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terça-feira, 30 de agosto de 2011

NAMUNCURÁ, O NETO DO CACIQUE ARAUCÂNIO CALFUCURÁ

3. Severino Namuncurá [VEJA O CLIP, MAIS ABAIXO]
Antenor de Andrade

 [Conservo as notas de pé de páginas, pois são também interessantes].

"Sonhos" missionários de um santo[1]

D. Bosco atribuía algum valor aos seus famosos "sonhos"? Deixemos a resposta com um de seus mais abalizados estudiosos, o Pe. Pedro Stella[2].

«O comportamento de D. Bosco, diante daqueles fatos que ele mesmo chamou de sonhos está ainda em boa parte para ser conhecido e descoberto [...]. Sem dúvida certos sonhos apareciam em seu julgamento, como dons especiais de Deus: certas previsões de mortos, alguns pronunciamentos sobre o futuro de pessoas, de instituições, de nações, ele as tinha originariamente, às vezes, através de um sonho, que para ele era diferente dos outros».[98]

Em 1854, o fundador do Oratório de Valdocco estava para administrar os últimos Sacramentos ao jovem João Cagliero 16, então gravemente enfermo, atingido pela malária. Naquele momento o santo viu, circundando o leito do jovem, «selvagens corpulentos, de aspecto feroz, pele colorida e espessa cabeleira negra».[99]
Dom Bosco não sabia quem eram aqueles estranhos homens e a que tribo ou região pertenciam. Só algum tempo depois, folheando os livros de geografia concluiu que os desconhecidos correspondiam ao tipo dos patagões e fueguinos. O sonho tinha sido uma antevisão da presença e atuação mais tarde do bispo João Cagliero[100] nos desertos da América meridional. Trinta e cinco anos após D. Bosco narrava o acontecimento ao seu missionário patagônico, o jovem outrora derrubado pela malaria, um dos famosos bispos salesianos.
O Gal. Juan Manuel de Rosas, declarado herói nacional argentino, pelo que realizou na desbravação daquelas terras, chamou Dom Cagliero de o «conquistador dos Pampas».
Em 1871 ou ’72, em outro sonho descortinava-se diante do santo turinês uma imensa planície, onde se encontravam grande quantidade de ferozes índios. Aparece na ocasião, um grupo de missionários que são atacados e mortos. Em seguida outras pessoas se aproximam daqueles aborígenes. O santo desconhecia aquela gente e a região que se abria diante de si. Reconhece no entanto, alguns de seus salesianos e teme pela vida dos mesmos. Os selvagens, ao invés, aproximam-se deles e travam amizades com os mesmos.

Quem eram aqueles aborígenes?

Ainda em 1871 D. Bosco, estudando o futuro de sua Congregação, chegou a fazer algumas conclusões, a respeito de suas visões missionárias, das origens e localização dos homens primitivos vistos em sonhos. Em primeiro lugar pensou que fossem habitantes das imediações de Hong-Kong (China), Austrália ou das tribos da Índia. Aqueles nômades guerreiros no entanto, não correspondiam aos que lhe haviam aparecido. Resolveu aguardar que a Providência aclarasse futuramente o mistério.

 Missionários salesianos na Argentina

Em 1875, Dom Aneiros, Arcebispo de Buenos Aires, solicita missionários salesianos para sua terra. Ao estudar a geografia argentina D. Bosco compreendeu que os misteriosos seres belicosos vistos em sonhos eram os Patagônicos. Naquele mesmo ano, no dia 11 de novembro segue para a Argentina o primeiro grupo de missionários, capitaneados pelo jovem sacerdote João Cagliero. Um ano após, o fundador dos Salesianos fala a seus filhos com a convicção do homem de estudos e a tranquilidade do profeta.
Dois anos após chegarem à Capital portenha, Pe. João Cagliero organiza a primeira expedição ao Sul argentino. Não pode efetuá-la, pois foi chamado por D. Bosco a Turim para ser o Diretor Espiritual da Congregação.[101] Em março de 1878, Pe. Tiago Costamagna[102] (1846–1921), outro futuro bispo salesiano, tentou um frustrado desembarque nas costas patagônicas. Durante três dias um medonho temporal, quase afundou o barco dos missionários, fazendo-os retornar ao ponto de partida. Não se afogaram todos por milagre. No ano seguinte o intrépido missionário repete a tentativa desta vez por terra. Mais à frente falaremos desta expedição.

Filhos do deserto

Os primitivos araucânios provinham da parte Leste dos Andes, precisamente da região chamada Araucânia. Ali originara-se uma das mais fortes e destemidas raças indígenas americanas. Possivelmente suas raízes se adentram nos legendários Incas peruanos.

«Robustos, corpulentos, pele roxo-escura. Em seus bustos, fortes como troncos de árvores, encaixavam-se garbosas cabeças de rosto ovalado, coroadas por duas tranças de couro ou de tecido polícromo, toscamente trabalhadas. Olhos pequenos, vivazes e cheios de expressão. O nariz ligeiramente chato. A boca bem delineada e provista de duas fileiras de dentes brancos e iguais. Queixo imberbe e as extremidades curtas e musculosas. Toda pessoa irradiava a audácia e o espírito guerreiro que os impulsionava às empresas mais difíceis e levava-os a odiar qualquer forma de escravidão ou servilismo».[103]

Não cultivavam a terra, alimentando-se do que naturalmente ela lhes oferecia: a caça, o gado, os cavalos selvagens, cuja carne assada era muito consumida. Do guanaco aproveitavam a carne e a pele com que confeccionavam as humildes roupagens e construíam os toldos que serviam de habitação no deserto gelado. O avestruz constituía um dos melhores pratos.
Os araucânios gostavam de se embelezarem com pinturas e tatuagens. Na vida errante e aventureira distraiam-se com músicas e bailes. Bons oradores, cultivavam a oratória que recordava o passado e os tornava indômitos e ferozes diante da perspectiva de lutas iminentes. Dividiam-se em tribos de 10 ou 40 famílias. O Cacique exercia a autoridade especialmente nos tempos de guerra. Em outros momentos, era uma espécie de pai. Havia um Morubixaba geral, eleito por todas as tribos. Representava toda a nação pampa, cuidando do interesse das diversas famílias de ambos os lados da Cordilheira andina.
O cavalo foi o instrumento primordial que permitiu aos araucânios dominar a vastidão patagônica. Aqueles povos não podiam renunciar às planuras pampeiras «sem renunciar a si mesmos». O espírito guerreiro, o amor àquelas terras de horizontes infinitos que lhes favoreciam a vida errante e gostosa lavá-los-iam a combater os inimigos de sua liberdade até às últimas forças e resistências tribais. O exército argentino sofreu sérios reveses.
O sistema de governo do Muruxaua (morubixaba) geral mostra que os pampas, em sua maioria araucanizados, sabiam aproveitar as capacidades e forças individuais e coletivas das diversas tribos. A modalidade fez com que a grande nação araucânia mantivesse aquela independência que a tornou soberanamente orgulhosa, até ser destruída pelos homens comandados pelo Gal. Juan Manuel  de Rosas.

Heróis do deserto

Ao deixar o governo de B. Aires em 1833, J. Manuel de Rosas inicia uma campanha, há muito acalentada. O objetivo era conquistar o deserto. Sua certeza era ainda mais firme, pelo fato de ter feito aliança com algumas tribos antes inimigas.
A expedição foi um triunfo para as tropas argentinas e uma hecatombe para os indígenas. Os pampas não massacrados se entregaram aos esquadrões de cavalaria dos brancos, ou foram perseguidos e empurrados para os cafundós pré-andinos.[104] Ao retornar à Capital, Rosas ganhou o título de herói do deserto. Em 1834 passa a governar toda a nação argentina, iniciando uma ditadura que durou 18 anos (1834 a 1852).
Em 1880, um jornal de B. Aires comparava as campanhas militares contra os índios e a atuação dos missionários de D. Bosco na Argentina. No artigo intitulado: os heróis do deserto, o articulista afirmava que os Salesianos é que deveriam ser considerados os verdadeiros donos deste título.

«Não entendemos com este título glorioso honrar aos que com as armas na mão, penetraram no ano passado, no deserto dos pampas e o conquistaram. Cremos que este título convenha muito mais aos missionários salesianos, que, armados somente com o crucifixo e o breviário, penetraram no deserto com a incruenta vitória da religião e converteram seus habitantes à civilização cristã e ao verdadeiro progresso».[105]

 O flagelo dos pampas

O comandante argentino ao licenciar o exército vencedor, dizia um ano depois aos soldados:

«Vossas espadas destruíram o reino dos índios, castigaram os crimes, vingaram aos ultrajes sofridos durante séculos...! Sóis beneméritos da Pátria»![106]

A realidade porém era bem outra. Os reis dos pampas, cavalgando centauros velozes como o vento, tinham sido dizimados, mas não destruídos. O terror retornaria às planuras patagônicas. Passaram-se apenas algumas décadas, até que Rosas[107] deixasse o poder.
Enquanto o tirano governava em B. Aires, os araucânios preparavam-se silenciosamente no interior de seus toldos ou das gélidas grutas andinas. Apenas caiu o ditador, dos Andes ao Atlântico, através da interminável planura dos pampas, as correrias se repetiram rápidas e fulmíneas como os raios dos temporais patagônicos. Os temíveis araucânios, capitaneados por João Calfucurá[108] auto denominado: General Senhor João Calfucurá, voltam a dominar o deserto. As populações, fogem para as cidades deixando suas posses à mercê dos selvagens. Estes ousadamente avisam em que lua chegariam para realizarem os saques.
Em 1853 as fronteiras índias retornam aos antigos limites antes de Rosas (1833). O governo da Província de B. Aires foi obrigado a um tratado de paz. O vitorioso Calfucurá, imprevisivelmente não usa da prepotência humilhante do vencedor.

«Pediu fumo, assucar, cosméticos, navalhas, violões... e as indispensáveis bebidas alcoólicas, destinadas lamentavelmente a debilitar a raça e apressar a ruína».[109]

Escrevendo aos governadores provinciais, o poderoso Cacique apresentava um discurso cristão. Devia-se esquecer tudo, pois os mortos estavam mortos. O importante era construir-se uma paz duradoura.
Não se sabe se as palavras do General Calfucurá eram sinceras. O fato é que aceitou inesperadamente a soberania argentina sobre os territórios habitados pelas várias tribos, prometendo respeito ao governo. Este por sua vez, deveria reconhecer o direito dos araucânios ocupar os pampas O fato era impressionante, vindo de um selvagem afeito às leis da força e da humilhação ao vencido. Coisa rara, mesmo entre os ditos civilizados.

Novas tempestades sobre as planícies pampeiras

A Constituição de Santa Fé (1853) promulgava as normas que deveriam reger a Confederação argentina. Treze províncias aceitaram, enquanto que B. Aires, a mais rica e povoada província argentina, não querendo igualar-se às demais regiões, recusou as regras estabelecidas em S. Fé. Diante da situação, tentou-se inutilmente um entendimento pacífico.
Em 1859, o chefe da Confederação argentina, General Justo José de Urquiza rompeu com B. Aires. J. Calfucurá, seu aliado, marcha contra os antigos inimigos platinos, à frente de 2.000 araucânios. Inúmeras as fazendas saqueadas. Os ricos latifundiários foram obrigados a pagar pesados impostos, enquanto as violências e mortes se sucediam.
B. Aires foi mais uma vez obrigada a solicitar a paz. Calfucurá acedeu, exigindo ração para sua gente, mantendo sua independência e prometendo não organizar novas rapinas. A situação de beligerância porém continuou por alguns anos. Quando os indígenas eram rechaçados pelas tropas governamentais, Calfucurá parabenizava o governo. Quando ao invés saíam vitoriosos nas rapinas, o chefe araucânio-mapuche exigia sua parte no botim.
Em 1872, um comandante de fronteira infligiu humilhantes tratos a um grupo de índios. O Curaca geral, tentando a desforra lançou seu grito de guerra contra o governo, marchando à frente de 3.500 lanceiros. Os pampas foram inundados de sangue, depredações, incêndios e truculências de todos os tipos.
Chega porém, o dia fatídico para o flagelo dos pampas. O General Rivas consegue interceptar sua retirada. A luta foi titânica e horrivelmente sangrenta. A última que o septuagenário guerreiro da Araucânia manteria contra os brancos. O desastre índio foi irreparável, desfazendo-se naquela ocasião o Império de Salinas Grandes. Um ano depois, o temível chefe índio partia para o reino dos seus mortos.

O sucessor de Calfucurá

Na tentativa de assegurar o destino da raça foi escolhido como sucessor, após certas dificuldades, um dos três filhos do morto. Chamava-se Manuel Namuncurá. Não era fácil substituir o septuagenário Cacique, que chefiara a nação por cerca de 40 anos, dominando uma área que ia dos Andes ao Atlântico.
Um dos primeiros atos do novo Tuxaua geral foi realizar uma confederação com todas as tribos, para enfrentar os cristãos. Nos inícios de 1875, as terras meridionais patagônicas eram novamente batidas por quatro mil ágeis ginetes araucânios. Os frágeis fortins da Província bonairense, espalhados pela fronteira não resistiram a onda indígena que se espalhou formidável e avassaladora pela planura. Tudo se repetiu com ferozes e incontidas represálias.

«Parecia o fim do mundo! No entanto, tratava-se da última e mais violenta erupção de um vulcão que sacode a terra e expande caprichosamente suas labaredas mortais, antes de se extinguir».[110]

A opinião pública criticava o governo de B. Aires exigindo segurança para as fronteiras sulinas, para as populações agrícolas e para as cidades. O Ministro da Guerra, Adolfo Alsina organiza um exército de expedicionários e em 14 de abril de 1876, entra no «baluarte da barbárie», Carhué a principal praça fortificada de Namuncurá.
Deste modo, a Capital retoma o contra ataque, dominando paulatinamente sobre as terras que há mais de três séculos haviam sido ocupadas pelos guerreiros vindos da Araucânia, no outro lado dos Andes. A fuzilaria dos brancos finalmente se sobrepunha aos acobreados centauros patagônicos e suas lanças.
Em novembro de 1878, Catriel, um dos chefes tribais que ao lado do governo havia-se batido contra Namuncurá, entrega-se ao Forte Argentino. Acompanhava-o 150 lanceiros e 370 outros indígenas. Namuncurá orgulhoso representante da raça arauco-pampeira preferiu o refúgio das montanhas andinas. Esperava que se concretizassem os prognósticos dos anciãos e adivinhas da tribo, que preconizavam errôneamente futuras e retumbantes vitórias araucânias.
Tudo ilusão. Também para o filho de Calfucurá se aproximava inexorável a hora da rendição.

 Expedição missionário - castrense

Uma nova expedição[111] composta de militares e alguns missionários, parte de B. Aires em direção a Carhué. Era uma terça-feira de Páscoa. O Comandante General Júlio A. Rocas já era conhecido de outras campanhas militares. Na época os índios da Patagônia estavam sendo dizimados pelos corpos de tropa enviados por B. Aires.
Os sinos da Capital bimbalharam festivos por meia hora, quando da partida dos expedicionários. O mesmo J. Roca desejava que não faltasse assistência religiosa aos soldados. O Vigário Geral, Mons. Mariano Antônio Espinosa ofereceu-se para acompanhar o grupo. Faziam parte do mesmo os salesianos Pe. Santiago Costamagna e Pe. Luís Botta.
As primeiras tribos com quem mantiveram contato foi a dos audazes e belicosos guerreiros araucânios, a quem os missionários ministraram os primeiros rudimentos da fé cristã. Daquela gente descenderia Severino Namuncurá.
Com esta expedição - segundo Pe. Costamagna[112] durou mais de um ano, - inicia-se o cumprimento do sonho de D. Bosco de 1871-1872. As tropas seguem em direção a Bahia Blanca, na margem esquerda do Rio Colorado. Em seguida rumam para Choele Choel, uma fértil ilha do Rio Negro. Através da monotonia do panorama pampeano observam-se dezenas de toldos indígenas, abandonados por seus habitantes na desenfreada fuga para as montanhas. Pe. Costamagna olha aqueles tristes ranchos com suas esgarçadas coberturas tremulando ao vento pampeiro. Seu pensamento fixa-se nos sonhos do mestre em Turim.
Olhares nervosos perscrutam o horizonte na ânsia incontinente de descobrir o vale do Rio Negro, limite entre o Pampa e a Patagônia. Para os militares a caudalosa corrente significava o final de uma excursão fadigosa. Para os missionários a região negrina não era senão os umbrais de uma terra misteriosa, onde a jovem Congregação salesiana haveria de plantar a semente salvífica do Evangelho.
Às vésperas dos grandes festejos marianos de Turim, os expedicionários vêm no horizonte o espelho aquático do flúmen patagônico. A alegria irreprimida de soldados e missionários coroa dois sonhos: o do comandante militar que conquista a terra e o dos missionários que chegam à seara de suas labutas em prol dos habitantes gentios.
Na confluência do Rio Limay com o Neuquen, onde começa o Rio Negro, os homens de Roca se reuniram à Quarta Divisão que descia de Mendonza. O deserto estava finalmente conquistado. A nação aumentava seu território em cerca de 20.000 léguas, aproximadamente 14.000 índios haviam sido submetidos e resgatados 450 cristãos.
A primeira refrega ocorrera aos 25 de novembro, quando foram mortos 29 índios, incluindo uma mocinha de 10 anos e feitos 13 prisioneiros. Os demais patagônicos fugiram, deixando suas malocas. Pe. Castano afirma que «a inútil barbárie soldadesca foi escondida de D. Bosco».[113] Quando posteriormente Dom Fagnano mandou-lhe uma relação sobre os fatos acontecidos entre os soldados e índios, o homem de Deus reagiu imediatamente.

«Quero, exclamou, que os missionários vão só, sem escolta de [soldados] armados! Se não for assim será infrutífera sua pregação. Seria melhor não ir que fazê-lo deste modo».[114]

Pe. Santiago Costamagna, escrevendo a D. Bosco na vigília de seu onomástico, faz acerbas críticas a atuação de alguns comandantes militares em relação aos patagônicos.

«Outros militares, graduados, de coração putrefato, corruptos e corruptores, que não sabem abrir a boca senão para dizer bestialidades e erutar lava imunda se compadecem [dos soldados] e lhes chamam infelizes [...]. Não direi com isto que todos os graduados fossem da mesma farinha. Não. Entre eles existiam bons corações que usavam de todas as atenções e se acercavam de nós, impressionados por verem o desinteresse e a coragem com que tínhamos empreendido esta missão».[115]


 Pe. Domingos Milanésio e o Cacique Manuel Namuncurá

O chefe araucânio não se submeteu às tropas governamentais. Refugiado nos vales andinos continuou de ‘79 a ’83 suas investidas surpresas contra as forças acantonadas à margem direita do Rio Negro.
Um fato no entanto, veio ferir atrozmente o moral do feroz e duro guerreiro. Em ’82 sua esposa, uma filha de 18 anos, três filhos e alguns outros índios de uma comitiva foram casualmente aprisionados por uma patrulha. Desanimado, angustiado e faminto M. Namuncurá, que pomposamente se alcunhava de General em chefe das tribos do Pampa, resolve entregar-se ao governo. O salesiano Pe. Domingos Milanésio serviu como mediador.
Após a rendição incondicional (05/05/1883), Namuncurá recebeu do então presidente Roca o título honorífico de Coronel do Exército Argentino e uma extensão de terras em Chimpay, no vale do Negro.
No ano seguinte M. Namuncurá recebe ordens de abandonar as terras doadas por Roca. O velho Tuxaua amargurado e alquebrado em seus 70 anos, foi a B. Aires falar com o presidente Sáens Peña. De nada valeram seus rogos para permanecer em Chimpay. É então removido para uma área de 8 léguas quadradas no alto vale do rio Alluminé entre as cumeadas andinas. Deste modo a tribo de Namuncurá se deslocava para a mesma gleba montanhosa, de onde no passado seus descendentes se haviam lançado para a conquista das imensas planuras do Pampa.
A fé cristã incutida no coração do guerreiro araucânio pelos missionários salesianos, havia-lhe modificado. Em meio às adversidades e cruciais desditas, não se revoltou nem proferiu palavras de ódio contra os brancos que lhe escorraçavam para o isolamento da Cordilheira.

«Este rude indígena que sabia encontrar em seu espírito nobres sentimentos de afeto e gratidão para quem lhe fizesse o bem ou fosse ao encontro das necessidades de sua tribo, mostrou-se superior àqueles que o haviam subjugado com a força. Próximo à morte, gloriar-se-á com Dom Cagliero de ser bom cristão e bom argentino».[116]

Severino Namuncurá, o filho do Cacique

Severino Namuncurá (26/08/1886-11/05/1905) nasce em Chimpay, sete meses após a morte de D. Bosco. Sua vinda ao mundo veio justamente, em seguida à rendição incondicional de sua tribo aos expedicionários de João Manuel Rosas. Tornar-se-á em poucos anos um dos mais lídimos troféus das missões salesianas na Argentina. Foi baptizado pelo Pe. D. Milanésio em 24 de dezembro de 1888, ano da morte de D. Bosco. Durante a infância o jovem indígena não teve propriamente uma educação cristã. No entanto, desde criança já chamava a atenção das pessoas pelo modo de vida bondoso e exemplar.
Os antigos reis dos pampas viviam então pobremente em Chimpay, após serem exilados pelo governo. Severino, desde pequeno, procurava ajudar os velhos pais.

«Muitas vezes, minha mãe levantando-se cedo, se preocupava porque Severino não estava em casa. Mais tarde o via aparecer com um feixe de lenha que depois vendia para comprar alguma coisa. Os vizinhos, admirando o bom coração do menino, pagavam lhe mais do que o preço justo».[117]

 Do Colégio estadual El Tigre ao Salesiano Pio IX de B. Aires

A figura e o trabalho do Pe. D. Milanésio, apóstolo dos araucânios, atraíam Namuncurá. Não demorou muito para o filho do Tuxaua pensar em ser também como aquele missionário, um evangelizador no meio de sua gente.
No entanto, o pai M. Namuncurá pensava diferentemente. Para ele o filho era a esperança de toda a tribo. Deveria ser o chefe, o defensor dos supérstites araucânios da Patagônia Setentrional. Pensando em educá-lo nos Colégios dos brancos, interna-o em El Tigre, vizinhanças de B. Aires.
A viagem para B. Aires aconteceu em meados ou fim de agosto de 1897. O Gal. Luís Maria Campos arranjou-lhe uma bolsa de estudos nas Escolas Nacionais da Marinha, onde Severino se matriculou como aprendiz de carpinteiro. Contava então com 11 anos, não se adaptou à Escola. A prisão dos muros do internato não lhe fazia bem.
Na primeira visita do pai pediu que por favor o tirasse dali. O velho Curaca recorreu ao Presidente da República, Luís Sáens Peña, a quem muito apreciava. O aluno foi conduzido para o Colégio Salesiano, Pio IX de Almagro na Capital, onde conheceu D. Cagliero. Ali começou uma grande amizade entre os dois. Severino vivia no Pio IX e estudava no Colégio S. Francisco de Sales, onde funcionavam os dois primeiros anos do Primário.

«Os primeiros dias foram difíceis. Não sabia dizer praticamente nenhuma palavra em Castelhano. Era o centro dos olhares (alguns não muito amistosos) pelo fato de ser um indígena. Pequenos e grandes comentavam em todos os lugares a chegada do filho do Grande Cacique mapuche».[118]

No início a vida ali também não foi agradável para o pequeno, afeito à imensidão das planuras patagônicas e à visão desafiadora dos nevados picos andinos. A mudança dos campos livres e infindos para o isolamento e a disciplina de um internato era algo de doloroso e traumático. Quem já foi interno entenderá bem o problema. As notas do primeiro ano foram baixas e no segundo, 1898, foi reprovado. Por outro lado sofria a prepotência e a malícia de alguns colegas, pelo fato de ser quem era. No entanto, a marioia o estimava.
No ano de 1900, o estudante mapuche sofreu outros dois grandes golpes. O primeiro foi a retirada forçada do senhor Manoel Namuncurá e sua tribo que tiveram que abandonar Chimay para as novas terras determinadas pelo governo.
Outro enorme contratempo aconteceu na época do batismo do pai que ao se tornar cristão teve que escolher uma entre as três mulheres (ou quatro segundo alguns) que tinha.[119] O velho araucânio casou com a mais jovem Inácia Rañil. Rosário Burgos, mãe de Severino, procurou abrigo com a tribo de Yanquetruz, onde passou a viver com o índio Coliqueu. Segundo R. Noceti, Severino procurou insistentemente pelo paradeiro da genitora até poder comunicar-se com ela.
A eficácia do Sistema de D. Bosco realizou o milagre da adaptação. Salesianos e colegas viam e se admiravam com as transformações rápidas que se operavam no indiozinho

«Caráter bom, simples, dócil, inclinado à piedade [...], Severino abraçou de tal modo a vida do Colégio que nele se encontraram as "características do perfeito aluno salesiano, modeladas segundo aquelas que D. Bosco descreve na vida de Domingos Sávio e Francisco Besucco"».[120]
A dedicação à vida de piedade, à oração, ao estudo e o respeito ao Regulamento faziam parte de suas constantes preocupações. Queria santificar-se no cumprimento dos deveres do dia a dia, como pregava o ensinamento salesiano.
Um de seus colegas de classe assim o descreve:

«Nós tínhamos por ele estima, amor e respeito. Na escola ocupava os primeiros postos. Seus triunfos eram mais devidos à constante aplicação e assiduidade aos deveres, do que às qualidades naturais de que era dotado. Modelo de equilíbrio, era árbitro nas recreações. Sua palavra era escutada pelos companheiros em discórdia».[121]

Os processos de beatificação e canonização contém inúmeras declarações de professores, amigos e companheiros admirados com sua vida exemplar de jovem. Pe. Cecotto, um de seus mestres traça-lhe o seguinte perfil:

«Quando o conheci era já um jovem exemplar e crescia em virtude. Jamais tive que adverti-lo. Gostava da ordem, deixando cada coisa em seu lugar, com bom exemplo para os demais».[122]

Um companheiro e amigo durante dois anos afirmava que jamais encontrara em Namuncurá ambiguidades ou simulações. Ao contrário, tinha horror à mentira mesmo se leve.

 Ser sacerdote

Era seu pensamento constante. Luís Pedemonte, testemunha do processo certa feita encontra o amigo, durante o recreio da tarde, encostado a um eucalipto do pátio. Estudava o Catecismo. Porque estudas tanto, perguntou.
- Quero ser o primeiro em religião. Devo ensiná-la aos membros de minha tribo, os quais, pobrezinhos, não sabem nada destas coisas.
Janeiro de 1903. Namuncurá se transfere para o Colégio São Francisco de Sales de Viedma, residência do Vicariato, à cuja frente estava o salesiano Dom João Cagliero. Pe. Beraldi, secretário do bispo, ao conhecer o recém chegado, afirma que se trata de um jovem de muita virtude. Esperamos que mais tarde seja sacerdote e rei de sua tribo.
Um dos motivos pelos quais Dom Cagliero o transferira para Viedma era a esperança de que ali fosse melhor para sua saúde. Além disso desejava seguir mais de perto a formação seminarística do jovem aspirante ao sacerdócio.
A sede do Vicariado patagônico foi para Namuncurá uma nova família. A alegria tornava-se ainda mais significativa pelo fato de se incluir no primeiro grupo de candidatos que Dom Cagliero recolhia em torno a si, preparando para o avenir da Congregação naquelas paragens.
O araucânio pelo modo de agir e pelas suas virtudes, foi logo reconhecido como êmulo de D. Sávio e tido por todos como modelo do candidato ao sacerdócio. Era um verdadeiro D. Sávio de cor. Seu modo de agir lembrava aos que o conheciam e observavam, o que D. Bosco havia escrito na vida de Sávio. Pe. Bernardo Vacchina, quando falava de Namuncurá aos novatos que chegavam a Viedma, costumava dizer que Namuncurá era um São Luiz (Luiz Gonzaga) redivivo. O apostolado da palavra e do exemplo era uma de suas preocupações diante dos colegas. Invertiam-se os papéis, o índio catequizava o branco.
Viedma no entanto, apesar dos cuidados que lhe foram ministrados, não curava os males que debilitavam o descendente do rei dos pampas. Observava em uma carta escrita ao cronista Pe. Beraldi:

«Estou melhorando pouco a pouco e espero que o Senhor e a Virgem Santíssima me restituam a saúde, se isso for para a maior glória de Deus e o bem de minha alma, como o senhor me disse tantas vezes».[123]

Itália

No final de 1903, Dom João Cagliero acertou com Manuel Namuncurá a transferência do aspirante para Roma, onde prosseguiria os estudos e encontraria um clima melhor para a saúde. Missionário e seminarista chegam à capital italiana em 19 de setembro (1904). Hospedam-se no Colégio Sagrado Coração, o mesmo construído por D. Bosco. Durante a viagem, o Inspetor de Montevideo, Pe. José Gamba, observa o jovem patagônico.

«Eu que tinha ouvido falar muito de suas virtudes me convenci que o Senhor tinha sido pródigo em espalhar nele tesouros de natureza e de graça».[124]

Um de seus mestres na Itália, Pe. Zuretti, não tinha dúvidas de que o Servo de Deus já praticasse então, as virtudes juvenis em grau eminente.

«Porque todas as virtudes que comportam sinais eminentes externos, como a piedade, a humildade, a paciência, a prudência no falar, Severino as praticava habitualmente, de bom grado, antes direi, alegremente [...]. E tais virtudes que muito se sobressaiam às de seus companheiros, admiravam-me profundamente, dada sua origem racial».[125]

 Villa Sora

De novembro de 1904 ao final de março de 1905 vamos encontrar o moço argentino, interno em Villa Sora, Instituto educacional salesiano nas imediações de Roma.[126] O diretor Pe. Ludovico Costa afirma que,

«Superiores e companheiros descobriram, logo a partir dos primeiros dias um modelo de virtude, um imitador fiel de D. Sávio».[127].

A piedade, certamente superior à sua idade, manifestava-se em todos os atos. Parecia estar sempre rezando, recolhido, silencioso, atento. A serenidade do olhar fazia com que os colegas dissessem que sorria com os olhos.

«Dir-se-ia que a enfermidade que o atormentava e o recolhimento em que vivia como presságio do fim, empanassem a vivacidade do belo sorriso que todos admirávamos nos anos de B. Aires e Viedma».[128]

Namuncurá cultivava três grandes amizades: Nossa Senhora Auxiliadora, D. Bosco e Pe. Miguel Rua com quem em Turim conversava sempre que podia. Estas devoções foram constatadas sobretudo nas poucas semanas que passou em Valdocco. Pe. J. Vespignani testemunhou que,

«Os primeiros meses de sua permanência na Itália passou-os com grande alegria de sua alma, próximo ao Venerável Pe. Rua, à sombra do Santuário de Maria Auxiliadora e junto à tumba do nosso bom pai D. Bosco».[129]

Eram frequentes suas caminhadas[130] de Valdocco a Valsalice, onde ia rezar diante da tumba de D. Bosco, guardada naquele Colégio até 1929, quando da beatificação do Santo.

 Ocaso prematuro

Impressionam os sofrimentos dos santos. Parece que já nasceram com esta sina. Não foi diferente com os nossos três jovens dos quais oferecemos estas breves notícias.
Sobre o adolescente patagônico sabe-se quanto foi difícil suportar a ausência da tribo. Transferido para B. Aires e Viedma passou viver no meio dos brancos, enfrentando outros costumes, outra língua, a curiosidade dos companheiros e outros estranhos...
Pudemos supor quantas saudades sentiu ao deixar a pátria e a família, ao atravessar a amplidão dos mares rumo ao desconhecido. Em Villa Sora quantas vezes sua mente percorria as planuras índias e os arquipélagos formados pelos toldos coniformes dos guerreiros araucânios-mapuches. No Instituto de Frascati gostava de caminhar solitário sobre o terraço a cavaleiro dos páteos de recreio. Dali se descortinavam as colinas tusculanas e as campinas do Lácio que se estendiam preguiçosas em direção a Roma. Lembravam um pouco as longínquas planuras americanas de sua Patagônia.
O já citado Pe. Vespignani afirmava que Namuncurá sentia-se feliz, mas recordava sempre a Argentina, tanto em Valdocco quanto em Roma. Só a fé e o desejo de ser algo mais que um Cacique entre os seus, o faziam suportar tamanhas agruras.

Sofrimentos físicos

Um capítulo especial na vida martirizada deste príncipe dos pampas são os sofrimentos físicos. Também neste aspecto se assemelha a Sávio e Laura. Durante o inverno de fevereiro e março de 1904, piorou sua situação. A tuberculose que possivelmente o consumia há anos, - sem que se soubesse claramente de que sofria, mesmo porque jamais se lamentava, - tornou-se galopante. Nas últimas semanas repetiam-se as cenas de sofrimento, vividas por Laura Vicuña, a outra jovem gigante da santidade, também ela filha das terras meridionais do Novo Mundo. Esta situação refletiu-se negativamente no aproveitamento escolar e na assistência às aulas.
Outro mal que lhe reduzia as forças físicas era a hospedagem em seu organismo de uma tênia malvada, inadvertida ou tardiamente descoberta quando, já debilitado não pode mais reagir. As cruzes no entanto, eram aceitas silenciosa, alegre e generosamente. Ao agravar-se o mal os salesianos e colegas de Villa Sora puderam mais claramente observar a serenidade e grandeza de ânimo do rapaz. Não se lamentava, não deixava transparecer a dor que lhe torturava. Pe. L. Costa, seu diretor escrevia:

«Nos últimos meses, admirei em particular a inalterável paciência e humilde resignação de Severino em todas as suas dores - e não foram poucas – e em todos os sacrifícios que deveu afrontar. [...] Com a angústia no coração, víamos o aluno declinar dia a dia . Mover-se cada vez mais lentamente».[131]

Os companheiros se entristeciam porque o viam sempre mais próximo ao desenlace. Pe. Pavoni lembra o som cavo de sua tosse que perturbava todo o ambiente. Outro sacerdote de nome Gallina testemunhou:

«Minha cama era perto da sua. Lembro que quando começou a piorar, passando as noites insone, agitado pela tosse, vi que muitas vezes sentava-se na cama, beijando repetidamente a medalha de Maria Auxiliadora».[132]

A enfermaria de Villa Sora não tinha condições de frenar a lenta agonia do moço patagônico. Em 28 de abril, dá entrada no hospital Fatebenefratelli, na ilha tiberina (rio Tibre), em pleno coração de Roma. Nos treze dias que teve hospitalizado os Irmãos Hospitaleiros eram constantemente tocados pela «resignação, piedade e serenidade» do enfermo. Segundo eles, chegou até a marcar o dia em que deveria morrer, o que ocorreu em 11 de maio de 1905. O diagnóstico indicava «tuberculose pulmonar crônica». O neto de João Calfucurá, estava com dezoito anos, nove meses e quinze dias.
As exéquias foram celebradas na paróquia do Colégio Sagrado Coração do bairro de Castro Pretório, a dois passos da soberba estação ferroviária Términi. O Boletim Salesiano italiano, comunicando a seus leitores o trânsito do jovem santo índio americano escrevia:

«Temos certeza que a notícia de sua morte, suscitará, especialmente na América, profunda comoção. Cremos no entanto, que o bom e virtuoso jovem já tenha começado um poderoso apostolado de oração e intercessão diante do trono de Deus, em favor de todos os seus caros correligionários. Aos jovens que lerem este doloroso anúncio, recomendamos que não se esqueçam em suas oração deste moço, filho do deserto e de imitá-lo na suave e generosa correspondência à graça de Deus».[133]

Aos 12 de maio os restos mortais de S. Namuncurá foram sepultados no cemitério de Campo Verano em Roma. Pe. José Vespignani, quando de sua visita extraordinária às casas da Argentina, em 1924, trasladou-os para a Capela de Fontin Mercedes, frequentemente visitada pelos peregrinos. Muitos jovens vão ali prestar suas homenagens e rezar ao santo conterrâneo.
No interior da Basílica de S. Pedro em Roma encontram-se as imagens dos fundadores de Ordens e Congregações. À direita, no alto vemos D. Bosco. O escultor Canônica colocou dois moços, à esquerda do santo dos jovens. Um já canonizado, São Domingos Sávio. O outro, Severino Namuncurá, a caminho dos altares. Seu processo de beatificação teve início em 02 de maio de 1944. Em 22 de junho de 1972 foi declarado venerável.[134]


CONCLUSÃO

 Tendências de nosso tempo

Nossa sensibilidade posmoderna, produto de uma cultura cosmopolita, consumista e mediática não se mostra nada interessada em querer entender «uma proposta forte e de concentrado vigor religioso».
Por outro lado, as figuras de nossos jovens santos marcadas por uma tenaz fidelidade ao por vezes, enfadonho cotidiano, não apresentam o impacto do fora de série, do extraordinário, do fenomenal, propagandeados pelos meios de comunicação da aldeia global em que nos movemos ou pelas Igrejas eletrônicas.

 A mensagem do Neto de Calfucurá

Que mensagem nos deixa este índio patagônico do final do século XIX e primeiros anos do século XX? Que tem a dizer aos homens do Terceiro Milênio, um jovem araucânio com uma cultura tão diversa daquela do homem dito civilizado?

Patrimônio de valores e reserva moral

Vivemos uma cultura do êxito e das diferenças sempre mais escandalosas e revoltantes. A divisão dentro de nossa toca globalizada separa-nos cada vez mais em dois mundos antagônicos, um subjugado ao outro: uma escravidão disfarçada, sorrateira, insensível. Sob este aspecto, receio que a nova onda posmoderna da globalização ou mundialização para alguns, seja outra forma de dominação político-econômica das grandes potências globais. Sabe-se que o impacto da mundialização claramente concentrado no mercado, na informação e na tecnologia, abrange apenas um terço da população mundial. Os demais dois terços da humanidade são apenas bombardeados pelos reflexos negativos do mais recente subproduto do Capitalismo.

«Não é necessário ser de esquerda para observar quanto as tendências econômicas e as inovações tecnológicas têm custado em matéria de instabilidade, desemprego e exclusão social».[135]

Em fins de abril de 2001, Sua Santidade João Paulo II, em um Seminário na Academia Pontifícia de Ciências sociais, falava de sua preocupação, no sentido de que a globalização pudesse redundar em uma nova forma de colonização que poderia pulverizar as culturas regionais. O Papa afirmava que não se pode destruir os vários estilos de vida e de cultura.
A mensagem de Namuncurá é ao mesmo tempo de equilíbrio, tranquilidade e empenho na luta constante para anular ou minorar as diferenças entre as classes sociais.
Mudando-se de seus Pampas para as cidades civilizadas e progressistas dos brancos, o jovem mapuche não se deixou encantar pelas maravilhas encontradas em seu próprio país ou no exterior, mas continuou em sua humildade, fiel ao projeto inicialmente arquitectado de preparar-se para reconduzir seu povo a uma vida mais digna.

A idolatria do ter

Em uma sociedade que procura sempre possuir mais para gastar, gozar e consumir mais, o filho dos Pampas ensina que há outros valores fundamentais, que devem ser conquistados. Não se compram, nem se descartam, mas vale a pena lutar por eles.

Pobreza de ícones

A carência de modelos, de ídolos verdadeiros é flagrante em nosso tempo. Namuncurá é um moço que deve ser visto como alguém que se entregou completamente a uma causa, à sua fé e á sua gente. É um ícone a ser olhado, um exemplo a ser imitado.

Proveito em mérito próprio e politiquices

Uma dos cânceres (para mim revoltante) do nosso tempo é a corrupção (muito embora, seja um filme bastante antigo. Antes de Cristo os Romanos já o assistiam, como no episódio de Jugurta,[136] rei da Numídia). Os subterfúgios, as transações escusas, os arrumadinhos, a linguagem e o comportamento mafiosos, as politiquices são infelizmente os grandes parasitas que arruinam e atrasam tantos povos, enquanto outros talvez mais «sérios» pousam constantemente no pódio da história.
Namuncurá é um homem rectilíneo, meridiano, um bugre que dá lições de boa conduta aos que se jactam de serem civilizados. Um aborígene que tinha ojeriza e febre a tudo que era escamoteação e corrupção.

Xenofobia ética

Outra chaga social arrepiante de nossa época é a intolerância racial e religiosa que ameaça criar outros Lagers e Sobibors. Pensamos em certos grupos radicais islâmicos, nos racismos dentro das próprias nações, nos head skins e neo nazistas que surgem atuantes e violentos da Europa às Américas, às terras asiáticas.
O fenômeno Severino Namuncurá atrai a todos, é universal. A ele recorrem pessoas de todas as idades, classes sociais, latitudes, formação. O fato é interessante até porque se trata de um pobre rapaz indígena, sofredor, nascido no deserto patagônico. Filho de uma raça falida, massacrada, espoliada, triturada pelos brancos. Talvez mesmo esta característica seja o fundamento para que ele atraia o interesse dos fracos, dos aborígenes, dos pobres, dos excluídos.[137]

Amor à natureza

A civilização - do consumo, da contaminação, dos transgênicos, do início dos clonados, dos passeios espaciais, da vida alucinógena artificial e tantas outros fenômenos forjados pelo cérebro humano - é questionada pelas etnias indígenas, que povoam não só a América, mas também outros Continentes. A natureza, o planeta paulatinamente sufocados, esbulhados e aquecidos impiedosamente caminham tristemente para o buraco negro que poderá ser sua eterna morada tumular.
O exemplo de amor à natureza que Severino nos oferece convida-nos a respeitar e defender a terra sem a qual não se poderá viver.

Bibliografia

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- BS (Bollettino Salesiano).
- MB Vols XVI, XVII, XVIII.
- CG 19 a 24.
[1] MB III, 44.
[2] P.ietro Stella, Don Bosco nella storia,, Vol. II, Vol. II. Pg.Mentalità, Religiosa e Spiritualità. Zürich, PAS VERLAG, 1969, p. 32.. Vide também [Giovanni Bosco], Memorie dell’Oratorio di San Francesco di Sales, (a cura di) A.FAntônio Ferreira. Roma, LAS 1992,. MO, pg. 5, n.ota 4.
[3] MB XVIII, pg, 258. Const. 1.
[4] MB II, 70 -77. MO LAS, pp. 104-105. A. F.erreira,
[5] [G. Bosco], Memorie dell’Oratorio…, pp. 104-105. Em relação à origem do Oratório deo de Valdocco, há duas tradições, ambas provenientes de D. BoscoDom Bosco: «Este Oratório, ou seja, reunião de jovens nos dias festivos, começou na Igreja de S. Francisco de Assis…Comecei reunindo no mesmo lugar dois jovens adultos que precisavam muito de instrução religiosa. Com eles vieram outros e durante o ano de 1842, o número chegou a vinte e às vezes a vinte e cinco». (G. Bosco, Cenno strorico dell`Oratorio de S. Francesco di Sales, del 1852. Pietro. Braido, Don Bosco nella Chiesa a servizio dell`umanità. Studi e testimonianze, Roma, LAS 1987, pp. 38-39, citado por A. Ferreira em MO - LAS. Introduzione e note a cura di, pg, 104 - 105). A outra tradição é o encontro com Garelli.
[6] Lemoyne dá ao Bartolomeu Garelli jovem «14 ou 15 anos». Recordamos que o próprio Bartolomeu diará a D. BoscoDom Bosco que tinha 16. anos. (Cf, MB OO. 73).
[7] Const. 1 e 5.
[8] Os primeiros Oratorianos em geral eram cacelteiros(?) (escultores), pedreiros, assentadores de ladrilhos, estucadores. Trabalhavam nas obras de Turim. A partir de 1842, o setor construção começou a apresentar grande surto na cidade.
[9] M.ario MidaliMidali (a cura di), Don Bosco nella sStoria…, a cura di, pp.. 268., LAS – ROMA.
[10] M.. Wirth,. Don Bosco. Torino Leuman, Elle Di Ci 1969e i Salesiani, Elle Di Ci, Torino – Leuman,, p. 51.
[11] Maria Domingas Mazzarello, 05/01/1837. Nizza Monferrato 14/05/1881, 44 anos.
[12] Cronistoria I 44.
[13] Nasceu em Mornese (Alessandria) em 05-01-1817, falecendo na mesma cidade em 15 de-05-1874. Em 1862 conheceu Dom Bosco, tornando-se salesiano no ano seguinte.
[14] Enzo Bianco. Maria Mazzarello, La santitá alle origini delle Figlie di Maria Ausiliatrice. Elle Di Ci, Torino 1994, pp., 5-7.
[15] Faz pensar nas semelhanças pastorais dos sonhos de D. Bosco e aqueles do Pe. Cícero Romão Baptista na colina do Horto em Juazeiro do Norte, Brasil em 1917.
[16] Morand Wirth, Da Don Bosco ai nostri giorni. Tra storia e nuove sfide, p. 204. ROMA-LAS, 2000.
[17] Cronistoria I 118.
[18] Os alicerces foram terminados em 13 de junho de 1865.
[19] Pe. Ângelo Amadei, 1868-1945. Por diversos anos trabalhou no Oratório. Historiador, Pe Rua o encarregou do Boletim Salesiano. Minucioso, dedicou muito de suas pesquisas às Memórias Biográficas do Pe. Miguel Rua e de D. Bosco.
[20]P. Caviglia – A. Costa, Orme dia vita, trace dia futuro, pp.23-24.
[21] Desde 1860, D. Bosco vinha maturando a idéia de fazer algo pela juventude feminina. Sobre este seu projeto veja-se M. Wirth, Da Don Bosco...,pp, 207, 208.
[22] Ver MB X 600-608.
[23] Memoria di d. Pestarino, in P. Caviglia – A. Costa, Orme di vita, tracce di futuro, pp. 42-47.
[24] MB X 600.
[25] Ricerche Storiche Salesiane. Gennaio-GiugnoRSS 32 (1998) 53–150. Ver A. De Andrade. Os Salesianos e a educação na Bahia e em Sergipe-Brasil 1897-1970, LAS-ROMA 2000, pp., 72 ss, Casella Francesco, Le richieste di fondazioni a don Bosco dal Mezzogiorno d`Italia (1879-1888).
[26] Annali I, XXV, XXIX, XXXV).
[27] Sobre a origem e desenvolvimento da obra salesiana na Inglaterra veja-se William John Dickson, The dynamics of growth. The foundation and development of the Salesians in England. LAS – ROME, 1991.
[28] RSS 34 (1999) 31-65.
[29] Em março de 1879, D. BoscoDom Bosco falando sobre a presença salesiana no Novo Continente dizia: “ «Com o conselho e a ajuda marterial do caridoso Pio IX, abordamos a expedição dos Salesianos para a América. Três foram os objetivos propostos pelo Sumo Pontífice:
Cuidar dos adultos, especialmente dos jovens italianos, em grande número espalhados pela América meridional;.
Abrir colégios nas proximidades dos sevágensselvagens, a fim de que sirvam de pequenos seminários e abarigos para os mais pobres e abandonados.;
Através destre meio iniciar a propagação do Evangelho entre os índios dos Pampas e da Patagônia». (Giovanni Bosco,. Opere Edite, Vol. XXXI (1879-1880), – Roma, LAS 1977, p. [247]-ROMA).
[30] Em nossa terra sabemos que as autoridades procuravam minorar o número dos óbitos oriundos dos surtos epidêmicos. A população não podia, não devia ser alarmada, de modo que as estatísticas reais eram escamoteadas. A propósito, veja-se - em R. AzziR. Azzi, Os Salesianos. no Rio de Janeiro..., Vol. I, pp. 122 e ss - o que mostram os jornais nos inícios de 1882, numa reportagem cujo título era: Mortalidade no Rio de Janeiro.ss.
[31] Naquele ano os SDB na América Meridional eram aproximadamente 50 e as FMA cerca de 40.
[32] João J. Cagliero nasceu em Castelnuovo d`Asti em 1838 e faleceu em Roma em 1926. Quando entrou no Oratório de Valdocco, logo se entusiasmou por D. BoscoDom Bosco, tornando-se um de seus principais colaboradores. Ordenou-se sacerdote em 1862, laureando-se em teologia pela Universidade de Turim, em 1873. Na Argentina e Uruguai representa uma das colunas da obra salesiana. Ordenado bBispo em 1883, tornou-se o promeiroprimeiro Vigário Apostólico da Patagônia. Em 1887 levou a Congregação Salesiana ao Chile. Em 31 de Janeiro de 1888, quando do falecimento de D. BoscoDom Bosco, seu grande amigo e colaborador se encontrava em Turim. Dom Cagliero gosava gozava de plenos poderes sobre as casas da América. Era naquela parte do mundo o delegado de D. BoscoDom Bosco, depois de seu primeiro sucessor, o Pe. Rua. RCagliero representou a S. Sé nos países da América Central e em 1915, o Papa Bento XV o elevou às honras cardinalícias.
[33] Pe. João Cagliero, Pe. Baccino e o coadjutor Belmonte foram para a Igreja “Mater Misericordiae”. Os demais, Pe. Fagnano, Pe. Tomatis, Pe. Cassinis, Pe. Allavena, Pe. Molinari Pe. Gioia e Pe. Scavini, se dirigiram para San Nicolás, chamada “Iglesia de los Italianos” ou “Capilla Italiana”. Tinha sido construída por aqueles imigrantes que se encontravam sem assistência espiritual.
[34] A primeira Expedição custou ao menos L. 36.000 (Cf. MB 12, 246). D. BoscoDom Bosco escrevendo ao D. Cagliero dizia:«esta expedição nos enterrou até ao pescoço» (Cf, MB 12, 372).
[35] Vide Morand M. Wirth, Don Bosco …e i Salesiani, p. 196, n.nota 7.
[36] Dal Piemonte allo Stato di Spirito Santo, aspetti della emigrazione italiana in Brasile tra ottocento e novecento, a cura di Mauro ReginatoReginato, Torino, Stampa della Giunta Regionale, 1996, p. 508.
[37] Dal Piemonte allo Stato di Spirito Santo..., p. 3.
[38] Ibid., p. 83. Este fenômeno migratório se repete hoje de modo contrário e até mais trágico, pois quando a polícia tenta prender os barcos contrabandistas, os novos escravos mulheres, crianças e homens são jogados no mar. Da Europa Leste, países do ex-Império Russo, da África e do Oriente médio e remoto acorrem a Europa constantes levas de clandestinos ou não. Alguns nas horas caladas e frias da noite são literalmente despejados pelos barcos nas praias do Adriático ou do Mediterrâneo. Os contrabandistas de pessoas cobram fortunas por cabeça.
[39] P. Stella, Don Bosco nella storia…, Vol. I, I…, p. 169.
[40] AA. VV.V., Misiones Salesianas de la Patagonia. Su labor durante los primeros 50 años [s . l.] ], Imprenta de la Misión Salesiana [s . d.], p. p. 54-55.
[41] Idbid., p. 55. Na obra citada não aparecem os nomes dos jornalistas, nem do defensor do Pe. D. Milanésio.
[42] M. Midali, Don Bosco…, p. 463.
[43] P. Stella, Don Bosco nella storia…, Vol. I, p. 174.
[44] M. Midali, Don Bosco…, p. 513.
[45] ASC A 1380802: cCarta Cagliero-Bosco, 4 de março de 1876.
[46] BS 10 (1887) 375.
[47] Ingênuos eram as crianças livres, filhas de mãe escrava. Em 28 de setembro de 1871 foi assinada pela Princesa Isabel, a chamada Lei do Ventre Livre que declarava de condição livre os filhos de mulher escrava, nascidos a partir daquela data.
[48] A. De Andrade. Os Salesianos e a educação..., pp., 81-85.
[49] Conjunto de valores espirituais que caracterizam uma Religião, Ordem ou Congregação. A espiritualidade se constrói, se adquire. CARISMA é graça, é um dom concedido em forma e com efeitos sobrenaturais Zingarelli). (Zingarelli). Pode ser ainda um conjunto de qualidades especiais de liderança (Aurélio). Na teologia paulina Carisma é uma manifestação do Espírito Santo que diz respeito à vida da Igreja. Na primeira Carta aos Coríntios, falando sobre os dons espirituais, o Apóstolo no diz que «existem diversidade de carismas, mas um só é o Espírito. Existem diversidade de ministérios, mas um só é o Senhor. Existem diversidade de operações, mas um só é o Deus que opera tudo em todos. E a cada um é dada uma manifestação particular do Espírito para utilidade comum» (1 Cor. 12, 4ss). Dom Bosco e Pe. Miguel Rua (Reitor Mor de 1888 a 1910) desconheciam os carismas dos quais tinham sido agraciados por Deus. Jamais falaram sobre eles. No entanto, pediam a Deus graças constantes para si e para os seus discípulos. As graças que lhes eram concedidas nada mais eram que carismas (Cf. Francis Desramaut. Spiritualità Salesiana, Cento parole chiave. LAS-ROMA, 2001). Nosso fundador no dia de sua ordenação sacerdotal (05/06/1841) pediu a Deus a graça do dom da palavra. Esse carisma lhe foi concedido de tal modo que até ao fim de sua vida, sua palavra seduziu os ouvintes de todas as idades. Passado o Vat. II (1962-1965), os diversos Reitores Maiores especialmente Pe. Egídio Viganò (1977-1995) dedicaram-se a estudos especiais sobre o CARISMA na Família Salesiana. (Aurélio).
[50] Francesco Cerruti. Le idee di D. Bosco sull’educazione e sull’insegnamento e la missione attuale della scuola. Lettere due, San Benigno Canavese. Tip. e libr. salesiana 1886.
[51] Regime político totalitário, estabelecido na penínsolapenínsula entre os anos 1922 e 1943. Fundava-se na ditadura de um partido único, na exaltação nacionalista e no cooperativismo. Seu lider maior foi Mussolini. Por extensão é qualquer regime político fundado sobre o totalitarismo de direita. O fascismo de Franco na Espanha é um exemplo.
[52] Vide Pe. Stella. La canonizzazione di don Bosco tra fascismo e universalismo, in: Traniello, Don Bosco nella storia della cultura popolare 359-382. Id., Don Bosco nella storia della religiosità cattolica, Vol. III: La canonizzazione (1888-1934), Roma, LAS 1988.9
[53] Educativo Cultural. Evangelização. Orientação Vocacional e Dimensão Associativa.
[54] Cf. http://www.sdb.org/giovani/ַgiovanile/spiritualitaַgiovanile.htm
[55] MB V 526.
[56] Id. VI 334, 335.
[57] Cf. MB XVII 111.
[58] Ricardo Noceti. La sangre de la tierra. Para una nueva visión de Ceferino Namuncurá. Ediciones Didascalia, Rosario, Argentina, 2000.
[59] Summ. Thol. III q 72 a. 8 ad II
[60] Sabedoria. 4,13
[61] Santo – Significa intocável, que deve ser respeitado e venerado. Uma pessoa que foi oficialmente proposto/a pela Igreja como modelo de santidade. Beato - Um servo de Deus, ao qual a Igreja permite que seja honrado com o culto público. Venerável - Título concedido a uma pessoaalguém que morreu em conceito de santidade, em favor da qual foi promovida a causa de beatificação. Servo de Deus - Um cristão que morreu em fama de santidade, mas que só poderá ser venerado oficialmente com o culto público, após ser beatificado.
[62] Nascido aos 02 de abri de 1842, em São João de Riva de Chieri, perto de Turim. O pai era ferreiro, a mãe Brigida Agguagliati costureira. Em 1854 mudam-se para o Município de Murialdo. Ali se , onde encontra a Colina onde nasceu D. Bosco, chamada hoje Colle Don Bosco. Domingos falece em 09 de março de 1857. Foi canonizado em 1954.
[63] Inflamação especialmente nos dedos e lóbulos das orelhas, ocasionada pelo intenso frio. Tem-se a impressão de um emplastro de pimenta nas mãos ou nos pés. Por vezes não se pode calçar sapatos ou luvas. Confessamoso ignorar o termo correspondente em vernáculoportuguês, , em italiano diz-se «gelone» na língua de Dante. Laura Vicuña terá este mesmo problema no Colégio de Junin de los Andes. No Uruguai em 19658 e 19659 sofremos muito com este mal. É realmente um martírio.
[64] Testimonianza di Giovanni Battista Francesia in Positivo super virtutibus, p. 95.
[65] Giovanni Bosco, Cenno biografico sul giovanetto Magone Michele, allievo dell’Oratorio di S. Francesco di Sales, Torino, Tip., G. G. Paravia e Comp. 1861, p. 4.
[66] Vita del giovanetto Savio Domenco allievo dell’Oratorio di san Francesco di Sales pel cura del sacerdote Bosco Giovanni. [revista e aumentada]. Torino, tip. Italiana di F. Martinengo e comp. 176pp.
[67] Cf. RSS 15 (1989) 369-377.
[68]Id Ibidem.
[69] Vita del giovinetto…, p. 9.
[70] Vide Saint Jean Bosco. Preface de Daniel Rops, Paris Gallimar, 1959, p. 145.
[71] A italiana irmã Ângela Piai, superiora. As chilenas, noviça Rosa Azócar, chilena e a postulante, Carmela Opazo.
[72] Luigi Castano. La ragazza delle Ande patagoniche, ELLE DI CI, LEUMAN, Torino, seconda edizione, 1983.
[73] Id,. Ib.L. Castano. La ragazza…, p., 38.
[74] A região da fazenda, onde Mora viveu com Mercês Pinho, local das férias de Laura Vicuña e da irmã Amandinha, está atualmente inundada pelas águas da represa Piedra del Aguila.
[75] P. Ciro Brugna., SDB. Aportes para el conocimiento de Laura Vicuña. Buenos Aires 1990, p. 60.
[76] Pe. C. Brugna, chega a conclusão que Mora não era propriamente um fazendeiro, mas arrendatário de terras.
[77] L. Castano. La ragazza…p. 40
[78] Augusto Cesar Crestanello, confessor de Laura, morto aos 62 anos em Comodoro Rivadavia (Argentina), em 1925.
[79] L. Castano. La ragazza…, p. 41.
[80] Zacarias Genghini (1870-1945),. F faleceu em Viedma, Arg.entina.
[81] L. Castanoa. La ragazza…, p. 41.
[82] L. Castano. La ragazza…, p. 65.
[83] Vide Luiz Castano. Santitá Salesiana. Profili dei Santi e Servi di Dio della triplice famiglia di San Giovanni Bosco. SEI, Torino 1966, p. 283.
[84] Uma das internas, sua grande amiga, filha de um fazendeiro local que morava a 18 km de Junin.
[85] Debilidade renal que consiste em não se reter a urina. Acontece de modo mais frequente durante o sono (em alguns de nossos internatos, os internos que tinham o problema eram denominados pelos colegas de «bombeiros»).
[86] Um cinto formado depor doze nós lembrando as doze estrelas da corôa de Nossa Senhora. Eram entremeados com pontas metálicas. O de Laura tinha 15 nós, lembrando também os quinze mistérios do rosário. MercedesMercês Vera, amiga e êmula, passou a usar também o mesmo suplício.
[87] Morto em 23 de setembro de 1968, às 2,30 da manhã, com 81 anos de idade.
[88] Estação do ano que sucede ao outono e antecede a primavera. No hemisfério sul, principia quando o Sol alcança o solstício de junho (dia 21) e termina quando atinge o equinócio de setembro (dia 21); no hemisfério norte, começa quando o Sol alcança o solstício de dezembro (dia 21) e finda quando ele atinge o equinócio de março (dia 20). Tempo frio. No Norte e Nordeste do Brasil, Inverno é a estação das chuvas (Cf. Aurélio).
[89] Luigi Castano. La ragazza..., p., 131.
[90] Idbidem 132.
[91] Ibidemd.
[92] Dois cômodos, construída em barro e coberta de palhas.
[93] Na antiga Roma era o conjunto de provisões e objetos preparados para se fazer uma longa viagem. Aquilo que conforta, que sustém. Comunhão administrada a quem está prestes a fazer a última viagem. Na antiga Roma era o conjunto de provisões e objetos preparados para se fazer uma longa viagem.
[94] L. Castano La ragazza. La ragazza..., p., 149.
[95] P. Ciro Brugna. SDB. Aportes para el conocimiento de Laura Vicuña. Buenos Aires, 1990, XVI, n. 89.
[96] Idbidem.
[97] Cf. L. Castano,. Laura la ragazza..., p. 169.
[98] P. Stella. Presentazione in C.[ecilia] Romero, i sogni di don Bosco, edizione critica, Leumann-Torino. ELLE DI CI (1978), pp., 5-6.
[99] ASC B 679. Ver Card. Giovanni Cagliero. La conquista cristiana della Patagonia alla fede e alla civiltà, in Jesús Borrego (ed.), Las llamadas «Memorias» del card. Giovanni Cagliero, in RSS 19 (1991) 343.
[100] Nasceu em Caltelnuovo d’Asti em 11 de janeiro de 1838, falecendo em Roma aos 28 de fevereiro de 1926. Entra no Oratório de Valdocco em 1851, tornando-se sacerdote em 14 de junho de 1862. Faz parte dos primeiros colaboradores de D. Bosco, que aderirai à idéia do santo de fundar uma Congregação para a salvação da juventude. Leão XIII o faz bispo em 1864, confiando-lhe o Vicariato Apostólico da Patagônia. Em outubro de 1915 è nomeado Cardeal. Na Argentina meridional realizou um enorme trabalho missionário com as tribos locais. Em Viedma fundou o primeiro hospital da região patagônica, entregando-o às Filhas de Maria Auxiliadora. Sua presença apostólica estende-se também em quatro países da America Central (1918).
[101] Permaneceu no cargo até novembroe de 1884, ano em que o Papa Leão XIII, o nomeou bispo titular de Magida, entregando-lhe o Vicariato Apostólico da Patagônia Setentrional e Central.
[102] Caramagna, Itália, 23 de março de 1846, Bernal, Argentina, 9 de setembro de 1921. Ordenação sacerdotal em Turim, aos 18 de setembro de 1868. D. Bosco o encarregou-o da terceira expedição missionária para a Argentina, onde foi também Inspetor. Iniciou a obra salesiana no Chile com a fundação do Colégio de Talca. Em 1894 foi eleito Vigário Apostólico de Mendez e Gualaquiza no Equador.
[103] Luis Castano, S.D.B. Agonía y sublimación di una raza CEFERINO NAMUNCURA El lirio de las las pampas. Editorial Don Bosco – Buenos Aires, 1968, p., 34.
[104] L. Castano. Agonia e sublimación…, p., 43. Índios mortos: 1150, incluindo-se 11 caciqueCaciques. Outros 11 caciqueCaciques e 400 lanceiros foram aprisionados. Resgatados 409 escravos. Tomadas aos índios, 8.000 cabeças de gado. A Província de B. Aires teve o território aumentado de 2.900 léguas quadradas (L. Castano. Agonia e sublimación…, p., 43).
[105] Id, p., 57.
[106] Id.
[107] Uns chamavam-no, O Rei do deserto. Outros, O Selvagem dos Pampas. Governando como um déspota, alguém o colocou ao lado de Nero.
[108] Pai de Manuel Namuncurá por sua vez genitor de Severino Namuncurá.
[109] L. Castano. Agonia y sublimación…, p., 45.
[110] L. Castano. Agonia y sublimación… p., 50
[111] A primeira das quatro divisões de expedicionários, organizadas contra os índios, sapartiu de B. Aires em 17 de abril de 1879. Era uma terça-feira de Páscoa..
[112] Pe. Castano O mesmo missionário recorda fala das vicissitudes e da fome durante a caminhada. Refere-se às comidas, entre elas carne de cavalo e outros animais que ele denomina de leões e tigres...
[113] MB XVIIIId. 395.
[114] Id.
[115] BS 3 (1879) 2-6.
[116] L. Castano. Agonía y sublimación..., p.,60.
[117] Declaração de Aníbal Namuncurá, seu irmão. Summarium Additionale, pp., 106-107.
[118] R. Noceti. La sangre de la tierra..., p. 79.
[119] Os mapuches eram monogâmicos, mas o Cacique gozava do privilégio da poligamia. Diz-se Manoel Namuncurá se preocupou para que os demais Caciques a ele subordinados se tornassem também eles monogâmicos.
[120] Summarium Addizionale, p., 12.
[121] Id, p., 27.
[122] L Castano. Santitá Salesiana…, p., 153.
[123] Carta Namuncurá – Beraldi [Viedma], 18 de julho de 1903. Esta missiva foi endereçada à Itália, onde se encontravam Beraldi e Dom Cagliero. Ver L. Castano. Santità Salesiana…, p., 157.
[124] Summarium, p., 39.
[125] Idbidem, p., 49.
[126] A antiga Villa Sora conheceu diversas personagens ilustres e santas. O Colégio se encontra em Frascati nos Colli Romani, vizinhança de Castel Gandolfo e Albano, a cerca de 30 Km do centro da Cidade Eterna. Pertencia aos duques Bomncomnpagni di Sora. S. Carlos Borromeu ali se hospedou em 1582, durante a estadia de Gregório XIII, da ilustre estirpe Boncompagni. Em 1617 Villa Sora recebe a visita de S. José Calazans. O santo leva processionalmente para a cidade a imagem da Virgem Consolo dos Aflitos. O Capuchinho, Venerável João de Augusta falece na cidade em outubro de 1762. D. Bosco andou por aquelas paragens em 1867, ermbora não tenha entrado na Villa, em virtude do relacionamento com a duquesa de Sora. Os SDB começaram a trabalhar em Frascati em 1896, na direção e administração do Seminário, a pedinopor solicitação do Cardeal Serafim Vannutelli. O clero e leigos católicos também mandaram ao Pe. M. Rua, uma lista com 119 assinaturas, solicitando a vinda dos SDB para Frascati. Pe. Artur Conelli (1864-1924), um dos ecônomos gerais da Congregação, comprou a Vila em 1900, O dinheiro para a primeira prestação foi emprestado pela mãe do sacerdote. O total de Lit 50.000 com baixos juros deveria ser saldado anualmente com prestaççõesprestações de Lit 5.000. Após a compra da casa e terreno, o Beato Pe. Miguel Rua passou a ser um de seus visitantes. O educandário instalado pelo Pe. A. Conelli (primeiro diretor, de 1898 a 1902) teve a honra de acolher como aluno interno a Severino Namuncurá, o moço argentino filho do rei dos pampas. Villa Sora encontra-se fechado desde 28 de julho de 1980.
[127] Summarium Addizionale p., 60.
[128] L. Castano. Santitá Salesiana, p., 160.
[129]Id. Agonia y sublimación…, p., 162.
[130] Cerca de 40 minutos, o que para um andarilho mapuchepatagônico não significava nada.
[131] L. Castano. Agonia e sublimación…, p., 198.
[132] Id. p., 199.
[133] BS 29 (1906) 184-185.
[134]Em R. Noceti, La Sangre del la tierra..., p.142, lê-se que Namuncurá foi declarado Venerável em 1976. Trata-se de um lapso.
[135] J. A. Lindgren in Telma Berardo. Globalização Econômica, Política Neo-Liberais e Direitos Econômicos e Sociais, DESC.
[136] Jugurta conquistou Creta massacrando alguns romanos e itálicos que ali viviam. Roma não gostou e enviou à Numídia um dos Cônsules mais jovens, Lúcio Calpúrnio Bestia. O jovem Cônsul deveria ensinar a Jugurta que não se trucidava impunemente cidadões romanos e itálicos. Béstia, homem corruptível, precisando de dinheiro para fazer carreira entre seus pares, conseguiu entender-se com Jugurta, recebendo deste uma valiosa soma para seu uso pessoal. Para os cofres de Roma consegue uma outra boa quantia e trinta elefantes de guerra (Cf. Colleen McCullough. I Giorni del Potere..., pp 47 ss).
[137] Cf. Ricardo Noceti. La sangre de la tierra..., p. 154.





[1] Dom Bosco teve muitos sonhos-visões misteriosos em sua vida.
[2] Um dos maiores historiadores salesianos de nosso tempo.

2 comentários:

  1. Muito interessante, gostei bastante do texto. Fico grata pela atenção e pela disponibilidade em compartilhar fonte de estudo de muito bom gosto.

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  2. Realmente a história do índio comoveu meu coração.

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