II. O missionário salesiano Pe. Lourenço
Giordano
1. Nascimento e caminhada inicial com os
salesianos
Lourenço Giordano nasceu em Ciriè, Turim,
Itália em 11 de julho de 1856. A localidade, hoje com cerca de 20.000 hab.,
situa-se a meio caminho entre Turim e Lanzo. Seus pais eram Estevão Giordano e
Lúcia Gino. Faleceu em 04 de dezembro de 1919, enquanto fazia uma visita
pastoral na Prefeitura Apostólica do Rio Negro, Estado do Amazonas.
Aos 12 anos Giordano ingressa no Colégio salesiano de Lanzo turinês, onde teve como diretor e professor o futuro biógrafo de D. Bosco, P. João Batista Lemoyne. Outro mestre que muito influenciou em sua vida salesiana foi o P. Júlio Barberis. As cartas que P. Giordano escrever-lhe-á do Uruguai e Brasil são plenas de recordações dos tempos de Lanzo. Giordano teve também como companheiro e amigo naquele educandário o clérigo Luiz Lasagna, posteriormente famoso missionário na América e o segundo bispo salesiano. Ambos trabalharão juntos em Villa Colon, Montevideo.
O novo aluno começou a gostar do estilo de
vida encontrado naquela comunidade. Sentiu-se especialmente atraído pela figura
de D. Bosco que frequentemente visitava seus salesianos e os jovens alunos. Os
quatro: P. João Lemoyne, P. Júlio Barberis, P. João Bosco e o aspirante Lorenzo
Giordano, tornaram-se grandes amigos.
No início de 1873 vamos encontrar o filho de
Estevão Giordano no Oratório de Turim, Valdocco. Sob os cuidados diretos de D.
Bosco começa o Noviciado, preparação imediata para a profissão religiosa na
Sociedade salesiana. Após um ano, feitos os exercícios espirituais em Lanzo,
emite os primeiros votos.
Giordano estava com 17 anos, quando surge um
sério problema que vem de encontro à sua vocação. Deveria apresentar-se ao
serviço militar. Que fazer? Enfrentar a dura prova, onde vários outros
estudantes de sua idade já haviam abandonado a vocação, ou retirar-se para
outro país? Deixar Lanzo, parentes, pátria, D. Bosco? Com muito pesar escolheu
a segunda alternativa, mudando-se para a cidade francesa de Nice marítima
(1876). Ali passou a ser professor, assistente de noviços e integrava o Conselho
da Casa. Naquela cidade laureou-se em Agronomia e feitos os estudos teológicos,
ordenou-se em Toulon, aos 21 de dezembro de 1878.
No ano seguinte fará parte da comunidade de
Navarre (escola agrícola francesa fundada no mesmo ano de sua ordenação), onde
exercerá por três anos a função de ecônomo. Os tempos de Navarre serão também
frequentemente recordados nas cartas que escreverá ao P. João Batista Lemoyne e
Júlio Barberis.
2. Na América
Em 1881, o missionário P. Luiz Lasagna[1]
faz uma visita a Navarre. Onde chegava fazia propaganda sobre as missões da
América e convidava voluntários para atravessarem o Atlântico, onde a seara era
imensa e maravilhosa. Seu entusiasmo e magnetismo pessoal sempre cativavam
alguns.
Na época P. L. Lasagna era diretor da primeira comunidade salesiana
fundada (1877) na República Oriental do Uruguai: o Colégio Pio IX de Villa
Colon, em um dos subúrbios da capital oriental. Retornando a América, em
dezembro de ‘81, o antigo mestre de Lanzo chefia a sétima expedição missionária,
da qual faz parte seu ex-discípulo Lourenço[2].
No grupo encontram-se outros jovens que se tornarão famosos missionários do
Continente americano. Entre outros: os clérigos Foglino, Zatti, Albanello e
Massano e o irmão leigo Delpiano. Giordano passará a ser o ecônomo de Villa
Colon.
A segunda presença salesiana no Brasil teve início em 1885 com o Liceu
Coração de Jesus, na cidade de S. Paulo. Desde o final de ’82, o bispo daquela
Província, Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho juntamente com outros cavalheiros,
trabalhavam no sentido de instalarem na capital paulista uma comunidade
salesiana
Pouco mais de dois anos de tratativas e Dom Lino conseguiu realizar seu
sonho. Aos 05 de junho de 1885, primeira sexta-feira do mês, chegavam dois
religiosos à capital paulista para darem início a uma nova obra salesiana. O
diretor nomeado vinha do Uruguai. Chamava-se P. Lourenço Giordano. Estava
acompanhado pelo irmão leigo senhor João Bologna. P. Miguel Borghino, diretor
do Santa Rosa, tivera a delicadeza de ir com eles até S. Paulo. Na Estação do
Norte eram esperados pelo Dr. Saladino de Aguiar, presidente do grupo que
trabalhara para a abertura da obra e pelo Capelão do Mosteiro da Luz, P. João
Batista Gomes.
Uma parte do Colégio, que se chamaria Liceu
Coração de Jesus, já se encontrava em construção. As obras estavam
interrompidas por falta de fundos. O mesmo se diga da Igreja, em parte já
inaugurada por Dom Lino, aos 21 de junho de 1884. O zeloso pastor a havia
dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, bem como em setembro do mesmo ano o fará
com toda sua vasta Diocese, na época compreendida pela Província de S. Paulo,
Paraná e parte de Minas Gerais e Santa Catarina.
P. Giordano se instalou numa casinha alugada,
ali perto, na Alameda Glete. Uma de suas primeiras preocupações foi começar um
oratório que passou a funcionar às quintas e domingos. Ele
dava catecismo aos maiores e o irmão Bologna[3]
ao grupo dos menores. Conta-se que um senhor Cônego ao ver o padre envolvido
nas brincadeiras com os meninos, ficara seriamente escandalizado. Aquilo era um
abuso, onde estava a dignidade da batina? Igualar-se à molecada?!
No ano seguinte começam o Colégio e as Escolas Profissionais. Os
internos são 24. P. L. Giordano tornou-se logo muito popular e querido. Seu
trabalho pastoral envolvia não só o Liceu e arredores como o bairro da Luz, mas
incluía de modo especial as Colônias italianas da redondeza.
P. L. Giordano deixa a direção do Liceu em 1894. Retornando à Itália os
Superiores encarregam-no de abrir a primeira casa do Norte do país, em Recife,
Pernambuco.
Não era fácil iniciar uma nova presença
missionária. Por vezes tinha-se que percorrer um longo caminho cheio de
percalços, mesmo após o início da obra[4].
Ao se instalar no Recife, em dezembro de 1894, o futuro Administrador da Prefeitura
de S. Gabriel da Cachoeira batizou a obra com o nome de Colégio Salesiano do
Sagrado Coração, como aquele de S. Paulo. Fervoroso devoto do S. Coração,
iniciou junto ao estabelecimento um belo e majestoso Santuário a Ele dedicado.
A atividade deste novo líder salesiano no
Norte brasileiro tornou-se, como em todos os lugares onde chegava, rapidamente
conhecida e por todos admirada, muito embora tenha sido obrigado a enfrentar
sérias dificuldades. Um dos problemas era sua saúde, debilitada pelas enfermidades
tropicais. Frequentemente tinha que se ausentar da cidade para passar dias no
campo, na casa do benfeitor Carlos Alberto de Menezes. O grande amigo dos
salesianos abriu as portas de sua residência em Camaragibe para todos os
salesianos do Recife.
P. Giordano de 1900 a 1902 abriu naquela
parte do país quatro comunidades: Liceu Salesiano do Salvador, BA 1900[5];
Escola Agrícola São Sebastião[6]
em Jaboatão, PE 1900, funcionando também como Noviciado; Escola São José da Thebaida,
SE 1902. Naquele mesmo ano os salesianos, a pedido, assumiram ainda a direção
do Orfanato (ou Colégio Orfanológico) São Joaquim no Recife.
P. Paulo Álbera visita o Nordeste do Brasil
em 1901. No ano seguinte, diante do número de obras na região, a Direção Geral
dos SDB em Turim achou por bem fundar uma nova Inspetoria, denominada
Inspetoria do Norte do Brasil. À sua frente foi colocado o Diretor do Colégio
do Recife, P. L. Giordano. Governou-a sábia, ativa e prudentemente até 1911.
Em 1912 a Inspetoria do Norte do Brasil foi
unida à do Sul. O Inspetor passou a ser o P. Pedro Rota. P. L. Giordano foi
nomeado Delegado Inspetorial do Norte do Brasil, vivendo a maior parte do tempo
na Thebaida, Escola Agrícola no interior de Sergipe, a 18 km de Aracaju.
Aproveitava o tempo para escrever e publicar obras de instrução religiosa e
agrícola.
[1] P. Luiz Lasagna, nasceu em Asti (Itália), aos 03 de março
de 1850 e faleceu em Juiz de Fora (Brasil) em 06 de novembro de 1895. Ordenado
sacerdote em 7 de junho de 1873, foi escolhido por D. Bosco para acompanhar a
segunda expedição missionária para a América, em 1877. Primeiro diretor de
Villa Colón, P. Lasagna inaugurou, em 1881 um Observatório Meteorológico que se
tornou famoso até mesmo fora do Uruguai. Os SDB fundaram outros Observatório na
Patagônia e em Punta Arenas. Em 1880 quando se reuniu em Veneza, um Congresso
de geografia presidido por Fernando de Lessep, o cientista pedira a D. Bosco
que encorajasse os Salesianos a desenvolverem as condições meteorológica na
América Latina. Em 1893 o Papa Leão XIII o nomeou P. L. Lasagna Bispo
encarregando-o da evangelização das tribos do Brasil. Amigo do Presidente do
Paraguai restabeleceu com aquela República as relações diplomáticas com a Santa
Sé. Faleceu trágica e misteriosamente (possivelmente uma morte programada pelos
inimigos da Igreja) em um desastre ferroviário em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Este é um tema que merece estudos. Talvez os arquivos maçônicos e ingleses
pudessem esclarecer muito a respeito.D. Lasagna: Luiz Lasagna nasceu em
Montemagno, Italia em 03 de março de 1850. Faleceu em Juiz de Fora, em desastre
ferroviário aos 06 de novembro de 1895. Integrou a segunda expedição
missionária para a América do Sul, em 1876. Em 17 de março de 1893, Leão XIII o
consagrou Bispo. Foi encarregado das Missões do Brasil, por isso mesmo chamado o Bispo dos
índios.
[2] Em
janeiro de ’82, P. L. Giordano escreve a D. Bosco falando sobre esta viagem.
Giordano – Bosco, Villa Colon, 26 de janeiro de 1882.
[3] O
senhor João Bologna trabalhará sempre no Liceu, até 21 de janeiro de 1933,
quando faleceu.
[4] Sabe-se que não foram
poucas as que não conseguiram sobreviver. Na Inspetoria S. Luiz Gonzaga foram
fechadas casas na Thebaida, SE (na Capital sergipana em dois outros locais: Rua
da Aurora e na Rua Pacatuba); em Cajazeiras e Campina Grande PB; em São
Joaquim, PE; e em Baturité no CE.
[5] Em
1900 as casas de Pernambuco (Sagrado Coração), Bahia e a Escola Agrícola de
Jaboatão pertenciam à Inspetoria Venezuelana e Brasil Norte, fundada em 1892,
incluindo-se mais oito comunidades, distribuídas pelas seguintes regiões:
Venezuela (Caracas, Valência e
Curaçao); América do Norte (S.
Francisco e Nova Iorque). O Inspetor era o P. José Lazzero (1837-1910),
Primeiro Conselheiro Profissional do Capítulo Superior. Era ainda o encarregado
da correspondência com os missionários. Jamais visitou as casas de sua
Inspetoria. Acrescente-se também que não gozava de boa saúde, sofrendo de um
mal que se tornou crônico. P. L. Giordano, Vice Inspetor, fazia também o papel
de Inspetor.
[6] Sobre
a história desta fundação vide: LUIZ OLIVEIRA, Escola Agrícola São
Sebastião, 100 Anos 1900 – 2000, EDBAO Bongi, Recife 2000.
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