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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

L. Giordano. História salesiana no Brasil - VI


 Contexto econômico – social 


As cartas escritas após a vinda do P. L. Giordano, do Uruguai para o Brasil, iniciam-se em 1885, quando ele assumiu a direção do Liceu Coração de Jesus em S. Paulo.
Em nosso trabalho publicado pela LAS – ROMA 2000[1], já abordamos alguns tópicos referentes à política econômica dos últimos anos da Monarquia e primeiros da República. Aqui seremos mais sucintos.
A base do sistema econômico deixado pelo Império era a exportação agrícola, sobretudo o café e as matérias primas. Advindo a República, o Governo Provisório resolveu incentivar a industrialização. O sistema bancário com o lançamento de papel moeda e as empresas com os títulos e ações desencadearam uma pesada inflação. Prova evidente que o sistema não funcionava.
O país, carente de insumos e incapaz de alimentar por si as indústrias, teve que importar maquinaria, ferro, produtos químicos e até mesmo matéria prima. O resultado foi endividamento com os bancos, fornecedores do capital para as transações realizadas.
A esta política inflacionária contrapunha-se a corrente dos fazendeiros de café, que batalhava pela «fonte da riqueza nacional», a agricultura cafeeira. Eles não concordavam com a politicalha, com o denominado encilhamento[2] que favorecia o protecionismo aos banqueiros, endividando as indústrias.
Outro aspecto de efeito negativo para a economia era o desequilíbrio da política orçamentária originado pelos gastos militares com as revoltas, que a partir de ’92, o Presidente Floriano Peixoto foi obrigado a enfrentar.
Em 1898, o cafeicultor paulista Campos Sales (1898 – 1902) substituiu o Presidente Prudente de Moraes. Frio e autoritário (para ele política era coisa prá gente culta), uma de suas preocupações era sanear as finanças. Insurgiu-se contra a política de desvalorização da moeda, fechou boa parte das torneiras dos gastos públicos, tanto os de consumo como os de investimentos. Suas medidas geraram forte crise econômica interna, a quebradeira de muitos bancos e a queda dos preços em cerca de 30%. P. Giordano em suas cartas como Diretor em S. Paulo, em Recife, na Tebaida, ou ainda como Inspetor refere-se com frequência à situação econômica. Não havia dinheiro para melhorar ou continuar as obras educacionais. Vivia-se constantemente com dívidas atrasadas.
Desde Prudente de Morais e continuando com Campos Sales os representantes da burguesia agrária passaram a apoiar o governo central. Tornou-se então famosa a “política dos coronéis”, pela qual os negócios da República passaram a ser controlados pela classe dos agricultores, os porta vozes da «fonte da riqueza nacional», como vimos anteriormente.
A “política dos coronéis” tem muito a ver com a história da atividade educacional dos Salesianos – bem como de outros religiosos educadores – que então trabalhavam no Brasil ou foram posteriormente desenvolver suas atividades naquela nação. Os que atendiam, com a ajuda do governo ou da sociedade, à juventude, ou infância pobre – órfãos, ingênuos[3], meninos de rua – tiveram seus subsídios governamentais ou sociais cortados. A crise econômica atingira a todos, inclusive as famílias que não mais tinham condições de ajudar as organizações beneficentes.
Os religiosos para continuarem a educação dos meninos e meninas carentes tiveram que acolher em seus estabelecimentos, internatos ou externatos, também alunos pagantes. Assim os alunos que podiam pagar, ajudavam indirectamente na educação dos carentes[4].
Em 1902 C. Sales entrega o poder a Rodrigues Alves (1902 – 1906). As finanças estão equilibradas e a economia saudável e crescendo.




[1] ANTENOR DE ANDRADE, Os Salesianos e a educação..., LAS – ROMA 2000, PP. 54 - 56.
[2] Período logo após a proclamação da República (1889 – 1891) quando, em decorrência da expansão de crédito para as empresas industriais, houve criação de numerosas sociedades anônimas e intensa especulação com acções (Aurélio). «O encilhamento estonteava. Fechavam-se diariamente na bolsa... negócios fabulosos, subindo a milhares de contos de réis». (Leôncio Correia, A Boêmia de meu Tempo, p. 139).
[3] Os filhos livres de escravos, a partir da Lei do Ventre Livre, 1871.
[4] ANTENOR DE ANDRADE, Os Salesianos e a educação..., LAS – ROMA 2000, pp. 152 – 154.

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