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sábado, 29 de setembro de 2012

Uma reflexão sobre o homem Jesus Cristo




Quem é Jesus? [Mc 8, 27-35. Lc 9, 18-22.]

P. Antenor de Andrade

 É de importância fundamental sabermos quem é JESUS, sobretudo para nós Cristãos. Todo aquele que aborda seriamente a vida, a própria existência tem este assunto como um dos pontos centrais de suas reflexões. Marcos em seu Evangelho tentou resolver esta indagação no oitavo dos dezesseis capítulos de sua narrativa.
Estamos ao Norte da Palestina, na Galiléia. O Mestre se encontra nos arredores de Casaréia de Felipe[1], local bastante povoado por pagãos. O texto  de Marcos dá a entender que Jesus inicia sua caminhada em direção a Jerusalém. Deste momento em diante começa a falar abertamente com seus discípulos sobre seu destino e o papel de seus discípulos na terra.
Os contemporâneos de Jesus, que pensavam sobre ele? O problema do Jesus histórico, é ainda hoje debatido em livros, filmes, entre os que não aceitam a mensagem evangélica.
Nosso conhecimento de Cristo, não é como o de seus contemporâneos, que o viram pessoalmente (cf 2Cor. 5,16), mas de Alguém que nos é apresentado pela Igreja, ressuscitado, espiritual e não o pregador Galileu que caminhava pelas glebas da Palestina. Não obstante, nossa fé não se baseia em fábulas, ou estórias para embalar crianças simples e ingênuas.  Ela se alicerça na história, na Ressurreição que supõe a Encarnação, a entrada de um Deus na história humana.

Como chegamos a conhecer o Jesus que nasceu em Belém, viveu em Nazaré e aí pelos anos 30 de nossa era foi morto em Jerusalém? Um homem tão importante que chegou mesmo a mudar a história em Antes de Cristo e Depois de Cristo?
 Não podemos encontrar outra resposta a esta pergunta a não ser  nos Evangelhos, tendo-se presente que eles “não são uma crônica histórica de fatos, mas (são) obras religiosas”.

João ao concluir seu livro diz:

«Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escrito neste livro. Estes, porem foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e para que crendo tenhais a vida em seu nome»(Jo 20, 30, 31).

No epílogo de sua obra o mesmo Apóstolo ainda sublinha:

«Este é o discípulo que deu testemunho dessas coisas e que as escreveu. E nós sabemos que seu testemunho é verdadeiro. Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos» (cf Jo 21, 24,25).

Os exegetas de todas as correntes são unânimes em afirmarem que não é impossível descobrir nos Evangelhos uma série de fatos e ocorrências que nos levam com bastante segurança a concluir que eles aconteceram durante a vida terrena de Jesus. Essa evidência vem sendo reforçada com a progresso da fé posterior aos Apóstolos.

Jesus de Nazaré, um profeta que falava com autoridade

Uma das coisas que mais deixava boquiabertos os ouvintes de Jesus era sua autoridade.

«As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus ensinava como quem tinha autoridade e não como os doutores da Lei» (Mc 1, 22).

Os profetas anteriores ao Rabi Galileu  simplesmente comentavam as Escrituras ou repetiam ensinamentos já proferidos por outros pregadores. Jesus falava em nome próprio, não comentava simplesmente o Antigo Testamento como os doutores de seu tempo. Ele se colocava acima da Escritura e até modificando-a ou aperfeiçoando-a.  “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos.... Eu porém vos digo...(Mt 5, 21-48).
Normalmente os profetas começavam seus discursos com o refrão: “Assim fala Javé”...; ou “Diz o Senhor”... A linguagem de Jesus é: “Eu vos digo”, ou “Em verdade, em verdade Eu vos digo”.
Não existe intermediário entre o Pai e Jesus como acontecia com os Patriarcas, Profetas e Reis. Todas as situações, questões as mais ambíguas e inesperadas Ele as resolvia. Ele está acima de Abraão, de Salomão, de Jonas. Ele “É o profeta Jesus de Nazaré”. (Mt 21, 11). Ele é “Um dos profetas” (Mc 8, 28).
É conhecido como um Mestre seguido por multidões, chamam-no também de Rabi. Ele mesmo assim se denomina, observando que é o Rabi por excelência e não é como os demais mestres, é o MESTRE. (cf. Mt 23, 10).

Uma maneira especial de falar

Não era só o que dizia que inspirava autoridade, mas também o modo como falava. O encontro com Jesus era sempre algo que fascinava, que mudava a vida das pessoas. Ninguém depois de falar, de se encontrar com Ele permanecia o mesmo. Os demônios fugiam apavorados, os paralíticos se levantavam, os mortos voltavam à vida, os enfermos ficavam curados, as prostitutas mudavam de vida.
Os corações se abriam ou se fechavam. Diante de sua personalidade, os interlocutores chegavam imediatamente à verdade diante de Deus ou de si mesmos. Lia até mesmo os pensamentos. (Mt 9, 14). O Homem de Nazaré contagiava, atraia pelo amor, pela autoridade.

Uma autoridade que não anulava a liberdade de ninguém

O respeito pelas pessoas fazia com que elas permanecessem livres de acolherem ou não seu convite. Exemplos entre tantos são o do jovem rico que saiu triste, mas não foi obrigado a se desfazer de suas riquezas. (Mc 10, 22). O de Judas Iscariotes. Embora Jesus conhecesse seus planos deixou que ele os conduzisse até ao fim. (Mt, 27, 5). Este Jesus continua ainda hoje oferecendo-nos essa liberdade.

O olhar e o silêncio de Jesus

O olhar e o silêncio eram um outros aspectos do Senhor que eletrizavam e conquistavam as pessoas. Impressionante o encontro com a Samaritana. No primeiro momento a mulher quis fugir da abordagem e dirigir o diálogo, mas logo cedeu às intenções do Mestre. O olhar amoroso do Galileu a cativou e mudou sua vida. (Jo 4, 6ss).
O silêncio de Jesus diante de Pilatos agitou-o profundamente. (Mc 15, 15). Por outro lado, não foram as inscrições na areia que afugentaram os que vieram acusar a mulher adúltera, mas o silêncio de Cristo. (cf Jo 8, 2ss).
Nosso encontro com Jesus não nos deixa indiferentes, naturalmente tomamos alguma posição. Sua presença causa discussão, divisão, tomada de posição. É o que vemos em João quando no meio da multidão se discutia se Ele era mesmo o Profeta ou o Messias. (Jo, 7, 40ss). Quando os chefes dos sacerdotes e fariseus perguntaram aos guardas do Templo por que eles não tinham prendido Jesus eles responderam: ninguém jamais falou como este homem. (Jo 7, 46).

O relacionamento de Jesus com o Pai

Os que seguiam o Homem de Nazaré preocupavam-se também por saberem qual a origem da autoridade daquele pregador que atraia multidões por todos os lugares por onde passava. Certa feita discursando em Nazaré, sua terra,  seus coetâneos admirados perguntaram: De onde vem tudo isso? Onde foi que arranjou tanta sabedoria?  E esses milagres que são realizados pelas mãos dele? ( Mc 6, 1ss).
Em outra ocasião  um grupo de sacerdotes e doutores da Lei O submeteu a uma espécie de interrogatório nos seguintes termos: Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para fazê-lo? (Mc, 11, 28).

A origem da autoridade de Jesus

A resposta à pergunta dos sacerdotes e doutores da lei, segundo os Evangelhos vem do PAI. Um dos momentos  mais contundentes, em que notamos esta verdade é quando Ele fala “com” o Pai, mais do que quando fala “do” Pai. Seus momentos de  oração com o Pai são ocasiões em que notamos claramente sua intimidade com Ele. Sobretudo nos momentos de maior contrariedade e sofrimento seu diálogo com Deus torna-se algo de misterioso, incompreensível, como se fossem instantes de transes para uma realidade espiritual que não alcançamos nem entendemos. O Cristo nestas ocasiões transporta-se para outra dimensão que é impossível acompanhá-Lo.

Momentos de profunda solidão

Momentos há na vivência humana do Filho de Deus em que os Evangelhos nos mostram uma grande solidão e tristeza. Ele tem pressa em que a vontade do Pai seja terminada, sua missão seja logo cumprida.
“Eu vim trazer fogo à terra e como gostaria que já estivesse aceso”! (Lc 12, 49). Depois do diálogo com a Samaritana, os discípulos pedem que Ele coma alguma coisa. Eis sua resposta: “ Eu tenho um alimento para comer que vocês não conhecem.... o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar sua obra.” ( Jo 4, 31, 34).

Continuamente unido ao Pai

Nota-se frequentemente que Ele vive em constante união com o Pai: Eu não estou só, porque o Pai está comigo. ( Jo, 16,32). Por vezes, isolava-se dos Apóstolos e sozinho nos montes recolhia-se em diálogo, passando ambos, noites inteiras a sós. Gostaria de saber o que conversavam. (cf Mt 6, 12; 14, 23). Ele e o Pai são Um. Ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar  (Mt 11, 27). Há por conseguinte entre Ele e o Pai algo de secreto, de misterioso. “Algo” que só agora com sua presença entre os homens é revelado aos pequeninos e escondido aos sábios. ( Lc 10, 21). Este segredo que muitos profetas e reis desejaram ver tornará felizes os que o virem e ouvirem.

«Felizes os olhos que vêem os que vos vedes, pois eu digo a vocês que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes e não puderam ver. Quiseram ouvir o que vós ouvis e não puderam ouvir». (Lc 10 23-24).


Seu modo de rezar

 Os Apóstolos e discípulos ficavam impressionados quando O viam rezar. Observavam uma profunda intimidade entre Ele e o Pai, um relacionamento impar, irrepetível. Percebiam que não sabiam orar e por fim, pediram que lhes ensinasse a rezar como Ele: Senhor, ensina-nos a rezar. (Lc 11, 1).
Jesus chama a Deus de Abbá, isto é paizinho, paínho. Como as crianças pedem algo ao paínho terreno, assim também nós devemos nos dirigir ao nosso paizinho do Céu. Coisa impensável até então. Os discípulos, só entenderam o significado da expressão Abbá, após a Páscoa, quando lembrando aquela palavra, concluíram realmente que Deus era seu Pai. Até mesmo os adversários chegaram a concluir escandalizados que Ele via em Deus seu Pai, fazendo-se igual a Ele. (cf Jo 5, 18).
Os episódios do Batismo, de Pedro em Cesaréia de Felipe, da Transfiguração, da Ressurreição, entre outros, são atestados eloqüentes de que o homem Jesus, o Messias era realmente o Filho de Deus.

Conclusão

Concluindo esta reflexão sobre o “rosto humano de Jesus” cito as palavras do pregador Frei Raniero Cantalamessa em um de seus sermões.
 
« Jesus, durante sua existência terrena aparece como um homem dotado de uma extraordinária autoridade. Alguém que mantém com Deus um relacionamento jamais imaginado pelos homens. Alguém que opera milagres e se sente enviado por Deus para cumprir uma missão, (uma missão) que diz respeito a todos os homens, atingindo o nível mais profundo do próprio destino: aquele relacionado com Deus».

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[1] Cesaréia de Filipe ao Sudoeste do monte Hermon. Ao morrer Herodes, o Grande, a cidade ficou nas mãos de seu filho, Herodes Filipe. Este a ampliou e embelezou, chamando-a de Cesaréia de Filipe, para agradar ao imperador Tibério César, e distingui-la da outra Cesaréia, a capital romana na Judéia.

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