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terça-feira, 25 de setembro de 2012

P. Lorenzo Giordano - III


Os Franciscanos

Um grupo de Franciscanos desembarcou aos 12 de abril de 1585, na cidade de Olinda em Pernambuco. Traziam as bênçãos do Papa Sixto V, Franciscano, bem como o apoio de Felipe II, rei da Espanha. Tratava-se possivelmente da primeira tentativa de se iniciar uma catequese racional nas terras pernambucanas.

«Introduzidos nos rudimentos da língua nativa, os missionários começaram de imediato com um tipo de seminário para os filhos dos índios convertidos, formando-se aí os futuros catequistas indígenas. Cultivou-se de maneira especial a música , dando-se outrossim realce à comemoração dos mortos no dia de finados, muito a gosto dos índios, quando ofertavam as primícias de suas lavouras»[1].

Os padres fizeram-se presentes na região litorânea em direção ao Norte, até Filipéia de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraiba. Naquele Estado fundaram as aldeias de Almagra, Pirajibe, Mangue, Joane. Em Pernambuco as de Olinda, Igarassu e Goiana. Ao Sul do Recife, Santo Agostinho e Assunção. Nas Alagoas, Porto de Pedras. Orgulhavam-se de serem os primeiros catequistas dos índios daquele Estado.
Em 1614 foi criada a Prefeitura Apostólica da Paraíba, o que motivou a retirada dos Franciscanos em 1619 e a passagem de suas atividades ao clero secular.
A política missionária franciscana tinha por objetivo conservar as culturas indígenas em seu meio, integrando-as posterior e lentamente na civilização. Havia uma série de normas a serem seguidas, compendiadas segundo consta em 1606, no Regulamento para os Missionários. Interessantes algumas das prescrições:

·                Em determinadas aldeias havia obrigação da clausura para os monges;
·                Os impedimentos de consanguinidade só eram dispensados com aprovação do Prelado;
·                Durante as aulas os alunos “estarão de feição que tenham medo e respeito a quem os ensina”;
·                Nenhuma mulher podia apanhar de palmatória de um religioso;
·                Os índios eram proibidos entrar nas celas dos frades;
·                O religioso não devia falar a sós com uma índia. Quando necessário devia fazê-lo na portaria e com um interprete;
·                As aldeias deviam ser visitadas duas vezes por semana, especialmente por causa dos doentes;
·                Os religiosos não dêem palpites com respeito aos salários estipulados entre índios e brancos;
·                Da Septuagésima até à Páscoa os índios não poderão trabalhar, além de oito dias. Isso “por respeito à doutrina e confissão[2].

Todas as aldeias das Missões tinham seu Regimento.
O diretor geral dos índios da Província de S. Paulo, José Arouche de Toledo Rendon afirma que o supramencionado Regimento fora estabelecido pelo Capítulo Provincial dos Franciscanos celebrado em 13 de agosto de 1745 no Rio de Janeiro. Continha normas gerais referentes ao governo das aldeias franciscanas.
Pode-se afirmar, que os três séculos da presença colonial portuguesa no Brasil caracterizaram-se pela presença quase constante dos filhos de S. Francisco (OFM). A atividade e o modo como faziam catequese entre os brasílicos tornou-se famosa, atraindo até mesmo a simpatia do bispo de Cabo Verde, que procurou empregar o mesmo método com os nativos de sua diocese.
Ao terminar o século XVII, diversas eram as Ordens religiosas presentes na Amazônia. Suas atividades eram por vezes pontilhadas de problemas. Porfiando-se entre si, cada grupo procurava conquistar o maior número possível de silvícolas. Deste modo poderiam atrair para si sempre mais as graças de Sua Majestade, a quem prestavam serviços.
Tentando amainar os conflitos foi promulgada um Carta Régia em 19/03/1693, pela qual os Jesuítas ficariam com o Sul da Amazônia, enquanto que aos Franciscanos e Religiosos da Piedade era entregue o Norte do Rio Amazonas. Os Mercedários e Carmelitas apresentavam problemas semelhantes. A situação deles foi regulada com outro Documento Régio de 29 de novembro de 1694.

Os Carmelitas

Fazemos uma menção especial aos Carmelitas, desbravadores e conquistadores da Amazônia Ocidental. Vamos encontrá-los na Bahia em 1581. No Rio Negro em 1695, fundando em 1710 as missões do Solimões. Fato ligado aos Salesianos é que foram os Carmelitas que em 1725, galgando as corredeiras do Rio Branco[3] e subindo o Rio Negro, iniciaram as missões do Rio Uaupés, posteriormente entregues aos filhos de D. Bosco. As regiões, onde hoje se encontram Tabatinga e Benjamin Constant, na fronteira com a Colômbia e Peru, eram inicialmente missões pertencentes aos espanhóis padres Samuel Fritz e João Batista Sana. Depois que estes deixaram a área, os Carmelitas ocuparam-na. Vamos encontrá-los em Mariuá, onde fundaram a primeira escola para os filhos dos indígenas. Mariuá, cujo nome foi trocado por Barcelos, por imposição pombalina, é hoje uma das missões salesianas do Rio Negro.

Os Carmelitas,

«contrariando a Provisão de 12 de setembro de 1727 da Metrópole falavam e divulgavam os linguajares indígenas, nomeadamente a língua-geral ou nheêngatu amazonense. Frustraram decididamente a acção dos sertanistas que, gananciosos, só visavam à destruição das culturas autóctones»[4].

Não se pode negar o papel destes homens naquela parte da Amazônia. Eles tomaram decididamente a direção dos Andes. Ali a Cruz conquistou pacificamente mais território, integrado posteriormente ao Brasil, que as “expedições militares, assinaladas com sangue e negativas na civilização dos selvagens”[5].
Além dos já mencionados, existem pregadores da fé também em outras regiões. No Maranhão em 1612 chegaram os Capuchinhos, juntamente com os conquistadores franceses. Os Mercedários aportaram no Pará em 1640 e os Oratorianos em 1662.
Não podemos deixar de assinalar a presença dos Protestantes. Seus pastores atuaram no Rio de Janeiro e no Nordeste, através da pregação calvinista de orientação francesa ou holandesa. Na Bahia da Guanabara permaneceram apenas um ano (1557 – 1558). Mesmo assim, P. Manuel da Nóbrega queixa-se da disseminação que fizeram da heresia de Calvino entre os índios.
Nos Estados nordestinos a atuação holandesa foi mais acentuada. Ali permaneceram cerca de 24 anos (1630 – 1654), sendo admirados por certa parte da população. Sua influência econômica e social chegou a ser visível. A bela ponte Maurício de Nassau construída sobre o Capibaribe, no Recife é um dos monumentos deixados por eles na região.
Os companheiros do Príncipe Nasssau tiveram alguns problemas para transmitir suas idéias. Entre eles o idioma e a rigidez extremista da Reforma religiosa que pregavam. Houve no entanto, verdadeiras conversões como a do potiguar Pedro Poty[6], da Baía da Traição.

«Alguma facilidade de que gozaram os calvinistas na catequese aos silvícolas desde a Bahia até à Paraíba, encontrou apoio na antipatia ou mesmo num certo ódio que as populações indígenas votavam aos portugueses pelos seus sistemas produtivos baseados na mão de obra escrava»[7].




[1] Idem, p 28.
[2] WILLEKE 1974: 77-78. Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa, Santo Antônio dos Capuchos, maço 18, n. 26, fl. 2v-3v.
[3] O Rio Branco, corta a cidade de Boa Vista (Roraima), afluente da margem esquerda do Rio Negro é seu segundo maior tributário, depois do rio Uaupés, este também chamado pelos índios rio Caiari.
[4] Centro de..., CÉSAR, Catequese/75, p 36.
[5] Centro de ..., CÉSAR, Catequese/75, p 35.
[6] Vencidos os holandeses Pedro Poty foi enviado prisioneiro a Portugal. Durante o julgamento pela Inquisição, apesar de todas as ameaças manteve-se fiel à sua fé calvinista. «Sou cristão e melhor do que vós; creio em Cristo sem macular a religião com a idolatria...Aprendi a religião cristã e a pratico diariamente» (CDB).
[7] Centro de …, CÉSAR, Catequese/75, p39.

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