Deus Pai e Filho e a linguagem
juvenil
À guisa de encerramento
cumpre ainda pensar sobre a expressão adequada da fé na Trindade para a
realidade juvenil hodierna. Como falar à juventude da unidade e da distinção
real entre o Pai e o Filho? Na verdade, a dificuldade de linguagem não se atém
somente ao meio juvenil, mas a um contexto filosófico-cultural mais amplo,
demandante da permanente atualidade do pensamento cristão. Na atualidade a
linguagem abstrata, conceitual, lógica e totalizante cede espaço à linguagem
mediada pela imagem, gesto, luz, cores, movimento, sentimento e emoção. O homo sentiens tende a se evidenciar mais
que o homo rationalis. A experiência
individual, subjetiva se sobrepõe à experiência coletiva.
Esse ambiente
influencia a experiência religiosa, crescendo o interesse pela espiritualidade
não necessariamente acompanhada da busca do conhecimento reflexivo dos
conteúdos, das verdades da fé. Não interessa tanto um caminho de amadurecimento
na fé e da fé nem a instituição com suas formulações dogmáticas, doutrinais.
Por outro lado, a real existência de Deus não representa uma preocupação
fulcral, pois a sociedade parece viver como se Deus não existisse. “Preferimos
viver a vida tal como ela é, sem ter a coragem de aceitar nossos limites,
reconhecendo também que há Alguém de quem dependemos inteiramente”.[1]
O conceito de pessoa a
partir da modernidade adquire uma acentuação mais existencialista e menos
essencialista, compondo sua concepção a dimensão relacional. A pergunta
fundamental desloca-se do que é para
o quem é, da substancia individuada
do ser para o ser/pessoa em existência. Com base nesse deslocamento, na
elaboração do discurso destinado aos jovens sobre a Trindade, sobre a pessoa de
Deus Pai e de Deus Filho, não convém inicialmente uma demonstração estruturada
racionalmente, de cunho lógico-metafísico ou formal. O movimento pedagógico de
Tomás de Aquino das processões às relações e das relações às pessoas, demonstra
sua sensibilidade com a importância das pessoas e das relações em Deus. A
reflexão ou discurso tomasiano sobre as pessoas e as relações não representa um
subterfúgio ou arranjo silogístico a fim de estruturar uma ideia, mas reflete
algo essencial vivido internamente na Trindade: a comunhão de pessoas no amor.
O caminho das relações é mais próximo da realidade dos jovens, afinal todos, na
condição de filhos, possuem uma ideia clara do termo relativo pai e da relação
dele decorrente. Todos os jovens, duma forma ou de outra, se relacionam,
experimentaram ou experimentam algum tipo de relação baseada no amor.
Da acolhida da
encarnação de Jesus e da sua missão salvífica (economia da salvação) pela fé,
chega-se inevitavelmente à relação do Filho com o Pai. Pelas ações de Jesus é
possibilitada ao jovem a entrada na vida interna da Trindade. A Trindade
Econômica revela ou expressa de maneira reflexa algo da Trindade Imanente. A
Trindade Econômica é a Trindade Imanente, todavia a Trindade Imanente não é a
Trindade Econômica, permanecendo o mistério, o insondável e inefável. Jesus é
fundamento da doutrina trinitária, é o caminho seguro a conduzir o crente à
vida intratrinitária. Ele próprio afirma de si: “Eu sou o Caminho, a Verdade e
a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim. Se me conheceis, também
conhecereis meu Pai. Desde agora o conheceis e o vistes” (Jo 14,6-7). No perfeito
referimento de Filho e Pai, Jesus, pela sua filiação, insere o gênero humano na
filiação divina, ou ainda, os seres humanos se tornam filhos no e pelo Filho. O
jovem, na sua condição de pessoa, de ser relacional é chamado a se relacionar
não com uma ideia acerca de Deus, mas com a pessoa do Pai e a pessoa do Filho
em Deus. A iniciação do jovem cristão no mistério de Deus pelo conhecimento e
pela experiência amorosa com Jesus representa um caminho privilegiado,
contrário à perspectiva metodológica abstrata e ideativa observada
frequentemente nas atividades catequéticas.
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