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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Deus Pai, Deus Filho e a linguagem juvenil (Francisco Catão)


Deus Pai e Filho e a linguagem juvenil
À guisa de encerramento cumpre ainda pensar sobre a expressão adequada da fé na Trindade para a realidade juvenil hodierna. Como falar à juventude da unidade e da distinção real entre o Pai e o Filho? Na verdade, a dificuldade de linguagem não se atém somente ao meio juvenil, mas a um contexto filosófico-cultural mais amplo, demandante da permanente atualidade do pensamento cristão. Na atualidade a linguagem abstrata, conceitual, lógica e totalizante cede espaço à linguagem mediada pela imagem, gesto, luz, cores, movimento, sentimento e emoção. O homo sentiens tende a se evidenciar mais que o homo rationalis. A experiência individual, subjetiva se sobrepõe à experiência coletiva.
Esse ambiente influencia a experiência religiosa, crescendo o interesse pela espiritualidade não necessariamente acompanhada da busca do conhecimento reflexivo dos conteúdos, das verdades da fé. Não interessa tanto um caminho de amadurecimento na fé e da fé nem a instituição com suas formulações dogmáticas, doutrinais. Por outro lado, a real existência de Deus não representa uma preocupação fulcral, pois a sociedade parece viver como se Deus não existisse. “Preferimos viver a vida tal como ela é, sem ter a coragem de aceitar nossos limites, reconhecendo também que há Alguém de quem dependemos inteiramente”.[1]
O conceito de pessoa a partir da modernidade adquire uma acentuação mais existencialista e menos essencialista, compondo sua concepção a dimensão relacional. A pergunta fundamental desloca-se do que é para o quem é, da substancia individuada do ser para o ser/pessoa em existência. Com base nesse deslocamento, na elaboração do discurso destinado aos jovens sobre a Trindade, sobre a pessoa de Deus Pai e de Deus Filho, não convém inicialmente uma demonstração estruturada racionalmente, de cunho lógico-metafísico ou formal. O movimento pedagógico de Tomás de Aquino das processões às relações e das relações às pessoas, demonstra sua sensibilidade com a importância das pessoas e das relações em Deus. A reflexão ou discurso tomasiano sobre as pessoas e as relações não representa um subterfúgio ou arranjo silogístico a fim de estruturar uma ideia, mas reflete algo essencial vivido internamente na Trindade: a comunhão de pessoas no amor. O caminho das relações é mais próximo da realidade dos jovens, afinal todos, na condição de filhos, possuem uma ideia clara do termo relativo pai e da relação dele decorrente. Todos os jovens, duma forma ou de outra, se relacionam, experimentaram ou experimentam algum tipo de relação baseada no amor.
Da acolhida da encarnação de Jesus e da sua missão salvífica (economia da salvação) pela fé, chega-se inevitavelmente à relação do Filho com o Pai. Pelas ações de Jesus é possibilitada ao jovem a entrada na vida interna da Trindade. A Trindade Econômica revela ou expressa de maneira reflexa algo da Trindade Imanente. A Trindade Econômica é a Trindade Imanente, todavia a Trindade Imanente não é a Trindade Econômica, permanecendo o mistério, o insondável e inefável. Jesus é fundamento da doutrina trinitária, é o caminho seguro a conduzir o crente à vida intratrinitária. Ele próprio afirma de si: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis, também conhecereis meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes” (Jo 14,6-7). No perfeito referimento de Filho e Pai, Jesus, pela sua filiação, insere o gênero humano na filiação divina, ou ainda, os seres humanos se tornam filhos no e pelo Filho. O jovem, na sua condição de pessoa, de ser relacional é chamado a se relacionar não com uma ideia acerca de Deus, mas com a pessoa do Pai e a pessoa do Filho em Deus. A iniciação do jovem cristão no mistério de Deus pelo conhecimento e pela experiência amorosa com Jesus representa um caminho privilegiado, contrário à perspectiva metodológica abstrata e ideativa observada frequentemente nas atividades catequéticas.













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