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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

POESIA DO IVAN


DE ONDE E PARA ONDE

Eu venho de dentro das raízes
da terra e do tempo.
Venho das Caravelas de Cabral,
dos porões dos navios negreiros
e do fundo da floresta americana.
Venho das flechas envenenadas
contra todos os invasores.
Venho do grito de libertação de Tiradentes,
do suor e do sangue da insurreição pernambucana,
do sol, da terra e da loucura de Canudos.   
Venho dos verdes mares bravios,
do gibão e do chapéu de couro,
do homem que se irmana com a terra
em dimensão fatal de espera sem esperança.
Venho apenas com a memória
e não com a conciencia
do que fui,
do que sou,
do que serei.
Venho porque nasci,
porque o tempo me empurra
e porque sou feito,
conduzido,
planejado,
sou reduzido a lutador,
sem rumo e sem conquista.
Venho dos roçados e das usinas,
das fazendas, das fábricas e das docas,
das prisões e dos mocambos
e de outras tocas onde nasce
e se esconde e se desintegra a raça.
Só sei que venho
e que vou
porque me dizem que ando.
O que sei mesmo
profundamente,
pesadamente,
lucidamente,
é que estou aí.
vou com os olhos
cheios de horrores azul-verde-amarelo…
E os pés
vazios de caminhos novos
e calçados de rotina
das normas e passos automáticos e ingentes.
Vou com os ouvidos carregados de miragens
de esperança e de paz
e com a língua seca e paralítica
de não poder balbuciar
meu primeiro ato de fé.
Vou anunciando em mim
um povo que vai de pé no chão,
um povo sem voz,
sem existência e sem imagem.
Um povo que nasce no sertão,
no mar e na alma da cidade,
um povo que faz sempre a mesma via que
seguindo sempre a mesma direção
e, quando quer traçar seu próprio rumo,
vai se esbarrar na contramão…
(08 de maio de 1972). 

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