Gen 15,5-12.17-16
Fl 3, 17-4,1 ou 20-4,1
Lc 9, 28-36
Estamos no
final da “etapa da Galileia”; durante essa etapa, Jesus anunciou a salvação aos
pobres, proclamou a libertação aos cativos, fez os cegos recobrar a vista,
mandou em liberdade os oprimidos, proclamou o tempo da graça do Senhor (cf. Lc
4,16-30). À volta de Jesus já se formou esse grupo dos que acolheram a oferta
da salvação (os discípulos). Testemunhas das palavras e dos gestos libertadores
de Jesus, eles já descobriram que Jesus é o Messias de Deus (cf. Lc 9,18-20).
Também já ouviram dizer que o messianismo de Jesus passa pela cruz (cf. Lc
9,21-22) e que os discípulos de Jesus devem seguir o mesmo caminho de amor e de
entrega da vida (cf. Lc 9,23-26); mas, antes de subirem a Jerusalém para
testemunhar a erupção total da salvação, recebem a revelação do Pai que, no
alto de um monte, atesta que Jesus é o Filho bem amado. Os acontecimentos que
se aproximam ganham, assim, novo sentido.
Para o homem bíblico, o “monte” era o
lugar sagrado por excelência: a meio caminho entre a terra e o céu, era o lugar
ideal para o encontro do homem com o mundo divino. É, portanto, no monte que
Deus Se revela ao homem e lhe apresenta os seus projectos.
MENSAGEM
ACTUALIZAÇÃO
Reflectir a
partir das seguintes linhas:
• O facto
fundamental deste episódio reside na revelação de Jesus como o Filho amado de
Deus, que vai concretizar o plano salvador e libertador do Pai em favor dos
homens através do dom da vida, da entrega total de Si próprio por amor. É dessa
forma que se realiza a nossa passagem da escravidão do egoísmo para a liberdade
do amor. A “transfiguração” anuncia a vida nova que daí nasce, a ressurreição.
• Os três
discípulos que partilham a experiência da transfiguração recusam-se a aceitar
que o triunfo do projecto libertador do Pai passe pelo sofrimento e pela cruz.
Eles só concebem um Deus que Se manifesta no poder, nas honras, nos triunfos; e
não entendem um Deus que Se manifesta no serviço, no amor que se dá. Qual é o
caminho da Igreja de Jesus (e de cada um de nós, em particular): um caminho de
busca de honras, de busca de influências, de promiscuidade com o poder, ou um
caminho de serviço aos mais pobres, de luta pela justiça e pela verdade, de
amor que se faz dom? É no amor e no dom da vida que buscamos a vida nova aqui
anunciada?
• Os
discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem também não ter muita vontade
de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam
todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, mas alheados da realidade
concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar. No
entanto, a experiência de Jesus obriga a continuar a obra que Ele começou e a
“regressar ao mundo” para fazer da vida um dom e uma entrega aos homens nossos
irmãos. A religião não é um “ópio” que nos adormece, mas um compromisso com
Deus que Se faz compromisso de amor com o mundo e com os homens.
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO DA QUARESMA
(adaptadas de “Signes
d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA
MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo
da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la
pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana
para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de
padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…
Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. ARRANJAR
UM TEMPO DE CONTEMPLAÇÃO.
Ao longo da celebração, arranjar um verdadeiro tempo
de contemplação silenciosa (seja depois da homilia, seja depois da comunhão),
um tempo que será introduzido de maneira a ser um “coração a coração” com
Cristo transfigurado, “que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar
semelhante ao seu corpo glorioso” (segunda leitura).
3. ORAÇÃO NA
LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se
prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No final da
primeira leitura:
“Deus de Abraão, Deus de nossos pais na fé, nós Te
reconhecemos como o Pai do Povo inumerável dos crentes, que Tu multiplicaste
como as estrelas do céu e a areia do deserto. Nós Te bendizemos.
Nós Te pedimos
por todos os crentes que se reconhecem filhos de Abraão em diferentes
confissões. Que o teu Espírito nos guie para a unidade”.
No final da
segunda leitura:
“Pai, nós Te damos graças, porque nos nomeaste cidadãos dos
céus e nos deste os modelos de Jesus e dos Apóstolos para nos guiar.
Que o teu
Espírito, pelo seu poder, transforme os nossos pobres corpos à imagem do corpo
glorioso de teu Filho, que esperamos como Salvador. Confirma a nossa
esperança”.
No final do
Evangelho:
“Deus de luz, bendito sejas por estes momentos de oração em cada
domingo. Tu nos transportas sobre a montanha, com Jesus e os discípulos. É bom
estarmos aqui, na tua presença.
Nós Te pedimos: abre o coração e o espírito de
todos os fiéis cristãos à Palavra viva do teu Filho bem-amado, para que o
escutemos”.
4. BILHETE DE
EVANGELHO.
Quando Jesus está em oração, não está só, Deus seu Pai está com Ele.
O monte é o lugar da revelação de Deus e a nuvem é símbolo da sua presença. É,
pois, no momento em que Jesus rezava que Deus Se manifesta, não somente a seu
Filho, mas também aos seus discípulos, e a presença de Moisés e de Elias
recorda a antiga aliança àqueles que vão beneficiar da nova aliança. Ao mesmo
tempo que, no monte Sinai, Deus tinha revelado o seu Nome a Moisés para fazer
sair do Egipto o seu povo escolhido, também na montanha da Transfiguração Deus
dá a identidade de Jesus: “Este é o meu Filho, o meu Eleito”. E aos três
apóstolos, embaixadores de todos aqueles que reconhecerão em Jesus o Filho
bem-amado, Deus pede para O escutar. É antes de ver a nuvem e de ouvir a voz do
Pai que Pedro propõe para erguer três tendas para Jesus, Moisés e Elias, porque
pensa que são apenas três. Será necessário que Deus Se manifeste para que
Pedro, um pouco como Jacob, diga talvez: “Deus estava no monte e eu não sabia!”
Será preciso chegar à manhã de Páscoa, e o dom do Espírito no Pentecostes, para
que ele proclame a sua fé n’Aquele que Deus fez “Senhor e Messias, este Jesus
que crucificaram”.
5. À ESCUTA
DA PALAVRA.
“Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”. A voz vinda da nuvem
pede-nos para escutar Jesus. Prestar atenção ao que o outro diz… Isso nem
sempre é fácil, é necessário estar interiormente disponível ao outro, fazer um
tempo de paragem interior, um tempo de silêncio para poder dar ao outro espaço
para que se possa exprimir. É preciso acolher o que o outro quer dizer-nos, sem
quaisquer preconceitos ou filtros… Todo o diálogo verdadeiro implica tal
escuta, exige uma lenta e paciente aprendizagem do silêncio exterior, mas
sobretudo, o que é ainda mais difícil, do silêncio interior. Hoje, trata-se se
escutar o Filho que Deus escolheu. Ora, Jesus nada diz aos três discípulos.
Entretém-se com Moisés e Elias, que simbolizam a Lei e os Profetas, isto é,
toda a Escritura, toda a Palavra que Deus dirigiu ao seu Povo. A sua única
presença torna-se, de facto, uma palavra em acto. Eles manifestam que toda a
Revelação tem o seu cumprimento em Jesus. É preciso, pois, “escutar o Filho”
porque n’Ele encontramos tudo o que Jesus quer dizer-nos, hoje. Não precisamos
de procurar novas luzes noutros lugares, nas visões ou revelações de várias
espécies… Tudo nos é dado em Jesus. Eis porque colocarmo-nos na escuta da
Palavra que é Jesus é de uma importância capital, se queremos ser
verdadeiramente discípulos de Cristo. É uma das grandes graças do Concílio
Vaticano II haver dado todo o seu lugar à Palavra de Deus, na liturgia e na
vida dos cristãos, uma Palavra a receber pessoalmente e a escutar em Igreja. O
tempo da Quaresma é-nos oferecido, precisamente, como uma ocasião para nos
colocarmos mais na escuta da Palavra de Deus que Se fez carne. Oxalá possamos
aproveitar para aprofundar o nosso silêncio interior, tornando-nos mais atentos
ao que Jesus nos quer dizer, a cada um e a cada uma de entre nós e à nossa
comunidade.
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