Contexto econômico – social
As cartas escritas após a vinda do P. L.
Giordano, do Uruguai para o Brasil, iniciam-se em 1885, quando ele assumiu a
direção do Liceu Coração de Jesus em S. Paulo.
Em nosso trabalho publicado pela LAS – ROMA
2000[1],
já abordamos alguns tópicos referentes à política econômica dos últimos anos da
Monarquia e primeiros da República. Aqui seremos mais sucintos.
O país, carente de insumos e incapaz de
alimentar por si as indústrias, teve que importar maquinaria, ferro, produtos
químicos e até mesmo matéria prima. O resultado foi endividamento com os
bancos, fornecedores do capital para as transações realizadas.
A esta política inflacionária contrapunha-se a
corrente dos fazendeiros de café, que batalhava pela «fonte da riqueza
nacional», a agricultura cafeeira. Eles não concordavam com a politicalha, com
o denominado encilhamento[2]
que favorecia o protecionismo aos banqueiros, endividando as indústrias.
Outro aspecto de efeito negativo para a
economia era o desequilíbrio da política orçamentária originado pelos gastos
militares com as revoltas, que a partir de ’92, o Presidente Floriano Peixoto
foi obrigado a enfrentar.
Em 1898, o cafeicultor paulista Campos Sales
(1898 – 1902) substituiu o Presidente Prudente de Moraes. Frio e autoritário
(para ele política era coisa prá gente culta), uma de suas preocupações era
sanear as finanças. Insurgiu-se contra a política de desvalorização da moeda,
fechou boa parte das torneiras dos gastos públicos, tanto os de consumo como os
de investimentos. Suas medidas geraram forte crise econômica interna, a
quebradeira de muitos bancos e a queda dos preços em cerca de 30%. P. Giordano
em suas cartas como Diretor em S. Paulo, em Recife, na Tebaida, ou ainda como Inspetor
refere-se com frequência à situação econômica. Não havia dinheiro para melhorar
ou continuar as obras educacionais. Vivia-se constantemente com dívidas
atrasadas.
Desde Prudente de Morais e continuando com
Campos Sales os representantes da burguesia agrária passaram a apoiar o governo
central. Tornou-se então famosa a “política dos coronéis”, pela qual os
negócios da República passaram a ser controlados pela classe dos agricultores,
os porta vozes da «fonte da riqueza nacional», como vimos anteriormente.
A “política dos coronéis” tem muito a ver com a
história da atividade educacional dos Salesianos – bem como de outros
religiosos educadores – que então trabalhavam no Brasil ou foram posteriormente
desenvolver suas atividades naquela nação. Os que atendiam, com a ajuda do
governo ou da sociedade, à juventude, ou infância pobre – órfãos, ingênuos[3],
meninos de rua – tiveram seus subsídios governamentais ou sociais cortados.
A crise econômica atingira a todos, inclusive as famílias que não mais tinham
condições de ajudar as organizações beneficentes.
Os religiosos para continuarem a educação dos
meninos e meninas carentes tiveram que acolher em seus estabelecimentos,
internatos ou externatos, também alunos pagantes. Assim os alunos que podiam
pagar, ajudavam indirectamente na educação dos carentes[4].
Em 1902 C. Sales entrega o poder a Rodrigues
Alves (1902 – 1906). As finanças estão equilibradas e a economia saudável e
crescendo.
[1]
ANTENOR DE ANDRADE, Os Salesianos e a educação..., LAS – ROMA 2000, PP.
54 - 56.
[2]
Período logo após a proclamação da República (1889 – 1891) quando, em
decorrência da expansão de crédito para as empresas industriais, houve criação
de numerosas sociedades anônimas e intensa especulação com acções (Aurélio). «O
encilhamento estonteava. Fechavam-se diariamente na bolsa... negócios
fabulosos, subindo a milhares de contos de réis». (Leôncio Correia, A Boêmia de meu Tempo, p. 139).
[3] Os
filhos livres de escravos, a partir da Lei do Ventre Livre, 1871.
[4]
ANTENOR DE ANDRADE, Os Salesianos e a educação..., LAS – ROMA 2000, pp.
152 – 154.
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