História inicial dos
Salesianos no Brasil[1] - I
O missionário Pe.
Lourenço Giordano[2]
Contextos
1. Contexto missionário
brasileiro até à vinda dos Salesianos
Frei Henrique de Coimbra
Segundo os historiadores Frei Henrique de
Coimbra chegou ao Sul da Bahia em 26 de abril de 1500.
Os descobridores lusos integravam num mesmo
pacote império e fé. Assim é que parte dos homens embarcados na esquadra, que
Pedro Álvares Cabral conduzia às Índias, incluía também um grupo de oito Frades
Menores de S. Francisco[3],
OFM. O superior daquele punhado de apóstolos chamava-se Frei Henrique de
Coimbra. Fazendo uma rápida escala, ao chegarem ao Sul do Novo Mundo,
celebraram a Primeira Missa numa praia baiana, denominada Cabrália. Era o dia
26 de abril de 1500, desde então uma data famosa na história do Brasil.
Os habitantes locais curiosos e desconfiados observaram as funções
litúrgicas sem nada entenderem. Irrealizável qualquer tipo de catequese, mesmo
porque a comunicação linguística era um dos problemas entre missionários e
indígenas. Trocas de presentes, sorrisos e cortesias eram o máximo que poderia
acontecer.
Não há muito que dizer sobre a evangelização nestes primeiros 49 anos
da Colônia. Faltava um plano orgânico que garantisse a continuidade do trabalho
apostólico. Geograficamente as presenças de missionários eram esparsas e
descoordenadas. Fala-se de Franciscanos em Salvador, Porto Seguro, no litoral
do Estado catarinense. Em que pesem as dificuldades[4],
inclusive o massacre pelos Tupiniquins, de dois Franciscanos em 1510, a missão
foi retomada com mais intensidade em 1515. Anos mais tarde os Jesuítas
encontraram resultados positivos e notáveis daquela catequese inicial e
empírica.
A pregação da fé
Enquanto os expedicionários de El-Rei
conquistavam novas terras e aumentavam os domínios imperiais do ultramar, os
religiosos tentavam semear os rudimentos espirituais da fé romana.
Entre os primeiros grupos desses missionários encontramos os jesuítas
que aportaram ao Novo Mundo em 1549, precisamente em terras brasileiras. O
chefe do grupo, formado por seis confrades, era o P. Manuel da Nóbrega, que
depois se tornou Superior da Primeira Província brasileira e um dos vultos de
proa da História da Igreja na Terra de S. Cruz.
As dificuldades iniciais foram muitas, não só da parte das autoridades
civis, mas também da elite eclesiástica, como no caso do senhor bispo D. Pedro
Fernando Sardinha[5]. Defensores
dos índios os missionários muitas vezes iam de encontro aos interesses dos que
usufruíam e escravizavam os selvagens. A coragem e o arrojo dos homens de
batina fizeram com que já em 1580 eles formassem um grupo de 140 sacerdotes com
duas grandes escolas e cinco residências. Em Salvador da Bahia tinham seu ponto
de apoio, de onde irradiavam a Boa Nova aos selvagens e negros cativos das
várias regiões do país. Nesta época não podemos esquecer as figuras do P. José
de Anchieta (1534-1597) – beatificado pelo Papa João Paulo II – e do P. Antônio
Vieira, o “Grande Padre” dos índios.
Jesuítas ou Franciscanos Menores (OFM) trabalhavam com entusiasmo e
arrebatamento, como podemos constatar, através da pena de um destes grandes
pioneiros, o P. Manuel da Nóbrega SJ. Em uma de suas cartas ao Provincial, P.
Simão Rodrigues, residente em Lisboa, assim se expressa:
«Esta terra é nossa empresa,
e o mais gentio do mundo. Não deixe lá [em Portugal] V. R.[,] mais que uns
poucos para aprender, os mais venham. Tudo lá é miséria quanto se faz: quando
muito ganham-se cem almas, posto que corram todo o Reino; cá é grande mancheia»[6].
Em 1552, os missionários de Santo Inácio já davam aulas na língua
local, servindo-se inclusive de catequistas autóctones. «Mais que ninguém
souberam interpretar e viver os ideais missionários de Portugal, que fazia da
catequese a base de sua colonização».[7]
Os historiadores irão demonstrar o trabalho civilizador e intimorato
dos loiolistas no Brasil Colônia. Um destes pesquisadores é o renomado P.
Serafim Leite, SJ, especialista incontestável da história da Companhia de Jesus
no Brasil. Sua produção está contida em dez volumes.
Um dos sérios problemas que os padres tiveram que combater ao iniciarem
suas lides apostólicas, foi a defesa do gentio face aos maus tratos dos
colonizadores. o primeiro sinal
ostensivo e inquietante desta problemática, por parte dos navegadores
portugueses na Amazônia, vem de janeiro de 1616. Naquele ano fundaram na embocadura
do rio Pará, o Forte do Castelo, surgindo posteriormente a Vila de Nossa
Senhora de Belém do Grão Pará, hoje a cidade de Belém, capital do Estado do
Pará. A partir de então os autóctones não tiveram mais paz. Perseguidos e com
as aldeias destruídas, os homens das selvas foram forçados a trabalharem como
escravos para os brancos.
Um dos caçadores de índios mais famoso e temido da região chamava-se
Bento Maciel Parente, o Raposo Tavares do Sul do país ou o Domingos Jorge
Velho, paulista que lutou contra os índios da Bahia ao Piaui. Tinha total apoio
de Lisboa. Como prêmio de seus genocídios, recebeu em 1637, uma enorme extensão
de terra, incluindo o atual Estado do Amapá.
O jesuíta português P. Antônio Vieira quando chegou à Amazônia em 1653,
ficou tão mal impressionado com a exploração e o sofrimento que os brancos
infligiam aos autóctones que começou de imediato a verberar acerbamente contra
os europeus e seus aliados, índios ou mamelucos. Chamou a todos de pecadores
desalmados: escravizadores, exploradores, assassinos dos gentios.
Diante da situação, Vieira resolve (1655) falar diretamente com o rei
Dom João, em Lisboa. Mesmo pressionado política e economicamente, o monarca
baixou algumas leis que vieram amainar a problemática. Os missionários conseguiram
então concentrar cerca 200.000 índios em mais de 50 aldeias. O branco que
desejasse entrar em qualquer daquelas malocas deveria conseguir uma
autorização.
[2]
Lourenço Giordano nasceu em Ciriè, Turim, Itália em 11 de julho de 1856. A
localidade, hoje com cerca de 20.000 hab., situa-se a meio caminho entre Turim
e Lanzo. Seus pais eram Estevão Giordano e Lúcia Gino. Faleceu em 04 de
dezembro de 1919, enquanto fazia uma visita pastoral na Prefeitura Apostólica
do Rio Negro, Estado do Amazonas.
[3]
Francisco de Assis, um dos maiores santos da Igreja, filho de um rico
comerciante de Assis (Itália). Nasceu em 1182 e faleceu em 3 de outubro de
1226. Iniciou um importante movimente de renovamento religioso, também
repercutindo em âmbito social. No ano de 1209 iniciou a Ordem dos Frades
Menores ou Franciscanos, aprovada verbalmente por Inocêncio III. São Francisco
pregou na Itália, Espanha, Marrocos e no Egito. Em 1224 recebeu os estigmas da
Paixão de Cristo. Sua restos mortais se encontram na Basílica de Assis. Foi
canonizado em 1228. Em 1939 Pio XII declarou-o patrono principal da Itália com
Santa Catarina de Sena.
[4] Entre
outras, o massacre de dois Franciscanos pelos Tupiniquins, em 1510.
[5]
Primeiro bispo do Brasil, nascido em Évora ou Setúbal. Veio de Portugal para
converter os indígenas à doutrina católica. Estudou em Paris, Salamanca
e Coimbra e após ser vigário-geral de Goa, foi designado bispo da Bahia por D.
João III. Chegou ao Brasil (1552) com uma comitiva de clérigos para o trabalho
de catequese e inaugurou a diocese ainda sob o governo de Tomé de Sousa.
Autoritário e impaciente com os nativos e adepto de métodos duros na conversão,
entrou em conflito com Manoel da Nóbrega e outros jesuítas por achar que
eles eram muito complacentes com os costumes indígenas. Também entrou em choque
com Duarte da Costa em razão de uma reprimenda que fez ao filho do novo
governador. Embarcou, então, decidido a ir até Lisboa a fim de queixar-se ao
monarca, porém o navio em que viajava naufragou na foz do rio Coruripe, na
costa alagoana. Sobrevivente do naufrágio, foi aprisionado juntamente com cerca
de outras cem pessoas, pelos índios caetés (1556). Despidos e atados com cordas
pelos caetés, foram todos trucidados e comidos um a um ao longo daquele ano,
segundo o relato do historiador frei Vicente do Salvador.
www.sobiografias.hpg.ig.com.br/PeroFSar.html
[6]
Centro de Pesquisa de Barbacena, CÉSAR, Catequese/75.
[7] Idem.
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