30º Domingo do Tempo Comum/Ano B
Evangelho
Comentário
Mensagem
Jesus abre os olhos a quem procura ver
Embora caminho do Servo Padecente, a subida de Jesus a Jerusalém não
deixa de ser também a chegada do Messias. Se, nos domingos anteriores, a
liturgia acentuou, no paradoxal messianismo de Jesus, o lado da aniquilação,
hoje ela insiste num sinal messiânico evidente: a cura de um cego (evangelho).
A revelação de Jesus como messias “diferente” surge, portanto, da dialética
entre o que se esperava do Messias e o que não se esperava dele. Depois da
incompreensão dos discípulos em Mc 8,14-21, Jesus se manifesta como Messias
abrindo os olhos ao cego de Betsaida (8,22-26). Se, por um lado,
Jesus proíbe a publicidade (8,26), por outro, os “iniciados” (os discípulos) já
viram bastante para que, logo depois, Pedro profira a profissão de fé: “Tu és o
Messias” (8,29). Mas ele não sabe o que isso significa, pois ele pensa em
categorias humanas (8,33). Ao fim das predições da Paixão, secção em que os
discípulos são ensinados a respeito da natureza da missão do Cristo, embora sem
a entender plenamente (8,27-10,52), Jesus cura novamente um cego: Bartimeu, o
cego de Jericó. A este, Jesus não lhe proíbe publicar o acontecido; pelo
contrário, o homem “segue Jesus”. Pois é chegada a hora de revelar seu
messianismo, não só aos iniciados, mas à multidão reunida em Jerusalém. A cura
de Bartimeu acontece na saída de Jesus de Jericó, na direção de Jerusalém, onde
Jesus será acolhido, logo depois, como o rei messiânico (embora a multidão em
11,1ss saiba o que isso implica … ). Portanto, podemos dizer que, ao abrir os
olhos a Bartimeu, Jesus deixa entrever seu messianismo a todo o povo de Israel.
Mas Bartimeu é também o protótipo dos que querem ver. Esta é a condição
para salvação. Ele é salvo, porque tem fé (10,52). Ele a demonstrou de modo
palpável, insistindo em chamar a atenção de Jesus, apesar das reprimendas da
multidão e dos próprios discípulos. Ele invoca Jesus como Messias (“Filho de
Davi”), em plena multidão e Jesus confirma sua invocação pelo atendimento que
lhe concede. Pressentimos aqui as multidões de Jerusalém aclamando Jesus como o
que traz presente o “Reino de nosso pai Davi” (11,10). Mas, apesar de todo o
entusiasmo, ele continuará seu caminho até o Gólgota.
A liturgia dos domingos do tempo comum não acompanha Jesus no resto do
caminho da cruz: a Semana Santa é que faz isto. Portanto, será bom, neste 30°
domingo, fazer uma meditação sintética sobre este caminho, que a alguns
domingos estamos acompanhando. Caminho paradoxal, de sinais e desconhecimento,
fé e incompreensão, entusiasmo e aniquilação … Cada um traz em si alguma
esperança messiânica, alguma utopia. Será que ela corresponde ao critério de
Cristo, que mostra ser, ao mesmo tempo, a negação e a plenitude daquilo que
esperamos? Para receber em plenitude, precisamos admitir uma revisão daquilo
que esperamos. Talvez seja isso que sugere a oração do dia: amar o que Deus
ordena e receber o que ele promete.
A 2ª leitura é semelhante à de domingo passado. Situa o ser sacerdote de
Jesus na sua solidariedade com os homens e com Deus ao mesmo tempo.
Participando de nossa condição, santifica-a. É o pontí-fice por
excelência. Não Jesus mesmo, mas também nenhuma instituição humana, lhe
conferiu este poder. Ele pertence a uma linhagem sacerdotal que supera até a de
Aarão, por ser primeira e de origem desconhecida, misteriosa: a linhagem de
Melquisedec (cf. 14,18-20).
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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