Continuamos
nossa reflexão sobre as bem-aventuranças. O Evangelho de hoje nos faz duas
recomendações sobre como devemos nos relacionar e usar os bens materiais.
Nos
quarenta anos de deserto, o povo foi provado para ver se era capaz de observar
a lei de Deus (Êxodo 16,4). A prova consistia na capacidade de recolher só o
necessário de maná para cada dia, e não acumulá-lo para o dia seguinte.
Hoje,
nessa mesma linha, Jesus nos diz: “Não acumuleis riquezas aqui na terra, onde
as traças e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e roubam” (Mateus
6,19).
O
que significa acumular tesouros no céu? Trata-se de saber de onde viemos, o que
fazemos aqui na terra e para onde vamos. Descobrir qual o fundamento da nossa
existência e, nela, colocar a nossa confiança. Se a depositarmos nos bens
materiais desta terra, sempre correremos o risco de perder o que
acumulamos. Porém, se eles forem depositados em Deus, ninguém vai poder destruí-los
e teremos a liberdade interior de partilhar com os outros os bens que
possuímos.
Para
que isto seja possível e visível, é importante que criemos uma convivência
comunitária, a qual favoreça a partilha e a ajuda mútua, e na qual a maior
riqueza ou tesouro não será a material, mas sim da convivência fraterna,
nascida a partir da certeza trazida por Jesus de que Deus é o meu Pai e de
todos. E se Ele é nosso Pai, todos nós somos irmãos.
A
lâmpada do corpo são nossos olhos, pois, como disse Jesus, “os olhos
são como uma luz para o corpo”. Mas para entender o que Ele nos pede é
necessário ter “olhos novos”. O Senhor é exigente e nos pede para não
acumularmos riquezas nem não servir a Deus e ao dinheiro ao mesmo tempo. Estas
recomendações tratam daquela parte da vida humana, na qual as pessoas têm mais
angústias e preocupações. É urgente que tenhamos olhos lúcidos, porque, se eles
estiverem doentes, todo nosso corpo estará também debilitado.
Na
realidade, a pior doença que podemos imaginar é quando uma pessoa se fecha
sobre si mesma, sobre seus bens e confia só neles. É a doença da tibieza, da
mesquinhez. Quem olha a vida com esse olhar vive na tristeza e na escuridão. O
remédio para curar esta doença é a conversão, a mudança de mentalidade e de
ideologia. Colocando o fundamento da vida em Deus, o olhar se torna generoso e
a vida toda se torna luminosa, pois faz nascer a partilha e a fraternidade.
Jesus
quer uma mudança radical, quer que vivamos como Deus. A imitação do Senhor nos
leva à partilha justa dos bens e ao amor criativo, aquele que gera fraternidade
verdadeira.
“Onde
está sua riqueza, aí estará o seu coração.” Onde estão as nossas riqueza?
Muitas pessoas idolatram o marido, a esposa, os filhos ou parentes,
colocando-os acima de Deus. Outras colocam, em primeiro lugar, o dinheiro, os
bens matérias, mas relegam para o segundo – ou o último lugar – Deus e a
família. Esquecem-se de que é no Senhor e no amor ao próximo que está a fonte
da vida.
Meu
irmão, minha irmã, a vocês me dirijo e lhes pergunto: “Que luz vocês têm como
referência? Para onde direcionam os seus olhos? Para as coisas do mundo ou para
o Círio Pascal, fonte da luz sem ocaso? Ele é a luz no mundo, quem O segue não
se engana nem na vida nem na morte.
Padre Bantu Mendonça
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