam por realizar8. Estas sínteses que se conservavam até os anos 60 nos tempos de Dom Ziggiotti, significam uma fonte documental, que a título de resumo, requer ampliar-se e complementar-se a respectiva investigação de outros apoios documentais. O Boletim Salesiano nos tempos de sua fundação e nos seguintes, expressa uma ânsia de comunicar e evidenciar a obra providencial dos salesianos, obra de Deus em mãos humanas, inumeráveis relatos cheios de emotividade e de vida evidenciam o interesse que se pretendia irradiar em todos os países em que se firmara a obra salesiana, motivando, assim, as contribuições generosas de benfeitores que seguiram fazendo possíveis os milagres da Providência. Por sua vez o Boletim Salesiano manifesta o agradecimento aos benfeitores, todos eles chamados Cooperadores Salesianos, nos tempos de Dom Bosco. Outra finalidade manifesta do Boletim Salesiano na América foi suscitar vocações e sobretudo entusiasmar com os relatos missionários.   









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8. Na ocasião do Centenário de Dom Rúa publicou-se um CD sobre Dom Rúa no Boletim Salesiano. Nele se percebe o ardor missionário da Congregação ao resumir cada ano na mensagem de Dom Miguel Rua a toda a Congregação, as realizações, novas fundações, as expedições missionárias, os projetos e necessidades das casas, particularmente as da América, que constituíam a fronteira missionária dos Filhos de Dom Bosco.



O Boletim salesiano em todas as suas edições continua  sendo uma fonte e ponto de referência válido para relatar e entender a difusão universal do carisma salesiano, assim como sua presença nos países. O Boletim salesiano reflete o compromisso pastoral e evangelizador da Família Salesiana no mundo e em nossa América. Do Boletim Salesiano sai a constatação da infinidade de modalidades que Dom Bosco e seu carisma educativo e popular encontra-se estabelecido presente em todos o tipos de obras, em serviços educativos de educação formal, informal, de tempo livre, de educação especial e alternativa, com o leque completo de destinatários, seus níveis de idade, condições e necessidades sociais diversas. É evidente a ampla gama de serviços salesianos abertos à  Evangelização integral na América, à promoção humana, à atenção da saúde, as necessidades especiais de nossos destinatários preferenciais – as crianças mais pobres e abandonadas – a preocupação pela infinidade de fiéis confiados às populares Paróquias salesianas, as Missões Salesianas de extrema necessidade, em ambientes indígenas, em zonas rurais, periféricas, urbanas e nas grandes cidades. Obras que se referem não só a educação e a saúde como também a comunicação social a difusão da boa imprensa. As diferentes edições do Boletim Salesiano, hoje publicado em tantas edições e línguas e difundido em 135 países do mundo, constitui uma fonte documental da vida, da cotidianidade e da ação salesiana que merece ser aproveitada. Igualmente a contínua reflexão do Dicastério de Comunicação Social do Conselho Superior deve continuar tendendo a renová-lo, revitalizá-lo, atualizá-lo e reorientá-lo sempre a fim de que cumpra o ideal que Dom Bosco lhe outorgou desde sua fundação. Uma fonte válida para documentar a ação salesiana e sua repercussão nos contextos culturais e sociais na qual se move a sensibilidade salesiana, hoje.









        
4. A RELEITURA HISTÓRICA DA DOCUMENTAÇÃO SALESIANA E DOS DOCUMENTOS OFICIAIS DA CONGREGAÇÃO, CONFRONTADA COM A DOCUMENTAÇÃO CIVIL.
Um ponto de referência válido na historiografia salesiana o constitui a documentação que serviu a D.Ceria  para a redação de sua obra em  Quatro Volumes Os ANALES da Sociedade Salesiana”9. Nele se refere, de forma pormenorizada, os antecedentes de cada uma das fundações salesianas e sua inserção nas diversas nações da América. É uma documentação que constata o impacto da expansão do carisma salesiano, encontrando-se ainda em  vida Dom Bosco, e depois de sua morte, assim como posteriormente no reitorado de Dom Rúa. Da mesma forma tem um significado muito especial os diferentes epistolários da época, desde a próxima relação epistolar de Dom Bosco com muitos salesianos missionários das primeiras expedições, até a correspondência oficial dos primeiros superiores das missões salesianas, nas quais mesclavam suas situações pessoais, a ressonância dos acontecimentos que viviam na implantação das obras, as dificuldades e circunstâncias que foram se convertendo em decisões para abertura das obras em toda a América, assim como as vicissitudes pelas quais passaram os salesianos para realizar o sonho missionário de Dom Bosco10.  Neste contexto se destaca a visita extraordinária de animação, sobretudo da vida religiosa comunitária, a formação, o serviço de Autoridade e a disciplina religiosa, que D. Albera realiza em todas as comunidades da América em 32 acidentados meses de viagem por todo o continente, de 1900  a 190311.




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9. CERIA EUGENIO, Annali della Societá Salesiana, 4 Volúmenes, SEI,Torino, 1941-1951
10. Tem sido publicados EPISTOLÁRIOS muito representativos dos primeiros missionários, que refletem as dificuldades heróicas em que se viram envolvidos cfr.como exemplo ALIAGA ROJAS Fernando. “ O Chile nas cartas do missionário salesiano Dom Domingos Tomatis”, RSS 33 (1998) 233-268 – Epistolários de D. Vespignani, Card Cagliero, Mons. Costamagna.
11. Paolo ALBERA – Calogeno GUSMANO – “ Carta a Dom Julio Barberis durante visita à casa d´América ( 1900-1903), Introdução, texto crítico e nota a cargo de Brenno CASALI LASROMA, 1998.


Muitos estudos posteriores permitem desentranhar e iluminar esses acontecimentos inicialmente relatados nos documentos oficiais da Congregação até chegar a uma releitura, à distância de um século, de acontecimentos que foram determinantes para as obras salesianas e que na atualidade requerem ser cuidadosamente analisados, à luz igualmente de documentos, para tirar de toda ambigüidade a interpretação da expansão inicial dos salesianos na Patagônia e Terra do Fogo12.
É aqui onde surge a necessidade de contrastar, por exigências da metodologia histórica, as tradicionais fontes de historiografia salesiana, com todos os documentos aos que se possa ter acesso para confrontar com as demais interpretações, opiniões, resenhas e percepções que os mesmos acontecimentos e pessoas se têm. Disso a necessidade de recorrer às principais diretrizes de uso comum pelos historiadores em seu trabalho, que são, em primeiro lugar a heurística ou localização e recopilação  de diversas fontes documentais, que constituem a matéria prima do trabalho do historiador. Um passo seguinte consiste em estabelecer a crítica dessas fontes distinguindo duas formas de crítica e de análise das fontes documentais: crítica externa e crítica interna. Vem ao final da síntese historiográfica, como produto final da historiografia. É o resultado do processo de hermenêutica e interpretação das fontes, que dão posteriormente à publicação, que permite a uma comunidade compartilhar e submeter a debate científico seu trabalho que pode então, ser divulgada, como contribuição histórica13.
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12. Consideramos nessa linha, como um exemplo de releitura, à distância de um século, as investigações atuais de: NICOLETTI Maria Andrea: Indígenas e Missionários na Patagônia. Marcas dos Salesianos na cultura e religiosidade dos povos originários. Da mesma forma Os salesianos e a conquista da Patagônia, desde Dom Bosco até seus primeiros textos escolares e histórias oficiais. Nessa mesma linha (2006) Os missionários salesianos e a polêmica sobre a educação dos Selk´nam da Terra do Fogo. ANTHROPOLOGIA/ANO XXIV, nº 24, dezembro de 2006, PP. 153-157.NICOLETTI Maria Andrea está fixada em Neuquén desde 1989. É professora de História e Doutora em História da América, investigadora, especializada em estudos patagônicos, com várias investigações e publicações sobre história das missões e a educação da Congregação Salesiana na Patagônia.
13. No caso concreto das missões salesianas na Patagônia CRF. NICOLETTI Maria Andrea, ANTHROPOLOGIA/ANO XXIV, nº 24, dezembro de 2006, PP. 153-157, que reconhece...




Esta reflexão foi aplicada nas últimas décadas em toda a documentação relacionada com a consolidação, a expansão, as fundações, não somente nas terras da Argentina, Uruguai, Brasil, Chile, Equador, Dom Bosco ainda vivo, e a extraordinária difusão do carisma salesiano nas demais nações do Continente Americano nas mãos de Dom Rúa. Em cada nação foi diferente o processo e com variantes, mais ou menos profundas, constatamos o interesse dos governos e da sociedade para solicitar a presença salesiana afim de aliviar ancestrais atrasos educativos em setores de população juvenil que requeriam a educação ao trabalho. Esta presença constitui o componente fundamental do carisma salesiano nas proverbiais Escolas de Artes e Ofícios que floresceram e foram o bastião inicial do trabalho salesiano nas nações da América.





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dificuldade para colocar juntas as  coisas que tenham  uma relação mútua, como critérios das fontes da Congregação com a complexa situação em que as mesmas fontes evidenciam os relatos, o posicionamento dos atores, a aceitação e a recusa das ações do exército argentino que inexoravelmente significaram o genocídio indígena. É digno de análise a contraposição entre projetos de Dom Bosco, dos Salesianos Missionários e as realidades que viviam. O acompanhamento dos Salesianos à campanha do General Roca se contradiz com as linhas do  plano de evangelização esboçados por Dom Bosco em seus escritos. Dom Bosco e os primeiros missionários salesianos se deram conta claramente de que as relações violentas entre o exército argentino e os indígenas prejudicavam sua empresa missionária pacificadora e se projeto de Vicariato, não somente porque podiam ser identificados como outro braço violento da usurpação mas porque eliminava seus próprios sujeitos de evangelização: os aborígenes. Suas denúncias genocidas no marco de seu contexto histórico, foram claras e contundentes, mas não descaram outra forma de imposição que entendiam como pacífica: a “civilização” por meio da nova religião. Partindo dessas fontes originárias foi fundamental atender às subseqüentes releituras do feito, incluindo as mais atuais; As memórias biográficas e os Anais da Congregação, os livros escolares salesianos e suas histórias oficiais. Todos eles em maior ou menor medida tenderam a justificar a necessidade da conquista e silenciar as denúncias de violência e genocídio dos missionários protagonistas dos feitos, contradizendo-se inclusive com as mesmas fontes citadas.     
   


Da mesma forma o extraordinário compromisso salesiano em terra de missão para responder à inquietude missionária de Dom Bosco, preocupado com o mundo indígena, tantas vezes descrito por ele, como necessitado com urgência para superar sua situação de selvagens e distanciados de toda cultura e promoção humana, espiritual e cristã, permite agora, à distância de um século, reinterpretar as ações, muitas delas heróicas-  dos missionários que fundaram comunidades, deram a vida a populações, estabeleceram obras de uma relevante importância, que agora podem ser confrontadas, analisadas e julgadas à luz dos frutos e das circunstâncias difíceis pelas quais passaram  os salesianos, que levaram no sangue o grito de Dom Bosco angustiado pelas situações infra-humanas que viviam na Argentina, Uruguai, Brasil, Equador, Paraguai e outras nações do Cone Sul da América.
Assim não sucedeu nas diferentes fundações do México ( 1892) Colômbia, Costa Rica, Peru, Bolívia, Venezuela, Centro América e outras nações, onde o inicial compromisso com os estados foi para fomentar a educação e o trabalho com a juventude operária, a que se atendeu com obras que tiveram muito relevo, com o passar de tempo, no campo das Escolas das Artes e Ofícios.

   
 












5. A HISTORIOGRAFIA SALESIANA VINCULADÀS GRANDES FIGURAS DE SALESIANOS E A RESSONÂNCIA DE SUA AÇÃO.

Outro tanto devemos dizer sobre a abundante literatura biográfica e hagiográfica que foi recolhida, foi conservada e confrontada ao redor da figura de beneméritos salesianos.
Na fundação e expansão das missões salesianas na América, têm particular relevância as realizações, a obra, o pensamento, a mentalidade de grandes figuras de salesianos cuja vida transcendem em suas comunidades e se tornou paradigma do trabalho, e estilo salesiano. Assim podemos considerar as obras, investigações e publicações com outro valor documental que foram realizadas na época do Cardeal Gagliero, do que do que se conservam numerosas cartas manuscritas e valiosos objetos pessoais, assim como várias biografias. Do Coadjutor Carlos CONCI se conserva farta correspondência sobre suas atividades nos sindicatos católicos. De Monsenhor Santiago COSTAMAGNA há valiosa documentação pessoal e manuscrita, objetos pessoais junto a uma abundante correspondência. De P.Alberto M.DE AGOSTINI, grande e profundo investigador, com ampla experiência como geógrafo e explorador na Terra do Fogo no princípio do Século XX, se conserva uma copiosa bibliografia e filmes de 35 mm. Sobre flora,fauna, etnografia da Terra do Fogo e seus habitantes.14
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14. O P. Alberto Maria de AGOSTINI; Viveu e se fixou na Terra do Fogo, onde explorou pela primeira vez picos que se conheciam somente através de mapas e onde descobriu outros, alguns dos quais levam seu nome. Conseguiu chegar ao cume do Monte Olívia, em Ushuaia, Argentina. Também entrou em contato com os indigenas austrais: os selkman, os quais descobriu em várias obras e retratou por meio de numerosas fotografias, os Yámana, alacalufes, tehuelches e araucanos. Fez várias denúncias públicas contra quem cometia crimes contra os aborígenes já que os meninos selkman foram a preocupação principal do P.Alberto Maria de Agostini. Como fotógrafo fez um trabalho exaustivo documentando graficamente paisagens naturais de uma zona quase desconhecida até então, e as naturais do lugar... Como escritor, e em muitos casos, como fotógrafo também , publicou uma vintena de livros; As minhas Viagens na Terra do Fogo – Turin, 1ª Ed. Traduzida do alemão, ao húngaro e ao castelano ( Milan,1929) reeditada muitos anos depois com o nome 30 anos na Terra do Fogo, com dados atualizados e ampliações. Os títulos de suas obras assim o ilustram: Andes patagônicos: viagens de exploração a cordilheira patagônica astral (1945), O Cerro Lanin e seus arredores: Parque Nacional (1941), Paisagens magalhânicos. Itinerários Turísticos. ( Punta Arenas, 1945); Minha primeira expedição ao interior da cordilheira patagônica meridional ( Buenos Aires, 1931) A natureza nos Andes da Patagônia Setentrional. Lagos Nahuel Huapi e Esmeralda ( Turin, 1934).    
Do P. Raul A. ENTRAIGAS há documentos pessoais uma série de pastas sobre a vida do P. Adolfo Tornquist que pensava publicar, microfilmes e gravações de cartas do Arquivo Central de Roma. De Monsenhor José FAGNANO conta-se com extensas crônicas de suas atividades do descobrimento e batismo do “ Lago Fagnano” pelo Contra Almirante Victor Montes, um extrato de seus 56 cadernos e biografias.15 De Monsenhor Luis LASAGNA conserva-se uma caderneta de apontamentos pessoais, documentos que mostram sua atuação no Uruguai; Brasil e Paraguai, tem-se uma extensa biografia escrita pelo P. Juan ER.Belza. Do P. Lorenzo MASSA há uma abundantíssima correspondência  que inclui a fundação do time de futebol  “ San Lorenzo de Almagro”, dos Ginastas e do Corpo dos Exploradores Argentinos de Dom Bosco, assim como suas atividades missionárias. Há uma grande quantidade de material relacionado às Filhas de Maria Auxiliadora e suas atividades missionárias na Argentina. Conta-se com testemunhos e juízos manuscritos das atividades missionárias salesianas na Patagônia Astral, por parte do General Julio A. Roca, de Dom  Rúa e membros do Capítulo Superior conserva-se abundante correspondência manuscrita. Do P. Angel SAVIO conta-se com uma crônica de suas atividades como primeiro salesiano que chegou a Província de Santa Cruz.Do P. Juan ZENONE há uma crônica manuscrita de suas atividades na Terra do Fogo. Do P.José M.BEAUVOIR conta-se com um Dicionário Ona indígena, e com as Memórias de sua atividade missionária na Terra do Fogo e em Santa Cruz. Do P.Ernesto VESPIGNANI há uma ampla correspondência manuscrita, assim como uma série de apontamentos e importantes documentos pessoais sobre suas atividades à frente da Oficina Técnica da Inspetoria. Do P. José VESPIGNANI, conta-se com uma copiosíssima correspondência manuscrita, muitos apontamentos e importantes manuscritos, assim como as Crônicas sobre Las Casas e suas atividades, Conferências e o Catecismo de Monsenhor Aneiros.  
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. Aspectos Geomorfológicos da Cordilheira Patagônica Austral ( Turín, 1939), Ascenção ao Monte São Lourenzo. Excursão à região do Baker ( Buenos Aires, 1945), Dom Bosco Geográfico ( traduzida ao castelhano, no Boletim Salesiano, janeiro de 1960) Guia turístico de Magalhães e canais fuequinos ( 1946), Guia turístico dos lagos austrais argentino e Terra do Fogo
( Buenos Aires, 1945).
15. Cfr.Museo.Fagnano
  

E ao mencionar, entre outros, estes salesianos, devemos dizer que a história salesiana tem sido fundamentalmente escrita por membros da Congregação, já que cada um dos protagonistas tem impresso sua marca na “ epopéia salesiana” das missões na América.
A Escola historiográfica iniciada por Raúl Entraigasaté 193016 e continuada por Pascual Paesa e Juan Belza em 1970, começou a reconstrução da história da obra salesiana na Argentina, com o fim de delinear as origens e o perfil da instituição missionária e educativa. Nesse sentido assistimos a uma “profissionalização” da história salesiana que necessitava não só aplicar metodologias ligadas a própria disciplina, transformando-a em instrumento capaz de articular à mesma Congregação com a construção de um discurso homogêneo e unificador de seu passado referente a histórias biográficas dos primeiros missionários ou ao passado da história dessa mesma instituição.    



6. EXÉRIÊNCIAS E REALIZAÇÕES CONCRETAS DA HISTÓRIA SALESIANA NA AMÉRICA

É oportuno nos referirmos agora, neste Seminário de Historiografia a experiências concretas, que nos permitam evidenciar realizações significativas de releitura histórica em nosso  Continente, assim como constatar a conservação e valorização do patrimônio cultural salesiano que se encerra em uma rica documentação, cuidadosa e zelosamente conservada, catalogada, organizada e aberta aos estudos daqueles a quem corresponde, no presente, continuar este esforço permanente de juntar, recopilação, catalogação, preservação e conservação do rico patrimônio documental que constituirá a base de futuras investigações.  



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16. Raúl Entraigas ( San Javier, Rio Negro 1901 – Buenos Aires, 1977) sacerdote salesiano, teólogo, membro da Academia Nacional de História por Rio Negro, da Junta de História Eclesiástica argentina e Presidente da Junta de Estudos históricos rionegrinos. Escreveu umas 32 obras históricas e biográficas dedicadas a história salesiana.

É estimulante constatar algumas das realizações concretas dos salesianos e inspetorias que se comprometeram e dedicaram recursos humanos para dedicar seu tempo a este significativo trabalho de investigação.

6.1 A Experiência Argentina

Correspondeu ao P. Humberto Baratta sdb a realizar, a partir do ano 1972, a organização do Arquivo Histórico Central Salesiano da Argentina para chegar, em 1975, por ocasião do Centenário das Missões Salesianas, com o sucesso de uma experiência altamente significativa e representativa, para preservar o armazenamento de uma obra volumosa e abundante quantidade de documentação, que em seu conjunto constitui um acervo documental dotado de inapreciável valor histórico e patrimonial para o carisma salesiano implantado na América e sobretudo na Argentina. É o mais eloqüente testemunho que evidencia um louvável esforço para a fundação e a organização do arquivo que concentra todo o material das Inspetorias Salesianas da Província de Buenos Aires, da Patagônia e das Ilhas Malvinas.
Como motivação que subtendida na convocação do presente Seminário Continental sobre Historiografia Salesiana na América, é oportuno que nos detenhamos a contemplar esta experiência como um paradigma de organização no qual o critério e estratégia de “ respeitar a procedência do material e a ordem cronológica” de toda a documentação recopilada se conseguiu um ambicioso objetivo. O P. Humberto Baratta sdb reuniu no Arquivo Histórico Central da Argentina, um riquíssimo repositório de centenas de milhares de documentos ordenados por títulos, outorgando a cada um número chave, um número de ordem cronológica, com indicação de procedência e uma breve síntese de seu conteúdo. Desde modo ficaram à disposição do estudioso, de forma clara, sistemática e veloz, diversos tipos de documentos,a saber, papéis, fotografias, mapas, gravações, transparências que se referem ao trabalho de evangelização realizado pela família de Dom Bosco na Argentina17.
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17.Criou-se o ARQUIVO propriamente dito, completando-o com duas seções; um MUSEO histórico e uma BIBLIOTECA de obras salesianas. Desde sua fundação em 1975, o Arquivo foi construído em um ponto histórico de referência documental e é constantemente freqüentado  por estudiosos, investigadores, universitários e grupos de pessoas que desejam interiorizar-se de seu funcionamento e aproveitar seu rico material.

Neste contexto aparece a figura de Dom Cayetano Bruno e sua obra histórica18. Sua obra fundamental foi A História da Igreja na Argentina , em 12 volumes, publicados ao longo de 15 anos nos quais o prestigiado historiador salesiano cuidou dos aspectos metodológicos e temáticos que consideram vitais no itinerário da igreja Argentina desde o final de século XVI até nossos dias. Nesta visão global da história se inscreve a relevante importância que adquiriu a inserção do carisma salesiano na Argentina , principalmente na zona astral da Patagônia e terra do fogo. Um trabalho laborioso, minuncioso e paciente. Investigador com um rigor histórico tal, que passou horas e horas examinando documentos originais em diferentes lugares: desde o Arquivo Secreto do Vaticano ao Arquivo Geral da nação Argentina em Buenos Aires, passando pelo arquivo de Índias em Sevilha. Suas fontes foram cuidadosamente confrontadas com o Arquivo da Companhia de Jesus , em Roma, e o Arquivo Histórico Nacional, em Madri. Outras de suas obras foram O direito público da igreja nas Índias  (Salamanca, 1967) Los salesianos y las hijas  de Maria Auxiliadora na Argentina , editado em 4 volumes entre 1981 e 1988, El aborigen americano en la recopilación de las leyes de Índias
(  Buenos Aires) aspectos metodológicos e temáticos que o autor considerou vitais no itinerário da Igreja Argentina desde o século XVI  até nossos dias.

6.2. A experiência do Equador

A criação do recente Arquivo Histórico Inspetoria do Equador representa um precioso patrimônio espiritual, cultural e histórico para a Inspetoria, a Congregação, a Igreja e mesmo a nação civil. Criado com a expressa finalidade de salvaguardar e difundir os testemunhos da história das diferentes etapas da sociedade Salesiana no Equador, nas áreas cultural, social e científica19. Dotada de locais amplos e apropriados, compreende seções de arquivo, assim como uma biblioteca Salesiana especializada e uma seção de revistas nacionais e internacionais 20. Podemos avaliar a importância e a transcendência cultural dos salesianos, contemplando a Editorial Abya Yala que pode ser considerada uma das maiores produtoras de Ciências Sociais na América Latina. No Equador, as publicações de Abya-Yala concentram os 70% da produção editorial do país. Hoje, seu catálogo alcança mais de 1.600 títulos que incluem cerca de 4.500 artigos, com 2.000 autores publicados, 320 deles indígenas21. É digno de menção o trabalho do P. Juan Botasso, do P. Pedro Creamer, do P. Guerreiro Antônio , como historiadores e guardiões dos tesouros de documentação que guarda a obra salesiana no Equador e sua vinculação com o mundo Shuar e o proverbial vicariato de Méndez e Gualaquiza, vinculado diretamente com o incansável Monsenhor Santiago Costamagna.

6.3 A experiência do Brasil

Por ocasião do 125º aniversário da presença salesiana no Brasil, em 18 de julho, 2008, os salesianos da Inspetoria "Maria Auxiliadora" de São Paulo ( SP) no Brasil, iniciaram o projeto de um "Museu de História Salesiana no Brasil" para ser executado no "Liceu Coração de Jesus", segunda casa salesiana fundada no Brasil depois da de Santa Rosa de Niterói, estado do Rio de Janeiro. Coube ao inspetor Don Marco Biaggi dar início ao projeto do museu , com a aprovação do Conselho Geral. Don Mario Quilici, arquivista da Inspetoria fez ver a importância histórica e o valor de algumas relíquias significativas que estariam no museu. Esta obra se une ao esforço dos científicos que, na Universidade Católica Dom Bosco sustentam o Museu das Culturas Dom Bosco de Campo Grande
(MS) O museu foi concebido como um espaço dinâmico, pedagógico e moderno que facilitará o descobrimento da história e os valores salesianos no desenvolvimento da sociedade brasileira. O Museu da História Salesiana no Brasil formaria parte da rede de museus salesianos presentes em vários nações. O estudioso e investigador salesiano Dom Antonio Ferreira da Silva foi perseverante em suas importantes publicações em RSS, dos quais resenhamos no anexo deste trabalho o resgato documental de 22 investigações, que permitem a reconstrução histórico-crítica da fundação, das obras e missões salesianas no Brasil, vinculadas as do Uruguai e Argentina.

6.4 Aexperiência do Paraguai    

A dedicação e tenacidade com as quais o P. Carlos Heyn Schupp ha se dedicado à investigação histórica da obra salesiana no Paraguai, a partir de sua dependência jurídica do Uruguai até os anos 60, nos permitiu conta, até o presente, com 15 livros e opúsculos sobre a história dos salesianos no Paraguai, desde os antecedentes ligados a Dom Bosco, a intervenção de Monsenhor Luis Lasagna, a fundação em 1896 e o desenvolvimento da grande extensão da região missionária do Chaco Paraguaio.

6.5. A experiência do México

Desde o primeiro encontro de alguns seminaristas mexicanos com Dom Bosco em Roma, por ocasião da consagração da Basílica do Sagrado Coração, em 1887, se inicia a história salesiana no México. História caracterizada por situações políticas e sociais determinantes, em que os salesianos sofreram desterros, explosão de estrangeiros, por ocasião da Revolução Mexicana, 1910, a sangrenta perseguição religiosa e a guerra dos cristeros ( 1926-1929) a ( supressão) e incantação ( incantación) de todas as obras salesianas ( 1934). Estas circunstâncias providenciais criaram uma irradiação carismática e interação entre as obras salesianas das Antilhas: Cuba e República Dominicana, assim como as obras do oeste da USA, as obras do Centro América – principalmente El Salvador e Nicarágua – para onde emigraram os salesianos por ocasião da expulsão e fechamento de obras. Este fundo histórico deu pé a um amplo e consciente estudo e investigação, que teve como protagonistas ao historiador e arquivista Jorge Garibay Alvarez, assim como o P. Francisco Castellanos, que teve a seu cargo por vários anos a direção do ASC em Roma. Em 1984, por ocasião da construção de uma réplica da casinha de Dom Bosco em I Becchi e uma adjunta casa se Salesianidade na obra de Coacalco, deu-se início a um projeto: CIDOSA, centro Interinspetorial de Documentação salesiana, ao qual o P. Thelian Argeo Corona dedicou energias muito prometedoras para reunir todas as publicações, documentos, material histórico do México Salesiano. O projeto avançou , até o momento em que as casas de formação de Coacalco foram mudadas de lugar e todo o material foi dispersado em diferentes obras salesianas da Inspetoria do México22. Por ocasião dos 60 anos dos Sdb no México, dos 70 anos em que se realizou a divisão de inspetorias, dos 80 anos e do centenário, foram feitas publicações de valor histórico, que confrontam a vida salesiana com a história e o vir a ser do México. De igual maneira se possui um rico patrimônio documental sobre a Prelatura salesiana dos Mixes em Oaxaca, confiada aos salesianos desde 1963, como também as obras de fronteira que a Inspetoria de Guadalajara empreendeu desde 1988, nas golpeadas zonas fronteiriças dos 3.000 Km, onde México e USA23 colidem.

6.6. A experiência da Colômbia

Particular relevo adquire a história salesiana na Colômbia com o proverbial compromisso, desde os inícios, com a saúde dos enfermos de lepra a providencial fundação das Filhas dos Sagrados Corações por D. Variara, as vicissitudes e situações que deram o passo, ao longo dos anos, às florescentes obras salesianas, cheias de compromisso com os setores mais desprotegidos da sociedade, assim como nas Missões de Ariri. De tudo isso se conserva um rico patrimônio documental que a través de investigações e publicações nos introduzem na leitura crítica dos acontecimentos e seus protagonistas.

6.7. A experiência da Venezuela  

Abre espaços a uma ampla investigação documental inerente aos setores salesianos de trabalho apostólico, obras educativas, missões no Alto Orenoco, com relevantes figuras no Episcopado, a incidência eclesial do Cardeal José Rosalio Castillo Lara e o cardeal Ignacio Velasco, a fundação das Damas Salesianas e realizações muito concretas no campo educativo e assistencial na Venezuela24.

6.8  A experiência da América Central

Inspetoria que soube reconstruir e valorizar com importante documentação os cem anos de história salesiana em El Salvador, em Costa Rica no Panamá, em 1907, com a indescritível devoção popular a Dom Bosco , - o santo dos Panamenhos- em Nicarágua, Honduras e Guatemala , com os difíceis condições das Missões de Carchá . Grandes figuras de Episcopado tiveram uma importância decisiva na história destas nações. O cardeal Miguel Obando e Bravo em Nicarágua , o atual cardeal de Honduras, Oscar Rodriguez Madariaga, Monsenhor Arturo Rivera e Damas nos conflitos sociais de El Salvador , a fundação das filhas do Divino Salvador por Monsenhor Pedro Arnaldo Aparício.

6.9. Os museus salesianos na América

Somente enumeramos ao final desta resenha sobre a Historiografia Salesiana na América, entre muitos, alguns dos Museus e arquivos que foram recolhidos em suas salas, o acervo de uma riqueza aberta, a ser estudada e investigada, já que desde as primeiras viagens dos missionários à Itália foram fazendo agrupamento de espécimes e documentação valiosa para reconstruir situações, estilos de vida, usos, costumes, tradições ancestrais, que tiveram uma evolução evidente e notória, em seu encontro com a ação salesiana. Assim mesmo nos grandes centros de missão na Argentina, Chile, Brasil e Equador  se deu muita importância à difusão cultural da obra salesiana através de importantes museus.
Museu regional salesiano Maggiorino Borgatello. Punta Arenas – Chile.
●Museo di storia naturale Don Bosco, Torino- Valsalice.
 ●Museo etnológico missionario dell Colle Don Bosco- Asti.
Museo salesiano de Fortín Mercedes- Bahia Blanca, Argentina.
●O museu da missão salesiana de Mato Grosso. Em Campo Grande a serviço da comunidade.
●Archivo Histórico de las Hijas de Maria Auxiliadora , Buenos Aires ( AHHMA).
● Archivo Histórico de las Misiones Salesianas de la Patagonia Norte, Bahia Blanca
( AHMSPN).
 ●Museo de las culturas Don Bosco de Campo Grande ( MS).
●Museo de la historia salesiana en Brasil ( SP).  
●Archivo Histórico Inspectorial del Ecuador.
●El museo salesiano " Vicente Rasetto" ubicado en los ambientes del colegio salesiano de Huancayo- Peru.

7. Conclusões
Na programação deste Seminário Continental sobre o estado e a situação da conservação e valorização do patrimônio cultural da historiografia salesiana na América, estão previstos tempos para a exposição de cada uma das situações, que vivem hoje nossas Inspetorias neste campo. Haverá espaço, pois, para socializar e valorizar, motivar e fomentar o trabalho científico destinado a investigações e publicações pertinentes. É a razão pela qual não nos alongamos sobre o meritório trabalho que se tem realizado e se sabe nas demais nações que cada um de seus representantes nos ilustrara: Uruguai, Chile, Peru, Bolívia, Colômbia, Antilhas e Estados Unidos.
Nossa exposição nos conduziu a considerar a história do carisma salesiano na América que  remonta e se confunde em seus inícios, com a fundação , consolidação e expansão da Congregação Salesiana, vinculada essencialmente à vida e figura de Dom Bosco. A documentação que vincula os protagonistas da fundação às expedições missionárias, realizadas em vida de Dom Bosco e posteriormente a sua morte, nos faz entender seu tempo, seu temperamento , sua total adesão a Dom Bosco, a consciência de assumir seu carisma, suas preocupações e ânsias missionárias, a formação de pioneiros, essencialmente unida à experiência de " estar com Dom Bosco" e ter vivido no Oratório de Valdocco. Trata-se, pois, de uma historiografia documentada, na qual predomina a expontaneidade, que gradualmente vai dando um passo para a sistematicidade da recopilação e à analise da respectiva documentação.

Salta aos olhos a importância da reconstrução histórica objetiva de acontecimentos, personagens e circunstâncias relacionadas com a presença salesiana em nosso continente, a partir da confrontação, da complementação e da luz que nos vem da documentação paralela, urgida por ocasião dos acontecimento. Isto nos conduz a efetuar uma verificação da produção historiográfica salesiana, tendo presente, simultaneamente a historiografia civil e eclesiástica. Sentimo-nos estimulados a empreender com novos impulsos as investigações realizadas com uma adequada metodologia de trabalho histórico que seja cientificamente válido. Nosso encontro Continental se constitui e desemboca em um convite para realizar, com decisão, um reiterado esforço para reunir, conservar, preservar, organizar, catalogar a documentação que nos permita no futuro realizar um perfil biográfico de salesianos e pessoas relevantes ligadas às nossas obras, já que a história civil, a opinião pública, o vem a ser histórico podem nos ajudar a reinterpretar ou acomodar no justo valor histórico, a percepção e convicção da importância de nossa presença salesiana25. Sob essa perspectiva é importante por em relevo a oportunidade de reunir manuscritos, escritos, publicações, cartas, crônicas, memórias, entrevistas, fotos, anuários, documentos referentes a pessoas e obras, resenhas sobre atividades relevantes, significativas, celebrações especiais, aniversários, acontecimentos que tenham chamado a atenção da imprensa local ou nacional. Lembro a propósito a imagem utilizada por São Francisco de Sale, quando fala da " abelhinha que extrai o pólen das flores, voando sobre elas sem destruí-las e o transforma em doce mel".

Nossa participação neste importante evento abre-nos o caminho para uma troca de experiências  neste campo tão enriquecidos.  Juntos devemos chegar a perceber a urgência de contar, o quanto antes, com um guia que – como um " manual do arquivista salesiano" – poderá ajudar a conservação da memória salesiana com uma atenção especial para incorporar as novas tecnologias que se encontram em contínuo desenvolvimento.

O seminário pretende promover e estimular uma nova mentalidade histórica, com o compromisso renovado de salvaguardar o rico patrimônio da memória salesiana, como herança referente a Dom Bosco fundador, porém feita, hoje, em épocas diferentes e em contextos históricos totalmente diferentes dos vividos por ele.
Podemos assim concluir, com palavras de nosso querido Dom Juan Edmundo Vecchi, que nos exorta a que

" Cada inspetoria sinta a responsabilidade de estudar, de comunicar a própria história, segundo critérios que poderão ser indicados oportunamente. Para fazer isto são indispensáveis investigações especializadas, mas é também importante aquela atenção diária que se manifesta no cuidado da crônica, a guarda dos arquivos e a conservação da documentação específica "26.     
  





18 P. Cayetano Bruno 1912-2003
19 Conserva importantes documentos históricos, que estão a disposição dos estudiosos e historiadores para trabalhos de pesquisa e para publicações histórias. Documentos de fundação e inspeção do Vicariato, Biografias , Manuscritos, cartas mortuárias e correspondência dos salesianos , documentos culturais , circulares dos superiores, visitas extraordinárias, congressos de história salesiana , atas dos capítulos inspeções , relações com o governo e da igreja , fotografias. 
20 Um  século de presença salesiana no Equador: o processo histórico, 1888-1988. Antônio Guerriero, Pedro Creamer , S,N.,1997,374 pág.
21 ABYA-YALA, término com o que os índios Kuna ( Panamá) denominam de ao continente americano na sua totalidade. O alcance da diversidade institucional , cultural , regional, geográfica e temática da produção da editora ABYA-YALA é tão amplo, que é possível encontrar referências sobre quase todos os povos indígenas do continente e de suas respectivas línguas e culturas.
22 cfr. Boletim salesiano México Março  1984: GARIBAY Jorge O centro inspetorial mexicano de documentação salesiana. Cfr também Boletim Salesiano México Julho 1982, num. 400  p. 28 e SS, 
23 Cfr, entre obras, as biografias dos cinco pioneiros salesianos em México, de Mons. Guilhermo Piani , delegado apostólico nos tempos da negociação da igreja com o governo, e os trabalhos da comissão interinspetorial de História , além de de monografias e outros estudos.
24 Lucas G. Castillo Lara , La raigambre salesiana em Venezuela: cem anos da primeira semeadura volume 167 de biblioteca da Academia Nacional de História: Estudos, monografias e ensaios, 1995, 97 pág.
25 Cfr. Os acontecimentos e personagens salesianos vinculados com o que sempre chamado e considerado " epopéia salesiana" da evangelização humanizadora e da colonização da Patagônia , Terra do fogo, que requere ser lida a luz dos acontecimentos e valorização da história civil da Argentina.
26 P. Juan Vecchi, en ACG 361, pág . 35

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