1877
1
[A don Giulio Barberis]
ASC B 710
Aut.
francês. 2ff., 210 x 133 mm, papel branco pautado. Inédito
Alegria
pelas notícias do mestre – desejo de receber sempre seus bons conselhos – ausência
de Lanzo e afastamento de Turim por causa do serviço militar – transferência
para Nice – assistente dos aprendizes – progresso dos alunos em educação
científica e moral – rezam bastante bem – pedido de orações a Maria Auxiliadora
– saudações aos Superiores e a D. Bosco
Vive
Jésu
*Nice, 21 Mai 1877
Vive
Jésus dans notre cœur en lo nuestro corazón
Mon
cher maître[2],
très révérend.
La lettre que vous vous êtes d[a]igné de
m’écrire m’a vraiment comblé de joie. Le souvenir de votre Laurent[3]
fut à jamais en vous n’est-ce pas? Moi aussi j’ai pensé bien souvent à vous
comme à mon bienfaiteur. J’ai connu l’an de la seconde philosophie combien vous
désiriez de me combler de biens et j’aurai voulu passer non seulement quelques
mois à votre école, mais quelque an. J’aurai voulu user avec vous toute ma
confidence afin de recevoir souvent vos bons conseils. Plusieurs fois après ce
temps-là j’ai désiré vous écrire mais peut-être jamais je me serais induit à
accomplir ce désir si vous même non m’offriez cette occasion. Je vous remercie
et pour témoigner ma reconnaissance je vous écrirai une longue lettre. La
voici.
/ Vous le savez: je fus obligé à laisser pour
toujours Lanzo[4], où
jouissais de tant de biens et surtout d’un directeur qui m’était père depuis
environ huit ans: je fu obligé d’aller loin de Turin[5]
où j’avais tous mes chères supérieurs, pour fuir la vie militaire, qui depuis
longtemps m’était cause de tant de troubles. Je suis venu à Nice[6].
Hélas! Le jeûne, les afflictions m’avaient abattu l’esprit et la santé tel que
j’étais bon à rien et enfin à présent je me [ne] suis pas encore pu remettre
dans mon premier état. Je suis surveillant des artisans: Bianchi fait l’école
de latin aux étudiants: est leur assistant dans l’étude.
D’étudiants il y en a catorze divisés en deux
sections dans les quels ils font la primaire ginnasiale supérieure, et les
autres six la inférieure. Il y a onze tailleurs, trois cordonniers, cinq
menuisiers. Voici l’ordre de la maison: elle est toute comme à Turin, excepté
que après dîner /il y a l’école de chant pour tous à une heure et demie jusqu’à
deux heures: le soir à sept jusqu’à huit chant pour les étudiants, école pour
les artisans. Maître de musique il est un certe Tomas, moi je suis assistant.
Les enfants sont d’une très grande vivacité: presque tous furent recueillis au
milieu de places: ils font grand progrès dans l’éducation scientifique et
morale et les messieurs qui viennent à visiter l’établissement sont fort
étonnés de leur conduite, spécialement de la manière de prier dans l’église (en
vérité ils prient assez bien!). Cependant il faut exercer avec eux une très
grande patience, ayant été accoutumés auparavant à obéir à leur tête. Il y a
quinze jours, cinq ont fait leur première communion: hier la firent aussi
autres cinq. Oh combien de prêtres et de clercs il y faudrait être à Nice avec
l’esprit de douceur et de charité de S. François[7]!
Vous qui en avez beaucoup / y en envoyé bientôt un nombre fort grand de ceux
qui sachent parler français. Moi misérable, qui suis incapable à dire deux mots
en cette langage qui cependant me plaît tant! Je trouve une grande difficulté à
vaincre ma timidité pour le parler. Patience! Vous priez beaucoup Marie
Auxiliatrice pour moi. Vous saluez mes supérieurs et surtout mon très cher père
D. Bosco. Quand vous irez à Rome demandez pour moi la bénédiction du Grand Pie[8],
Vicaire de J.C. Présentez mes saluts à D. Scappini[9],
D. Monateri, D. Montiglio, D. Daghero, Brione etc. Souvenez-vous souvent de moi
dans vos prières: m’écrivez quelque fois quelque lettre: elles me seront
d’encouragement dans le difficil[e] chemin dans lequel je me suis mis. J’espère
de parvenir un jour à jouir dans ma vraie patrie de l’éternelle compagnie de
vous et de toutes les personnes chères que j’ai perdu(es) ici-bas
Votre très cher
Jean Jourdain
Certain] certe G 34 langue] langage G
[1]
[Ao P. Júlio Barberis]
V J!
*[Nice, 21 de maio de 1877]
Viva Jesus em nosso
coração!
Jesus esteja sempre em
nosso coração.
Meu caro mestre,
reverendíssimo
A carta que o senhor se dignou me escrever, encheu-me realmente de alegria.
As recordações do seu Lourenço Giordano jamais apagaram, não é? Eu também penso
frequentemente no senhor como meu benfeitor. Percebi durante o segundo ano de
filosofia, quanto o senhor gostaria de me cumular de bens. Eu quis passar não
somente alguns meses na sua escola, mas alguns anos. Quis depositar no senhor
toda minha confiança, a fim de receber frequentemente seus conselhos. Várias vezes
depois disso, desejei escrever-lhe, mas talvez jamais eu teria sido induzido a
realizar este desejo, se o senhor mesmo não me oferecesse esta ocasião.
Agradeço-lhe e para testemunhar meu reconhecimento, escrevo-lhe uma longa
carta. Êi-la.
Sou assistente dos aprendizes. Bianchi dá aulas de latim aos estudantes, é
seu assistente no estudo. Os estudantes são 14 divididos em duas secções, nas
quais oito fazem a primeira ginasial superior, os demais seis a inferior. Há
onze alfaiates, três sapateiros, cinco marceneiros. Eis a disposição da casa: é
toda como a de Turim, exceto que após o almoço há aula de canto para todos, da
uma e meia às duas horas. À noite, das sete às oito, canto para todos os
estudantes, aula para os aprendizes. O mestre de música é um certo Tomás, eu
sou o assistente.
Os meninos são muito vivazes, quase todos foram recolhidos no meio das
praças. Fazem grande progresso na educação científica e moral. Os senhores que
visitam o estabelecimento ficam impressionados com o comportamento deles,
especialmente como rezam na Igreja (na verdade rezam muito bem). Não obstante
isso é necessário ter com eles uma grande paciência, sendo antes acostumados a
obedecerem à sua própria cabeça. Há quinze dias que cinco fizeram sua Primeira
Comunhão, ontem fizeram-na outros cinco. Oh, quantos padres e clérigos seriam
necessários em Nice, com o espírito de doçura e caridade de S. Francisco! O
senhor que dispõe de muitos, mande-nos logo um bom número daqueles que falam
francês. Ai de mim, que sou incapaz de dizer duas palavras nesta língua, que
não obstante, me agrada tanto. Tive grande dificuldade em vencer minha timidez
para falar. Paciência!
Reze muito a Maria Auxiliadora por mim. Cumprimente meus Superiores e
sobretudo meu caríssimo pai, D. Bosco. Quando for a Roma, peça para mim a
bênção do grande Pio, Vigário de Jesus Cristo.
Apresente minhas saudações ao P. Scappini, P. Monateri, P. Montiglio, P.
Daghero, Brione etc. Em suas orações lembre-se frequentemente de mim. Alguma
vez escreva-me uma carta: ser-me-ão de encorajamento no caminho difícil no qual
me coloquei. Espero poder um dia gozar na minha verdadeira pátria de sua eterna
companhia e de todas as pessoas queridas, que perdi aqui em baixo
Seu caríssimo
João Renzo Giordano
[1] Mistura de línguas. O
então teólogo Lourenço Giordano falava italiano (sua língua materna, juntamente
com o piemontês), francês e latim. Na época devia estar estudando o espanhol,
pois desejava
ser missionário na América. No Brasil aprendeu também o português.
[2]
Mon cher maître: A carta não traz o destinatário. É possível que seja o P.
Júlio Barberis, Mestre do noviço Lourenço Giordano. Barberis: Júlio Barberis
(1847-1927). Aos 13 anos a mãe leva-o para o Oratório de Valdocco.
“Seremos sempre amigo, ...serás meu ajudante”, disse-lhe D. Bosco. Tornou-se
salesiano, laureando-se em teologia em 1873 pela Universidade de Turim. Foi
mestre de Noviços, professor no Ginásio de Valdocco, sócio Ordinário
Auxiliadora Real Sociedade Geográfica e diretor do estudantado filosófico de
Valsalice. Fez parte do Capítulo Superior da Congregação, exercendo o cargo de
Mestre de Noviços. Durante os três anos em P. Paulo Álbera visitou as casas da
América P. Barberis substitui-o como Diretor Espiritual da Sociedade, continuando
na mesma função quando o mesmo P. Álbera foi eleito Reitor Mor. Dizionario Biografico
dei Salesiani [DBS], a cura dell’Ufficio Stampa Salesiano – Torino, 1969, pp 29-30.
[3]
Laurent: Esta carta foi escrita em 1877, um ano antes de sua ordenação
em Toulon, França (21/12/1878).
[4]
Lanzo: Lanzo Torinese, obra fundada por D. Bosco perto de Turim, 1864.
[5] Turin: Era a Capital do
Reino do Piemonte. Naquela cidade o apóstolo dos jovens começou sua obra em
prol da juventude, fundando na capital do Piemonte, um Oratório no bairro de
Valdocco. A título de informação lembraria que o Oratório de Valdocco não era
simplesmente um agrupamento de jovens aos domingos e festas para fazer recreação com D. Bosco e ouvirem
dele palavras amigas ou de formação religioso-moral. Tratava-se de um complexo formado
paulatinamente por uma série de construções, onde se abrigavam oratorianos
externos, jovens que frequentavam a escola primária diurna, aprendizes de
oficinas, estudantes, noviços e jovens salesianos em formação.
[6]
Nice: primeira obra fundada por D. Bosco fora da Itália. Em 09 de novembro de
1875, 04 salesianos começaram em Nice, França, um oratório e um internato para
aprendizes. Não confundir com Nizza, no Monferrato, Piemonte. No mesmo
ano (D. Bosco tinha então 60 anos) foi enviada a primeira expedição missionária
para a América (Argentina).
[7] S. François: S.
Francisco de Sales (1567-1622). É o patrono da Congregação Salesiana, também
denominada Sociedade de S. Francisco de Sales, uma homenagem do santo de Turim
ao santo de Sales. Francisco de Sales tornou-se bispo, em
1599. Em 1602 tomou posse da Diocese de Genebra. Em 1610 com Santa Joana de
Chantal (1572-1641) fundou as Religiosas Visitandinas. Foi canonizado em 1665 e
em 1877 declarado Doutor da Igreja.
[8] Grand Pie: O Papa Pio IX (1792-1878), cujo nome era João Maria Mastai
Ferretti. Cardeal em 1840 e Papa em 1846. Governou a Igreja durante 32 anos, um
dos mais longos pontificados. Durante sua permanência na sede de Pedro
aconteceram a proclamação do dogma da Imaculada Conceição de Maria (1854); a
infalibilidade pontifícia (1870); o Concílio Vaticano I (1869-1870); o fim
traumático do domínio temporal dos Pontífices romanos; o conflito entre a
Igreja e o Novo Estado Italiano, chamada Questão Romana. Pio IX muito ajudou D.
Bosco a dar os primeiros passos com sua Congregação. João Paulo II proclamou-o
beato em 03 de setembro de 2000.
[9] D. Scappini: P. Scappini Giuseppe, 1845-1918. D. Monateri: P. Monateri
Giuseppe, 1847-1914.
D. Montiglio: P.
Montiglio Carlos, 1849-1911. D. Daghero: P. Giuseppe Daghero, 1848-1912. Brione: não encontrado. Briones sim, porém mais recente. Possivelmente
tratava-se de um dos familiares, cujos nomes não apareciam nos necrológios.
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