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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Bento XVI ( Dos jornais)




Bento desce da cruz
 
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para
todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plan-­
tar, e tempo de arrancar o que se plantou ". - Eclesiastes 3
O tempo de Bento XVI, segundo ele próprio anun-­
ciou (para espanto do mundo inteiro), terminou.
Como era de se esperar, a renúncia provocou uma
onda de especulações - um fenômeno que os elevados
portões do Vaticano, erguidos por dogmas e mitos, sem­-
pre ajudaram a suscitar ao longo de sua história milenar.
Verdade que não é cena comum ver um papa re-
nunciar. Como dizem lá em Roma, "da cruz não se desce".
Bento desceu. E certamente dará munição para
longos e intrincados enredos conspiratórios.
Os Dan Browns de plantão, porém, que me des-­
culpem, mas estão se recusando a enxergar a inequívo-­
ca verdade embutida, do começo ao fim, no discurso de
despedida de Bento: há que ter fôlego para conduzir a
"barca de São Pedro".
Barca que chega ao século 21 cercada por iates
de última geração. E timoneiros com fôlego físico e
financeiro para arrebatar o rebanho católico.
Somente no Brasil, a população católica sofreu
encolhimento da ordem de 12,2% na última década, de
acordo com o Censo 2010 do IBGE.
Pelo menos 1,7 milhões de "ovelhas" pularam o
cercado apostólico romano para cair nas graças das igre­-
jas evangélicas - congregações, movidas por máquinas
azeitadas e "tentáculos" de alcance internacional.
Enquanto a concorrência se movimenta célere, a
maior autoridade da Igreja Católica não tinha mais saúde
sequer para chegar, sozinha, ao altar das celebrações.
Muitos fiéis testemunharam nos últimos anos Bento ser
conduzido por plataformas móveis.
Exatamente como ocorria com seu antecessor.
Ao contrário de Bento, João Paulo II jamais
desceu da cruz. Idoso, doente, portador de mal de Par­-
kinson, Karol Wojtyla se submeteu ao martírio exigido
pelo posto até o fim.
Por que o cardeal Ratzinger tomou rumo diferente?
Porque são papas diferentes, com traçados histó-
ricos, distintos.
O carismátíco João Paulo II sentou no trono máxi-
mo do Vaticano aos 65 anos, jovem para os padrões e com
saúde para construir um dos papadas mais influentes da
história da Igreja.
Percorreu o mundo, osculando e abençoando
os solos dos seis continentes e arrebatando corações e
mentes. Quando não tinha mais saúde para se ajoelhar, já
era um homem santificado.
Diferente dele, Ratzinger foi eleito papa aos 78
anos, se tornando o pontífice mais velho a assumir o
Vaticano nos últimos 700 anos.
Jamais ocupou, nos corações dos fiéis, a vacância
de afeto deixada por João Paulo II. E, ao que parece, se­
quer tentou. Pois já chegou sem vigor para tomar posse
da herança popular de Wojtyla.
Ao se desprender, Bento abre mão de um poder
incalculável, passa por cima da vaidade e surpreende
pelo gesto de humildade.
Também sinaliza ao mundo - como fez seu
antecessor através de sofrimento e dor - o imensurável
peso da cruz.
Roberto Cavalcanti

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